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Das Tradições e Histórias: O feijão nosso de cada dia
 

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  Neste ano, aproveitando as águas da quadra invernosa e aproveitando a limpa do mato que crescia no quintal de minha casa, plantei feijão e milho. E logo que começou a produção fazia  um pouco da colheita todos os dias. E  foi interessante fazê-lo, acompanhada ao longe por uma interessante menina chamada Yara (por sinal Deusa das Águas) que da janela de seu apartamento se comunicava, supervisionava e ainda vigiava minha pequena roça. Foi um período de águas.

Uma experiência interessante que evocou em mim velhas tradições e histórias da pequena cidade em que nasci (Viçosa do Ceará), que tinha hábitos rurais em minha infância,  enquanto colhia e debulhava o feijão. Cheguei a fazer um comentário dessas lembranças em uma página de arteterapia e psicologia, que repasso agora:

 "Acho que tem pessoas que sabem contar histórias, outras criam histórias e existem as interpretações diferentes das histórias. Mas, eu acho que incrível era uma tradição que existia nas pequenas cidades e zona rural de se reunir para fazer pequenas coisas e ter uma rotina de contar histórias. Nessas sociedades não se falava de psicólogo, não existia. Mas as histórias tinham um lugar cativo, por exemplo, na época em que todos dos lugarejos recebiam de seus sítios o feijão, ainda na vagem e sentavam-se em família e, ás vezes, até com os vizinhos para debulhar o feijão e saíam muitas histórias interessantes. Uma vez conversando com as pessoas da pequena cidade em que nasci e elas relembravam que quando terminavam de debulhar o feijão, com os vizinhos convidados, o feijão era partilhado. E no fim o que era mais importante nessas rotinas não era realmente o feijão, mas o tempo que se distraíam, riam, trocavam histórias, uma verdadeira terapia e que mantinham alguns valores importantes de solidariedade, do partilhamento, da boa vizinhança e de rememorar histórias antigas que se perdiam com o tempo.

Lembro que em casa e enquanto debulhávamos o feijão, que vinha do sitio do meu pai, ele nos contava histórias de animais, como o bode e a onça, o macaco que driblava a todos com sua esperteza, a festa do céu, o casamento da raposa e algumas fábulas, que depois se descobria que eram as fábulas de Esopo, histórias recontadas em romances de cordel que tinham Decameron pelo meio e ás vezes outras histórias que vinham dos mistérios da Amazônia. Sempre havia um parente que viajou para a Amazônia na época do boom da borracha e traziam histórias fantásticas. Contar histórias, hoje se sabe, era algo da tradição indígena e que era muito forte em  nossa cultura. O mundo imaginal era muito nutrido e provavelmente nos livrava de muitas neuroses. As histórias eram parte do cotidiano"

 Há poucos dias, no Banco enquanto esperava, com um grupo de pessoas da zona rural e parentes, começamos a rememorar esses fatos. E eles lamentaram muito  que houvesse acabado a animação da debulha do feijão. Hoje ainda havia em poucas casas, mas somente com a família. Faziam convites para a debulha, mas as pessoas já não iam, e quando iam levavam o smartphone e não havia mais histórias. Todos concentrados nos celulares.

Eu, na cidade, sinceramente não ousei convidar alguém. Acabei tirando uma selfie com o feijão, na debulha. Rss...Rss...Coisas da "modernage", como diria o menestrel Elomar. Veja acima.

Verônica Maria Mapurunga de Miranda

  Dia  17.07.2018

 julho /2018

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