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SOBRE ABUSOS E COMPORTAMENTOS DITOS ESPIRITUAIS  E INADEQUADOS

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 Fiz o comentário abaixo na página do programa Conversa com Bial, que entrevista mulheres abusadas pelo curador João de Deus, porque considero um questionamento pertinente no momento em que vivemos. Muitas mulheres e pessoas vulneráveis sofrem violências e abusos de poder de muitos tipos. É um tema candente porque envolve questões sobre a espiritualidade e que está traçando novos parâmetros coletivos, não sendo portanto um caso isolado.

Apesar da espiritualidade em última instância se constituir uma questão individual, não necessariamente religiosa, ela pode ocorrer, às vezes, em processos massivos que tragam práticas inadequadas e abusivas. Parte das pessoas abusadas, a maioria delas mulheres, em uma espiritualidade masculina, na cultura patriarcal, necessitam se resguardar dessas ditas práticas espirituais, que podem gerar conseqüências mais graves à sua saúde e integridade pessoal.

"Acho muito relevante esse programa que denuncia as formas como mulheres são tratadas em relações ditas espirituais. É de muita coragem e acho que coloca o pé na bola em época em que essas relações abusivas estão vindo à tona e parece claro que há uma tônica masculina desviada, animalesca, não trabalhada, machista, sexista, que subentende que a mulher deve cumprir instintos, desvios, abusos e doenças de homens mal curados.

A espiritualidade se degenera com essas ações abusivas, que têm as máscaras caídas, nas várias religiões. Não é o fato de ser cristão ou não cristão o que motiva a ocorrência, mas o fato de ser humano, fazer parte de uma cultura patriarcal e possuir uma compulsão que leva a pessoa ao abuso. Sabemos pela mídia e noticiários que a Igreja católica é campeã de abusos, porque houve uma ação de descoberta e denúncias. Provavelmente em outras existem também e os gurus estão aos poucos mostrando que não são muito confiáveis. O que está como pano de fundo é uma espiritualidade masculina, misógina, feita através de homens, "que acham que têm direitos como homem" e que utilizam para suas finalidades pouco santas e doentias as pessoas mais vulneráveis.

Dizer que as pessoas não devem seguir gurus, mestres, religiões e outros tantos não é suficiente, porque as pessoas perdidas em crises buscam a espiritualidade como forma de centramento, como forma de cura das muitas doenças que as fragmentações trazem. Então há nesta época de caída de máscaras todo esse tipo de abuso religioso. De alguma forma a questão enseja outros temas que é a questão da "integridade pessoal" e da "espiritualidade", como uma emergência dos tempos atuais, que não é necessariamente religião, mas a retomada do ser humano em outro patamar de existência.

A busca existe porque as pessoas necessitam, estão desesperadas e as religiões e a cultura patriarcal não lhes dão direito a isso. Como as muito afetadas são as mulheres, que entram em crise mais facilmente, porque estão em processo de profundas transformações e na busca de sua integridade pessoal, são as mais afetadas. Sem levar em conta que a espiritualidade feminina foi varrida do planeta, da história e agora é necessária para entender e realizar esses aspectos, mal realizados em homens e mulheres.

 É necessário reter que alguém que abusa de outro ou outra não é íntegro e tem uma necessidade compulsiva, que precisa ser compensada. Para essa pessoa, ainda que cometa os abusos de forma oculta e mascarada, acha legítimo o seu desejo e o justifica. Isso ocorre em muitas esferas em que há abuso de poder, mas está se desvelando o manto que recobre isso na espiritualidade e suas várias configurações religiosas. Tanto que existem hoje muitos mestres espirituais dizendo e insistindo que dê o outro lado da face, que ninguém deve revidar a abusos, tem que aceitar, que não existe diferença entre bem e mal. Sabe-se que psicologicamente alguém que não tem condições psico-emocionais e amplitude para compreender e assimilar os "abusos de qualquer ordem" à sua integridade pessoal se volta contra si mesmo, adoecendo, tendo síndrome de pânico e até mesmo tentando o suicídio. Quando esses abusos à integridade pessoal ocorrem nesse nível espiritual é pior ainda.

Então, essas questões para não ficar somente na denúncia, que exige também grande sacrifício das mulheres que o fazem, deveriam ser trabalhadas como um tema de debate sobre a etiologia e não legitimidade dos abusos. Está claro que as mulheres hoje em dia, porque recrudescem esses abusos, são muito afetadas e vitimadas, quando os mesmos deveriam ser práticas reconhecidamente erradas, que têm que acabar.

Essas práticas abusivas à descoberta são o canto do cisne de uma cultura humana patriarcal, desviada da integridade pessoal, que prejudica muitas pessoas. O abuso tem que ser mostrado em todas as suas tendências, como algo errado, porque afeta a integridade das pessoas e em geral são feitos com as pessoas em estado de fragilidade e sem condições de reagir.

Quanto mais se debata esse tema, sob diversos aspectos, as mulheres e pessoas vulneráveis poderão tomar conhecimento das questões centrais que envolvem essas práticas e poderão se defender. Além disso, para algumas pessoas que consigam, porque em geral o abusador(a) não reconhece o abuso, ou seu erro, poderão buscar tratamento para sua compulsão.

 Derrubando as máscaras e o silêncio torna-se mais fácil o assunto vir à tona e ser trabalhado. Como é uma questão social, cultural e coletiva programas de mídia, como o Conversa com o Bial, que aqui e ali se disponham a trabalhar o tema são de suma importância. Nós, as mulheres, as pessoas sérias que lidam com processos de transformação agradecem a atitude clara e honesta de anunciar esses problemas. Estou certa de que assim como o DEUS do curador quis as curas, também quer a resolução desses abusos, que como o curador diz são humanos. A integridade sempre busca e providencia a integridade."



 

Verônica Maria Mapurunga de Miranda

  Dia  09.12.2018

 dezembro /2018

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