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Já não quero saber de reflexos, nem de espelhos. Ali onde tudo parece igual ou único busco mais a inspiração. |
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O RESGATE DO FEMININO III OU DEIXAR IR |
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Há algumas semanas comecei a escrever estas reflexões, e são, de certa forma, a continuidade das reflexões feitas anteriormente por mim, sobre a crise da cultura e sobre a necessidade de resgate do feminino. Como pessoa e parte atuante das mudanças que se vivenciam atualmente na cultura, e como mais uma "aprendiz de feiticeiro" do processo, passei a refletir sobre esses processos de transformação individual e coletivo, que grande parte das pessoas vive atualmente no "olho da crise". Em todas essas transformações que significam a morte de velhas formas e estruturas e o renascimento para uma nova forma de vida, valores e paradigmas, as pessoas e coletividades têm que se enfrentar com o terror da caveira, que perpassa todo o processo. Esta fantasia macabra em torno desses processos permeados pela palavra morte que tem significado tão terrível em nossa cultura ocidental e cristã, e que para muitas pessoas significa o fim do mundo, a debacle econômica e institucional do país, o caos diante da ordem impetrada do status quo, poderia ser diferente se todas essas mudanças e rupturas pudessem ser compreendidas com a expressão "deixar ir". Uma expressão que considero mais feminina no sentido da entrega ao fluxo da mudança e da aceitação daquilo que é novo e que se avizinha. Deixar ir como a água do rio que desliza, serpenteando novos caminhos e realidades, sempre para a frente, deixando para trás aquilo que não compõe mais com o todo, aquilo que deixou de ser vital, uma casca sem sentido e sem substância. Com essa casca, ao deixá-la ir vão vínculos emocionais ou de qualquer ordem que tornam pessoas e coletividades dependentes, vão estruturas equívocas e distorcidas de pensamento, vão relacionamentos hostis, áridos e que não fazem crescer, vão atitudes que não correspondem mais às necessidades pessoais, políticas e de vida das pessoas e de coletividades que começaram a vivenciar a permanente mudança e movimento. O "olho da crise" de uma cultura, no nível da coletividade e no nível pessoal acarreta uma quantidade de turbulências que vistas sob a ótica dos processos de transformação e cientes de que o ser humano é esse elo da cultura, com todas as suas mediações e contradições, tem que ser entendido como um processo feito a fogo lento, tanto no nível pessoal, em que o esforço de transformação é individual, como no nível coletivo em que as mudanças dependem do esforço de forças sociais e seus agentes ou indutores. É importante dizer que todas essas transformações, individuais e coletivas, são movidas também por forças maiores inconscientes. E é somente no desenrolar do processo, à medida que as pessoas e coletividades são por ele vivenciadas, que vão adquirindo consciência e responsabilidade por ele, vão percebendo a necessidade de contribuir e atuar com seus esforços, diante de um sentido adquirido e para a criação de uma nova realidade. Talvez não seja necessário dizer que para um trabalho de tamanha monta ou tão alto quilate as pessoas nele envolvidas necessitem ser ou ir se constituindo em pessoas ao mesmo tempo heróicas e compassivas. Entretanto, fala-se mais da primeira como qualidade necessária porque é uma propriedade ativa e masculina e esquece-se da segunda que envolve a aceitação e entrega ao outro, e àquilo que é desconhecido, porque aparentemente representa o passivo que foi codificado em nossa cultura ocidental contemporânea como sendo uma parte fraca, assimilada ao princípio feminino que também é desvalorizado. É importante dizer que ser compassivo não é ser tolo e aceitar qualquer coisa, desrespeitando a própria condição de indivíduo e as necessidades vitais do ser humano. Mas, colocar-se na posição ou situação de ser compassivo exige muito mais coragem do que pegar nas armas e partir para a luta do quem pode mais. Amar verdadeiramente é muito difícil. Colocar-se no lugar do outro e viver a alteridade verdadeira é mais ainda. Amar ao próximo como a si mesmo para citar uma máxima cristã e conhecida em nossa cultura é um princípio de profundo equilíbrio que carrega embutido em si a eliminação de uma grande quantidade de relações desequilibradas de poder internas e externas, aonde em conjunto com o amor ao próximo e o respeito à alteridade está instintivamente e reflexivamente o amor por si mesmo ou a auto-estima profunda. E isso é aplicável no nível individual e coletivo. Sendo este um princípio espiritual mais que um princípio religioso, e por isso de grande amplitude, carrega em seu bojo todas as mediações de outras ordens - culturais, sócio-econômicas e políticas - que não podem ser consideradas de pouca importância. Deixar ir, portanto, é para mim a morte compassiva, encarnada talvez nas antigas deusas da morte, que eram iniciadoras e que acolhiam a todos aqueles que precisavam renascer. Deixar ir faz parte do princípio feminino, como a água, presente em todo processo de transformação, processo em que vamos nos transformando individualmente e coletivamente, em água e fogo, e galgando passo-a-passo todas as metas. Como bem verseja Fernando Pessoa:
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§ O Resgate do Feminino II ou No País dos Sonhos -05.05.2008 |
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§ O Resgate do Feminino ou Todo Dia é Dia -09.03.2008 | |||||
§Aos Caminhantes -28.01.2008 | |||||
§Árvore de Natal Encantada -30.12. 2007 | |||||
§ A Parte de Cada Um -15.11.2007 | |||||
§Flores chamadas Beijos - Para Mortos e Vivos, em uma cosmovisão diferente -02.11.2007 | |||||
§Letras Bailarinas-13.08.2007 | |||||
§O que é bom está guardado ou o Segredo da Vida-06.08.2007 | |||||
§Tudo o que vai, volta...Lei de Causa e Efeito, Bumerangue ou Deus é Grande! -23.06.2007 | |||||
§Pra não dizer que não falei de flores no inverno -16.04.2007 | |||||
.Os Diamantes são Eternos -18.03.2007 | |||||
.Aprender -01.02.2007 | |||||
.Guacamole de Ano Novo ...-15.01.2007 | |||||
.Árvore de Natal II -29.11.2006 | |||||
.Minha Árvore de Natal...- 17.11.2006 | |||||
.Porque Cantar é preciso...-21.11.2006 | |||||
.Mulher Quente?-21.10.2006 | |||||
.O Amor Tudo Pode-20.10.2006 | |||||
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Verônica Maria Mapurunga de Miranda |
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Dia Comum (12) |
julho de 2008 |
Horas Vagas:----- | |||
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