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A difícil solidariedade

 

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   É um tema dos tempos atuais, porque muito se fala. No ano que Saturno começa a nos reger, e que  nos é exigida coerência, a dificuldade pode ser verificada.

Sou de um tempo e um lugar em que havia muitos preconceitos, de classe, de raça e tantos outros mais, mas havia também algo que se poderia chamar de piedade, misericórdia e usando palavras atuais solidariedade.

Ajudar alguém, ser gentil, até educado e polido poderíamos até dizer que era parte de uma máscara social. Mas, era uma máscara social que ajudava as pessoas a viverem e saber que haviam referências e se sentirem seguras e protegidas em uma comunidade. Em cidade pequena se um jovem ou uma jovem saísse às ruas à noite, os pais sabiam que haviam amigos, parentes e mesmo conhecidos que estavam olhando por seus filhos. Havia respeito pelas pessoas e sobretudo sabia-se muito bem a diferença entre quem poderia viver em sociedade, na coletividade e quem poderia fazer dano às pessoas de modo claro e flagrante. A comunidade se protegia e se ajudava.

Quando cheguei em Fortaleza, capital do Estado, para estudar e estava lá não somente para passear, em férias, mas viver o seu cotidiano, percebi surpresa como todas essas normas de convivência de uma comunidade, ou cidade pequena daquela época, fazia falta ali. Havia o urbano da cidade grande, sem urbanidade, e sem preocupação nenhuma com as pessoas.

Em um ônibus da cidade em que eu estava, uma senhora entrou com uma cesta de abacates cobertos. Mas, com os solavancos do ônibus, comuns nessa época, sua cesta de abacates caiu  e se  espalharam pelo ônibus.

Minha atitude reflexa foi imediatamente ajudá-la a juntar os abacates. Parecia-me algo comum e necessário, mas quando olhei em volta estavam todos rindo e caçoando da mulher. Percebi e senti imediatamente que aquilo era de um individualismo, cinismo, desrespeito total àquela pessoa humana em dificuldade. Era minha visão, de alguém que saía de uma comunidade onde outros valores eram vigentes.

Essa impressão da cidade grande como algo inumano, segregado, impessoal, me marcou muito e com o tempo procurando entender essa questão vi que era uma face do que chamavam "desenvolvimento", progresso, sociedade moderna, em cidades de um sistema mal desenvolvido que criavam "cidades para odiar".

Depois e aos poucos, com as comunicações e a rapidez da sociedade comercial, industrial e da informação comecei a perceber que esses modos, que esses valores, que essa "desumanidade" começaram a vigorar também nas médias e pequenas cidades.

Ainda levou um tempo para que a pequena cidade de Viçosa fosse tomada pelos efeitos colaterais do  "progresso". Até porque ela não teve toda essa modernização, mas os valores mudaram com as comunicações e trocas intensificadas com as outras realidades. O sistema se imiscuindo na vida de todos derrubou muitas "máscaras" e entre elas a da gentileza, da educação, do respeito com as pessoas, e deu lugar a um individualismo tal e qual das cidades grandes e da modernidade abortada com a modernização desenfreada, sem direitos e sem cidadania real.

Se conversamos com alguém da cidade que viveu essa realidade, os mais velhos, todos chegam a essa constatação. Aquele respeito, aquela solidariedade, aquela gentileza e consideração, pelo menos pelas pessoas serem aparentadas, sumiram. Existe hoje, na verdade, um salve-se quem puder, quem tiver dinheiro ou poder político. A mesma coisa do resto do país. Perdemos a comunidade, perdemos a solidariedade, mesmo que situadas como máscaras sociais, perdemos a idéia de proteção que a comunidade favorecia e agora a cidade é apenas uma cidade pequena, mas com os problemas da grande cidade.

Vivemos, então, uma homogeneização de valores, de formas de viver, que não nos dignifica em nada. E hoje estou falando somente de valores. Alguns antigos e preconceituosos, rançosos permanecem e já poderiam ter-se ido. Deixo de lado a depredação da natureza, à intoxicação de gases e ruídos de um trânsito horrendo que não condiz com a cidade e que mata pessoas cotidianamente. Um estilo de vida ruim ao ser humano, que os separa e que nos remete às questões mais humanas e que fazem falta.

Vendo um artigo de Noam Chomsky, sociólogo norte-americano onde ele reclama que todas as políticas de bem-estar social, que ele chama de políticas solidárias, estão "indo para o brejo" com a nova face virulenta do neo-liberalismo, fiquei pensando o que será do amanhã? Quem quiser pode chamar de nova economia o que está se desenhando, mas ela é somente a face pior do sistema, que fica pior e se agudiza quando está perto de se acabar. O problema é saber o que ele levará junto com esses "acabamentos". Talvez muita gente. Não serão necessárias guerras para diminuir a população. Uma parte será levada pela violência e outra pela fome e doenças.

É nesse contexto que a solidariedade desaparece ou reaparece como uma necessidade real, urgente e verdadeira. Mas se percebe também um nível profundo de carência das pessoas em todos os sentidos. Parece que ajudar alguém, por menor que seja a ajuda, até mesmo uma escuta, pode sacar um pedaço da pessoa e pode fazê-la perder minutos do seu precioso tempo. Tempo do sistema é dinheiro, ainda que as pessoas não reflitam sobre isso. O tempo escapa a todos e parece ouro. Parece que as pessoas não têm reservas de energia, preocupadas que estão com seus pequenos mundos separados e conturbados por essas molduras modernas.

E se alguém sai da regra, ou não tem condições de segui-la dizem logo: Está ruim? Não tem como sobreviver? Vá procurar um emprego para trabalhar. Tempo e trabalho traduzido em emprego (sem emprego, porque está difícil) são  doenças da separatividade e do egoísmo moderno. Às vezes a pessoa está vivendo uma situação muito ruim e alguém aproveita ainda mais para tripudiar e exercer também o sado-masoquismo no estilo moderno.

 A solidariedade tem que ser pensada ou repensada fora desses parâmetros, fora desse sistema, se se quer sobreviver a ele. É necessário pensar ou "sentirpensar"  que a carência, uma carência que não se sabe preencher está comendo a todos, matando todos de fome  de viver verdadeiramente. E a solidariedade verdadeira não pode existir nesse contexto.

 A solidariedade só vai existir verdadeiramente quando pudermos nos conectar e sentir o outro. Para sair desse sistema e recuperar a solidariedade temos que senti-la como uma energia amorosa. E como energia amorosa ela não tira pedaço de ninguém.

-----------------------------------------------------------------------                  Verônica Maria Mapurunga de Miranda

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