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 Deus me livre de amor crucificado!

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   O tempo de Jesus crucificado foi há dois mil anos atrás, mas há ainda quem de forma arquetípica busque alguém para pagar pelos seus “pecados” ou os “pecados” da humanidade.

 Não creio e nem aceito que seja de Deus, nem divino, e muito menos do Amor palavras que dizem para se aceitar a indignidade, a infâmia, a violência, a monstruosidade.

 Para mim quem compactua com isso e com essas expressões sombrias é cúmplice. Faz parte daquilo que vitimiza e maltrata.

 Ninguém tem que carregar carga de outro ou outros, as cargas de cada um já são mais que suficientes para alguém carregar. Passando disso exorbita os limites de cada um.

O pensamento que busca alguém para carregar a sombra do mundo é de uma passividade que não cumpre o que é necessário nos dias atuais. Além disso, são idéias que em última instância servem para ser ventiladas para outros, nunca para si. Quando é o outro quem tem que carregar a carga é leve para quem só fala. E, sobretudo, é injusto.

Mas, há religiões, pensamentos e ideários que não usam a palavra “justiça” e muito menos “injustiça”. Como se ela não fizesse parte historicamente, arquetipicamente e espiritualmente da humanidade. Em todos os tempos a justiça existiu e foi um valor em todas as sociedades e culturas, com diferenças, nuances e matizes.

 Alguma iluminação vinda de outro planeta ou outra dimensão pode dizer que a justiça humana não é adequada e até concordamos, mas ela não pode ser suprimida como por encanto da vida dos terráqueos em tão breve tempo. Sabemos que na vida tudo tem um preço a pagar. Se alguém comete violência, maltrato, para ficar nas coisas menores, e não paga por aquele erro ou o erro não é reconhecido, quem paga é quem sofreu a violência, o erro cai sobre si e por isso é duramente vitimado. É uma carga muito grande para alguém carregar e por todo passado arquetípico que carrega (nós humanos carregamos) sobre a justiça, o seu significado, a sua necessidade, o humano no caso não ficará em paz. Pode adoecer e pode até se matar por carregar em si o opressor. Casos têm acontecido.

 Estamos falando de uma pessoa humana, mas existem grupos sociais, existem povos, existem sociedades e culturas inteiras injustiçadas na história da humanidade, com o etnocentrismo, o etnocídio e genocídio sobre povos nunca aceitos. O reconhecimento dos erros, a retomada da história, da verdade, a troca amorosa de valores, os ensinamentos e aprendizagem que foram negados à humanidade ao considerar inferiores alguns povos e gêneros, como o feminino, são resgates necessários e há que considerar que houve injustiças. Os Papas anteriores e o atual chegaram a reconhecer algumas.

 Por isso não se pode ficar somente na passividade. É essa passividade que aceita sistemas de castas horrorosos, estupros coletivos, pessoas na linha abaixo da pobreza, sem direito a voz e expressão, passando necessidades de todo tipo, concentração de riquezas, tornando a vida das pessoas impossível e aumentando a violência. Nessa passividade não há amor, há sofrimento.

 Se queremos restabelecer a verdade e o amor há que se fazer justiça e há que se resgatar os dois pólos –ativo e passivo - para realizar a tão necessária integração, que passa necessariamente pela integração pessoal, mas também integração para uma nova cultura e civilização planetária.

 Quem ama a si e sua integridade pessoal pode amar os outros e outrem. Quem não faz isso vai sempre procurar alguém, outros grupos sociais, outros povos, para através das máscaras jogar sua carga sombria, bem como a de outros que carrega.

O amor é necessário à humanidade sim, é um novo patamar que nos espera, mas ele só virá mediante uma verdadeira integração, onde exista o passivo e o ativo, o feminino e o masculino, o horizontal e o vertical. É necessário ter consciência de que não há mais lugar para “bodes expiatórios”, sejam pessoais, sejam sociais, sejam culturais. Que o amor verdadeiro vença.

Verônica Maria Mapurunga de Miranda

  Dia  23.02.2017

Fevereiro de 2017

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