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De onde vem mesmo essa luz?

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   Revendo uma pequena croniblog sobre pessoas diamantes que escrevi tempos atrás* (vide em link abaixo) recordei essa necessidade que pode ser necessidade para muitos de irradiar sua própria luz. No ano  em que  para a maioria dos espiritualistas é o ano do propósito e da coerência que nos exige de alguma forma, e considerando o processo de cada um, a busca dessa claridade, dessa luz, desse diamante, enquanto propósito aqui no nosso lugar.

Muitas vezes pensamos que a luz é somente para os "iluminados", pessoas que atingindo uma determinada etapa de consciência e tendo levado a sua expansão ás últimas conseqüências terão essa experiência de luz. De fato, os caminhos da iluminação sempre foram "estreitos", difíceis. E agora em nosso planeta, em meio de intensas crises onde vivemos as polaridades, eis que a idéia da luz permeia os conflitos, as violências, as guerras, a escuridão de momentos conturbados, e a luz aparece como a espada de Stars Wars que venceria uma guerra que nos assola a todos como humanidade.

Eu sinceramente gosto muito mais da palavra radiância, não sei se porque parece algo mais acessível e em princípio muitos poderiam vivenciá-la, ou porque é algo que está em nós e como um diamante brilha, mesmo na escuridão e nos faz mostrar o que temos de propósito e objetivos por aqui. A idéia de que simplesmente podemos irradiar e que portamos uma luz, a luz possível que é o nosso sol brilhando e dirigindo nossas vidas. Essa radiância do que somos e portamos com certeza modificaria nossas vidas e ajudaria a transformar nossos "alrededores" para a paz, o amor e a vida. Favoreceria esse encontro conosco e nos tornaria pontes que precisamos ser interna e externamente.

É certo que essa radiância ou esse diamante interno é encontrado muitas vezes em lugares insuspeitos. E eu me pergunto se vivendo assim, algumas pessoas têm consciência do que portam ou do que irradiam. E se esse estado, apesar de muitos o buscarem  diligentemente é um estado de inocência que se chega e não se busca.

Uma vez fui surpreendida em uma comunidade agrária onde realizava uma pesquisa. Fazia uma entrevista na casa de uma família. O dono da casa era pescador e agricultor. A conversa se estendia porque ele tinha um conhecimento muito vasto daquele lugar, sua formação, das relações de trabalho, das relações com a natureza e era uma conversa muito agradável. Ele era uma pessoa muito calma, cordial e expansiva ao mesmo tempo.

Perguntei por sua esposa e ele disse que ela viria em seguida porque estava em alguns afazeres domésticos. De repente ela veio à sala, local da entrevista. E surpresa tive a sensação de que a sala se iluminava. A mulher tinha um sorriso de sol, modificava todo o ambiente. Era uma radiação que dava para entender, logo que conheci também suas filhas, a felicidade que unia aquela família.

Na sociedade em que vivemos, ela era considerada apenas uma mãe de família, mas de fato ela era muito mais. Aquela radiação, aquele sol que ela portava a fazia cumprir um papel muito importante em sua família e por onde passava. Ela não era guru, não era uma sacerdotisa, não era pessoa importante da cidade, não tinha destaque, mas estava bem e ao que  parece cumprindo sua missão, irradiando por onde passava. Saí dali entendendo isso e sentindo isso, pois foi o que sua irradiação me passou.

É talvez dessa iluminação ou irradiação  que em geral necessitamos, que pode nos levar á paz, ao amor, a sentir que fazemos aquilo para o qual viemos, a sentir a unidade em todas as diferenças que vivenciamos e para a qual somos requisitados a nos tornar sempre pontes, apesar de todas as dificuldades e desafios.

Pergunto se realmente seria necessário nos tornar uma legião de buscadores, por caminhos áridos e difíceis, para chegar a essa fonte doadora de vida e poder irradiar aquilo que somos? De onde vem mesmo essa luz?

