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Rubens, O Boquinha

Quando alguns amigos e amigas Viçosenses que marcaram e fizeram parte de nossas infâncias e adolescências e vidas adultas, considerando as diásporas que vivemos, faleceram fiquei sem palavras. Talvez ainda tenha oportunidade de um dia falar sobre vários deles e delas. Hoje abro uma pequena exceção para falar de Rubens, O Boquinha. Foi assim que eu o chamei durante muito tempo e ele também a mim. Um apelido mútuo para lembrar a alegria quando nos encontrávamos. Há uns bons tempos atrás havia uma propaganda de TV onde dois amigos se encontravam e diziam exultantes: Olá Boquinha ! A  propaganda era uma piada e ficou como um momento de encontro alegre. Por bastante tempo nos cumprimentamos assim.

  Apelidava todo mundo, como um carimbo carinhoso e por isso os apelidos voltavam : chamavam-no “Abençoado” porque assim tratava as pessoas e também de “Fubica”. Duas pessoas sempre apareciam na casa de meus pais na hora de maior aperreio e necessidade: Caldas Filho e Rubens. Estavam ali para ajudar.  No meio de tantas querelas políticas na cidade, onde minha família de alguma forma fazia parte, nunca me fez nenhuma menção a isso durante os nossos encontros. No seu último aniversário, no meio dos festejos houve muita emoção, um momento onde foi possível recordar esses bons momentos.

  Sua casa  sempre aberta a todos, desde a época em que a TV chegou em Viçosa, onde ele transformou a casa em uma sala de cine para que todos que não tivessem TV pudessem assisti-la. Essa abertura para todas as pessoas, independente de sua condição social em uma cidade que guardou muitos preconceitos me faziam aproximá-lo de meu pai –Alfredo Miranda - na mesma receptividade e como característica de pessoas que compartilhavam um antigo convívio e receptividade típicas de Viçosa do Ceará em tempos atrás.

 E sobre isso nunca cansou de me falar, em várias ocasiões, de sua história de menino que era arrieiro, ou seja, ajudante de pessoas que transportavam cargas em burros e jumentos. Nas casas das famílias consideradas “poderosas” no sertão ele não tinha permissão de entrar por ser um arrieiro. Só entrava se fosse convidado pelo dono da casa. Ele ria dizendo que ninguém poderia imaginar que muito tempo depois ele seria prefeito da cidade e que ele faria parte dessas famílias.  No clube da cidade todos dos anos 60 e 70 do século passado lembramos dos seus shows de dança, xotes muito especiais e dos momentos que ele parava a festa caindo no chão como se tivesse um ataque. Era uma “pegadinha”. Depois todos voltavam ao salão para dançar morrendo de rir. Suas piadas, brincadeiras e receptividade nunca deixaram de existir.

  Escrevo também para lembrar e, talvez isto tenha me impulsionado a escrever, que ele tinha e deve continuar tendo um grande coração. E isso é o que vale nesses momentos de passagem. Creio, e muitas pessoas já concordaram comigo, que ele está sendo recebido com festas em um lugar pelos amigos como Zé Músico, Toinho Nicolau, Alfredo Miranda, Caldas Filho, Juca Fontenele, Clovis e Julita Mapurunga e vamos colocar muitas reticências porque a lista é grande. Marcaram época juntos e agora lá e até no nosso imaginário podem comemorar sem arestas. Boa passagem! Até mais quando pudermos nos encontrar e dizer : Olá Boquinha!

    Verônica Maria Mapurunga de Miranda

  Dia 16

Abril de 2015

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