Já não quero saber de reflexos, nem de espelhos. Ali onde tudo parece igual ou único busco mais a inspiração.


  O resgate do feminino V ou Desde os tempos antes de minha avó as mulheres não eram simplesmente um "docinho".

 

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Salve 08 de março, se mais uma rosa desabrochar! Pois quem pensa que o dia internacional das mulheres é somente para comemorar com docinhos, enganou-se. Pois a "mulher docinho" não agüentaria o tranco dos tempos pós-modernos. Pensando nisso uma Croniblogg me veio, saudando tempos antigos e novos. Lá vai...

Altiva

De pequena começou logo a perceber, que na pequena cidade em que morava fazer muitas coisas era difícil. Cultura patriarcal, começou logo a aprender que mulher tinha que ter o seu lugar e de forma bem definida.

Mulher tinha que ser doce, cuidar das crianças, cuidar das pessoas, estar alegre, bem comportada, casar com um bom partido, sem sair da linha, não pensar, não discutir. Isso era coisa pra homem. Pensar, decidir, planejar, brigar, tomar as dores, não levar desaforo pra casa...tudo isso era coisa de homem. Ficava feio mulher fazer isso, mulher tinha que se comportar. Criaram uma expressãozinha enjoada "a mulher tem que se impor". E isso era mais uma regra ao contrário, pois se impor era não reagir, era se comportar como uma lady inglesa e hipócrita.

Mas, as regras não conseguiam fazer sua cabeça. Lia José de Alencar e descobria Iracema. Bem antes de sua avó já havia então mulheres guerreiras. Iracema era uma, chegou a ferir o guerreiro branco para se defender ao considerá-lo um intruso perigoso nas terras de seu povo. Pois é, Iracema tinha lábios de mel mas não era doce enjoativa. Era uma mulher guerreira, que sabia o que queria, sacerdotisa que teve coragem de enfrentar a todos, até mesmo seus costumes mais arraigados e se ir com o guerreiro branco. E a Anita Garibaldi? Grande revolucionária, uma mulher guerreira e libertária. E a Bárbara de Alencar, que lutou por seus ideais de liberdade e de uma sociedade melhor. E Chiquinha Gonzaga que desafiou a sociedade de seu tempo, fazendo música de estilos diferentes e corajosos que ouvimos até agora e o fez enfrentando todos os preconceitos.

Para ser sincera, realmente dos quadrinhos infantis sempre teve mais preferência pela Diana Palmer que namorava e casou com o Fantasma, o espírito que anda, que pela princesa Narda noiva eterna de Mandrake, uma mulher meio idiotizada, sempre passada para trás com as mágicas do Mandrake e aquela cumplicidade do Lotar. Diana Palmer era uma mulher independente, emancipada, corajosa e nem o Fantasma, que era o terror dos piratas e pacificador das tribos da floresta negra conseguiu colocá-la naquele lugar que muitos homens gostariam, fazendo-a exercer o papel de "docinho". Diana Palmer casou e ficou na sua, como funcionária das Nações Unidas, realizando missões quase impossíveis. Sua vida seguia.

Pois bem, essa mistura de realidade e ficção de mulheres existentes e sonhadas antes mesmo de sua avó vir ao  mundo eram o seu modelo. Desde cedo já tinha percebido: mulher não veio ao mundo só para ser um "docinho", mas para quebrar regras, mudar parâmetros e transformar o mundo. Enquanto ela lia no colégio os cartazes sobre o papel das mães: ser mãe é padecer no paraíso; ser mãe é padecer gota a gota até ficar exangue para alimentar o filho...e coisas do gênero. Ela pensava: mulher teu nome é rebeldia. Via-se levantando a espada Excalibur e depois pra descansar ia ler a Emília de Monteiro Lobato. Encrespava-se quando a Narizinho começava a dar conselhos demais para a Emília  e pensava: Narizinho escute a boneca, escute a boneca, ela vai lhe guiar.

Coisas do gênero a tornaram uma criança esquisita, com o duplo significado em espanhol e português. Era assim doce, ou pelo menos com os lábios de mel como Iracema, mas também podia ser uma ferinha. Quando brincavam de rodas(rondas infantis) e cantavam "da laranja eu quero um bago do limão quero um pedaço" ela pensava: eu quero é a laranja toda.

Assim foi conquistando os apelidos "desusada", "briguenta". Qualquer coisa que proclamava ou reclamava dentro de sua filosofia de mundo recebia o troco: ah é porque você é desusada, é diferente, é briguenta. É por isso que você pensa assim. Cresceu ouvindo a cantilena ou a ladainha: porque desde nossa avó os costumes eram assim e assim deve ser. Ela pensava: E antes, quantas mulheres guerreiras palmilharam o nosso solo?

O mundo gira,  e um dia se encontrou não com um guerreiro branco, mas com um parente gentil que lhe salvou das entranhas da cultura com uma simples e gentil observação. Falavam sobre as traições e o primo dizia: grande parte das mulheres fazem vista grossa, os maridos traem e elas não ligam, deixam passar como se não fosse nada. Ela então replicou: não acredito que seja assim, eu jamais suportaria essa hipocrisia! Ele então replicou prontamente: Ah, você se incomoda com isso porque você sempre foi... Nesse momento suspenso ela ouviu com o ouvido interno da cultura : "briguenta, desusada, diferente... Mas, a frase saiu voando, planou e caiu de forma  diferente. Ele repetiu: Você se incomoda porque você sempre, desde pequena, foi altiva.

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Seu parente até hoje não sabe, mas seu olhar gentil sobre os escombros do passado repudiado pela cultura resgatou o seu valor de guerreira, de mulher vinda para quebrar parâmetros. A altivez é uma qualidade que nós mulheres precisamos exercer no presente: EXCALIBUR!

Esta Croniblogg vai para todas as mulheres que têm consciência de seu papel nas transformações do mundo. Por uma nova civilização americana, com lábios de mel, mas sem "docinhos"!

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Verônica Maria Mapurunga de Miranda

 

 

 

Dia Comum (08) 

março de 2010

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