Há uns tempos atrás lendo o projeto Atman de Ken Wilber, ele colocava a roda da evolução,  e da possibilidade de  se  chegar ao ponto mais alto de evolução do ser humano (chamando isso de Projeto Atman), e o explicava através do que ele chamava de arco de fora e arco de dentro. O primeiro relativo ao nascimento até o amadurecimento do ser humano e o segundo da entrada do ser humano no mundo sutil, transego e além do físico.  Dois conceitos ele tomou de Freud em sua análise do amadurecimento humano para explicar a mudança de níveis de consciência no (arco de fora) e até o sutil (arco de dentro), que são os conceitos de incesto e castração. Para ele, assim como para Freud passamos por vários processos onde o incesto, que é o amor erótico (de Eros) para entronizar a criança e depois o adulto em sua nova fase de vida  e a castração que em outras palavras é a frustração daquele nível, o que o caracteriza, para poder acceder a um outro nível de amadurecimento e consciência.

Ele deixou de lado os arquétipos trabalhados por Jung, por não considerá-los importantes nessa análise e por considerar que os níveis sutis se desdobram de outros lugares e não passam pela mediação dos arquétipos. Na minha humilde opinião, que não precisa ser igual a dele, que tem por base uma tradição filosófica também budista, nós principalmente americanos de outras tradições e por elas influenciados necessitamos dos arquétipos sim, como mediação e possibilidades nesses processos. Eles são como órgãos da nossa psique.

Não quero negar a riqueza dessa interpretação de que há na mudança da cada nível da consciência o "incesto e a castração", assim como existe o medo de se sair de algo que se pensa conhecido para algo difícil de traduzir, principalmente quando o lugar para onde você muda já está além do pessoal e da cultura e que aparece como morte. Se você não tem um mestre ou guiança real, você tem um mestre interior e de qualquer forma esses dois processos têm que ser vivenciados. Quando há acompanhamento por terapeutas isso é entendido como um processo de transferência. De fato em um dado nível, espiritual, não somente emocional e psicológico é muito mais que isso.

Sinceramente o que penso seja mais difícil fazer nesse processo é manter o equilíbrio entre incesto e castração. E essa dificuldade é por vivermos em sociedades e culturas, no caso a ocidental, com pouco amor ou sem amor. Muitas vezes, apesar de se insistir no drama edípico a pessoa não tem "incesto" real, enquanto ele for considerado a quantidade de amor necessária para se vivenciar ou esgotar as possibilidades de um dado nível de amadurecimento emocional-afetivo. Na concepção de Winnicott algumas pessoas não teriam o espelhamento necessário desde que nascem e, portanto, teriam um self fragmentado. Que é também estudado no caso do "Puer Eternus" ou a pessoa que por essa fragmentação do self pessoal teria dificuldade de amadurecer. E essa recuperação do self,  quando possível, é extremamente difícil. Não por acaso Freud escreveu sobre o mal estar da civilização e sobre o narcisismo. O narcisismo nessa concepção é ausência de amor e eu diria de irradiação do nosso próprio sol.

Aonde quero chegar, portanto, é que quando alguém ou buscador espiritual chega a um determinado nível de sua evolução e essa questão é descompensada, ou não há amor suficiente, e isso é muito mais comum do que se pensa, ele não pode avançar. Não adianta somente paulada, dedo acusador, convite para se derrubar máscaras ou véus e coisas do gênero.  Conhecer demais suas mazelas e a de outros, ou outrem, sem amor e sem compaixão é muito amargo. Desvelar seu núcleo de amor, reencontrar o que foi perdido ou não desenvolvido  pode ser feito também com amor e compaixão. Já vivemos muita castração, seja na falta de amor na família, na falta de amor na cultura. Temos uma cultura de castração. É necessário, mais que um dedo acusador,  uma palavra mais mansa, mais doce, mais amorosa. Existem gestos amorosos, suaves, muitas vezes sem nenhuma pretensão, e existem irradiações capazes de fazer alguém dar saltos em seu desenvolvimento.

São detalhes tão pequenos, mas importantes, que nos fazem dar saltos, dançar e irradiar. O amor tudo pode...

Veja Croniblog do ano de 2007.

* OS DIAMANTES SÃO ETERNOS.

http://www.veronicammiranda.com.br/cronibloggh.htm

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Verônica Maria Mapurunga de Miranda

  Dia  26.05.2017

Maio de 2017

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