FACEBLOG                          

INÍCIO

 Curtas do Face

---------------------------------------------------

ARQUIVOS

O

Humor cinza...Para colorir vidas.

------------------------------

   O tema veio de forma recorrente. Tentei evitar por reverência à morte e aos ritos de passagem. No fim apareceu a idéia de que a vida pode ser leve, mesmo que às vezes pareça humor negro. Ia colocar humor negro aí veio a história do patrulhamento, por que negro e não branco? E decidi colocar humor cinza, porque se os patrulhadores disserem: mas cinza tem negro, eu responderia mas também tem branco.

Resolvido o primeiro embate vamos a questão em pauta. Delicada, porque era uma morte e havia sofrimento, mas havia a convicção de que tudo se fazia para uma continuidade, sabendo que um ciclo se encerrara. Nada foi por acaso. Resolvera, então, convidar pessoas que o conheciam e poderiam naquele sétimo dia, em uma outra visão, fazer aquele encontro da visita de cova. Um encontro, porque foi uma cerimônia dirigida por alguém que entendia o que a alma passava naqueles momentos e poderia querer uma conversa franca ou o reconto de seus dias além do "Eu pecador" e das rezas de praxe.

Cantaram hinos que colocavam uma semente de uma nova vida lá e cá. Era necessário se desapegar e partir. Cada um falou sobre ele com sentimento e com a emoção do momento, refazendo os caminhos, as trajetórias e aquilo que em cada um o definia. A separação entre os dois mundos era tão tênue que a pessoa que dirigia a cerimônia, na frente da capelinha no cemitério, abriu a roda para todos que ali estavam a escutar, com certeza. E disse para a pessoa que distribuía os hinos: Pode distribuir o hino para todos os que estão nos escutando, mas estão invisíveis. (rss...)

Houve a convicção por parte de todos que aquele era um ato incomum, mas como disse o mestre da cerimônia, se assim fosse realizada mais vezes essas visitas de cova, os que aí estavam teriam essa passagem mais compreendida. Os que lá estavam despertados de algum lugar para assistir, com certeza aproveitavam esse momento e de tudo o que ali se falou sobre a vida,  a morte, a passagem, a vida eterna.

E depois que todos falaram, ela enfim contrita relembrou tudo que viveram, do companheirismo, das ações realizadas juntos e da longa aprendizagem, na via do amor. E como essa, de longe, teria sido sua maior aprendizagem.  Lembrou dos últimos momentos, de sua enfermidade, não como a dificuldade ou como o sofrimento, mas como um estágio nessa via amorosa em que  teve que se entregar e se doar. E como aquilo a fez crescer, se expandir!  Teve consciência naquele momento que ele estivera sempre em sua vida para isso: para fazê-la crescer e amar. Ali, com certeza tinha uma explicação maior para a vida, a morte, a separação e o coração estava em paz.

Naquele momento nada, de tudo que lhe ocorreu, nem mesmo as dívidas que ficaram, nem mesmo sua condição financeira, nem mesmo sua saída do mercado de trabalho, tudo que parecia material e urgente tinha se perdido nesse objetivo maior e expansivo...Mas enquanto falava em todas as perdas que iam junto com a perda maior de sua pessoa, materialmente falando, o mestre da cerimônia crescia os olhos e, parece que fincando os pés no chão, disse abruptamente: "Você está é lascada!" Lembrando agora faz rir.

Depois de um tempo e com esse vaticínio ela percebeu mesmo que qualquer ajuda faz falta. Humor cinza rss...rss. É necessário morrer e viver, para ver e crer.

------------------------------------------------

"O por do sol vai renovar, brilhar de novo o seu sorriso
E libertar da areia preta e do arco-íris cor de sangue, cor de sangue, cor de sangue ..." (Luis melodia)

-----------------------------------------------------------------------                  Verônica Maria Mapurunga de Miranda

  Dia  09.07.2017

julho de 2017

VOLTAR