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            A Corrupção Nossa de Cada Dia

O tema palpitante do momento e acho que até preferido é a corrupção. E parece que mais interessante se torna quando se trata de acusar governos, pessoas com cargos ou algum poder que se localiza lá fora, ou que não tem nada, especificamente nenhuma relação com o pessoal. Além disso, é a corrupção do dinheiro, do dinheiro público.

Em 2005 escrevi um artigo sobre esse mesmo tema, na época da explosão do fatídico “mensalão”. E em vários jornais e artigos na internet a etimologia da palavra corrupto veio à tona : um dos significados etimológicos da palavra corrupto é ter o coração rompido (cor=coração e ruptus=rompido). Nessa significação o dinheiro deixa de ser o principal, para ser um dos elementos que compõe o tema. Pois na verdade, podemos ter o coração rompido em suas cordas, em sua harmonia, por outros motivos, naquilo pelo qual o ser humano vende sua integridade, sua dignidade, e faz dano a alguém em seu próprio proveito e interesse, desprezando o outro que é alguém de sua espécie, concidadão e criatura do universo. Poderíamos dizer profundamente que ter o coração rompido é ter rompido com uma ética fundamental e primária ou "primigênia", se é que podemos falar assim, com o outro ser humano, por abusar, extorquir, tirar seu direito e se aproveitar de situações em que de alguma forma se pode exercer o poder.

E essa corrupção acontece todo dia, e quanto mais leniente e conivente é uma sociedade e cultura, mais essa corrupção se estabelece. E ela é a base e o esteio para que qualquer outra corrupção mais ampla e generalizada ocorra. No Brasil e principalmente no Brasil interior o que me chama a atenção é como por costume se  protegem aqueles que infringem direitos básicos das pessoas, que  cometem abusos, extorsões e coisas do tipo. Algumas vezes essa pessoas passam de criminosos que são, de pessoas que cometem delitos à vítimas, a situação se reverte. A leniência e conivência leva a essas situações que são de fato situações de corrupção, degeneração e a ocorrência de inumeráveis erros em sequência, porque sempre há alguma asa amiga ou poderosa que protege o corrupto. O que as pessoas esquecem é que o cúmplice e protetor do corrupto, daquele que vende sua integridade para fazer dano ou tirar proveito e o direito de alguém, é tão corrupto ou responsável pelo ato corrupto quanto ele.

E assim, nós temos situações que poderiam não se repetir se a pessoa que comete um erro, que infringe direitos e prejudica pessoas não tivesse esse apoio indevido e pudesse  internalizar o erro ou corrupção cometida. Recentemente acompanhando o caso Abdelmassih, o médico que abusava sexualmente de mulheres em meio aos procedimentos médicos de fertilização, fiquei sabendo que em algumas clínicas que as mulheres abusadas procuravam depois para se tratarem, alguns profissionais de saúde  já sabiam o que ocorria na clínica dele. Mas, as mulheres abusadas não podiam contar com eles para ir ao Conselho de Medicina. De fato, essa era uma forma de conivência e leniência com um mal terrível, com um poderoso agente corruptor, que o protegia, já que uma denúncia de médicos poderia ajudar a provar o abuso por que tinham passado essas mulheres e evitar novas vítimas impedindo-o de continuar clinicando.

Infelizmente, essas ocorrências são muitas e em várias áreas no Brasil, onde o poder econômico, o corporativismo e espírito de corpo ou simplesmente  o descaso com o cumprimento do direito de cidadãos e cidadãs transforma a corrupção em uma “corrupção nossa de cada dia”. E não há forma de mudar essa situação, se não se começar no Brasil as ações de cidadania e emancipação da população, denunciando cada vez mais essas corrupções pequenas, os abusos de poder, de categorias e daqueles que acham que podem continuar cometendo delitos e infringindo direitos porque tem ali na esquina um protetor político, da categoria ou de outro tipo.

É necessário não ser conivente e leniente com a corrupção de cada dia que se faz com os outros, porque no dia seguinte a vítima pode ser você. Quando se cria um ambiente corrupto, que degenera porque você é cúmplice de todas as infrações com os direitos de outrem, você está criando um ambiente ruim para si e para os seus. Para ser boa, a moral e o respeito começam de casa. Quando você não cuida não pode exigir que os governos e administrações públicas o façam. Vamos das pequenas às grandes corrupções. O que é público somos nós que ajudamos a construir. E o público verdadeiro é o resultado do respeito ao direito de todos.

Corrupção nossa de cada dia... Não ajudai hoje e não perdoai aquilo que fere os direitos fundamentais das pessoas.

- SOBRE A REFORMA DAS DUAS PRAÇAS EM VIÇOSA - 08.06.2014

       Verônica Maria Mapurunga de Miranda

  Dia 30

Outubro de 2014

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