Já não quero saber de reflexos, nem de espelhos. Ali onde tudo parece igual ou único busco mais a inspiração.


  O RESGATE DO FEMININO II OU  NO PAÍS DOS SONHOS

 

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Preparava-me para continuar a escrever sobre o resgate do feminino - afinal que feminino é este? - quando fui literalmente assolada pela voz da Nana Caymmi. Em vez de escrever, então, fui tomada ou vivida por esse feminino de uma voz que nos acolhe e nos leva por recônditos nunca antes visitados ou pouco conhecidos. Uma voz ida, que contempla e que lhe rodeia. É isso o que faz a voz dela. Os artistas têm esse dom de nos fazer transcender, quebrar barreiras, explorar novas fronteiras e abrir portas, ao mesmo tempo que lhe acolhem e iluminam. É o Tao feminino.

Fui levada, então, a pensar em todos as portas fechadas que trazemos, onde estão pontos de luz guardados, deixados por alguém despretensiosamente em atitudes "idas e contemplativas" de amor, de carinho, que une dois corações. Um olhar cúmplice e maroto, um sorriso afetuoso, um silêncio acolhedor...Atitudes amorosas e simples, simples luz que ao abrir-se a porta nos orienta, nos norteia e nos acolhe.

Fechamos muitas portas e preferimos muitas vezes ficar na autocomiseração e no sofrimento da falta de luz e de amor, e no entanto, aquela luz que pode nos acolher está ali nos esperando em recônditos não visitados. Não se foi com a morte de alguém, nem se acabou no passado. O amor e a luz que nos foram concedidos por alguém despretensiosamente estão lá, em algum lugar, nos esperando. É uma luz que  nos ilumina para toda a vida e é a nossa atitude feminina, contemplativa, acolhedora de nós mesmos  e de tudo que temos e carregamos que nos leva até ela. A aceitação de nós mesmos é uma atitude feminina, que pode ser despertada também por atitudes femininas profundas e acolhedoras, como a voz de Nana Caymmi.

Essa luz está no mundo e só precisamos abrir a janela para esse sol entrar, ou abrir portas para a lua sair. E nada melhor  do que um verdadeiro feminino para despertar esse sentimento ou um verdadeiro, viril e gentil masculino, estrangeiro e "forâneo"  ao feminino, para suscitá-lo. E essas reflexões levadas e embaladas pela voz feminina e de "fruta madura" da Nana Caymmi trouxeram uma pequena croniblogg. Lá vai ela.

                    No País dos Sonhos

Pois para ela, como para tantas mulheres, esse feminino profundo era complicado e difícil de ser conquistado. Referências  haviam muito poucas. No mundo em que vivemos onde as pessoas como árvores mal desenvolvidas não "tornam-se maduras antes de quedar-se secas" grande parte das mulheres envelheciam adolescentes, com o mesmo ti-ti-ti, quando não ficavam rabugentas. Cadê a sabedoria?

E as mais novas e tiradas a profissionais sérias bancavam as espertas, mas ainda tinham muito que aprender para trilhar o caminho do feminino profundo. Quando encontrava alguma com grandes pretensões de orientá-la pensava: Desse maternal onde você está eu já saí há muito tempo, minha filha! Cresça e desapareça no mundo da alma, antes de querer ajudar alguém nos mistérios profundos do feminino. Como já dizia John Donne com propriedade sobre esse feminino misterioso:

Mas ela é um livro místico e somente
      A alguns (a que tal graça se consente)
      É dado lê-la.

Na verdade, qualquer ajuda tinha que ser com muita maestria, pois esse feminino não se ensina, mas se faz brotar. Cada mulher o carrega e dele se apossa na época certa de perder a casca.

Mas, como tudo que  envolve mistério, lhe ocorriam coisas insólitas. Uma delas era se apossar um pouco desse feminino profundo quando sonhava com o Robert Redford. Não, não se assustem. No país dos sonhos tudo é possível. E o mesmo Robert Redford já havia lhe curado de um trauma ou complexo colonizador generacional, desses rabudos. Antes de conhecê-lo não suportava homem  louro, de olhos azuis, características do colonizador. Curou-se. Quando contou isso para algumas amigas e elas assustadas já iam perguntando: Você conheceu o Robert Redford? Antes que elas terminassem a pergunta, ela já respondia esbaforida: Na tela, na tela, na tela...Ora, se além da Sônia Braga ele ia se interessar por outra brasileira!

O certo é que ela não sabia bem se tinha sido ele ou os personagens que ele fazia, pois nos filmes como no país dos sonhos tudo é possível. Apesar de louro de olhos azuis sempre translúcidos, seus traços ianques, de índio, eram ressaltados na tela. Ninguém conseguia tirar seus traços de pele vermelha. Que mistura mais genuína! Além disso, podia fazer papel de bandido, mas não perdia a gentileza que contrastava com a virilidade. E aqui e ali era um verdadeiro Lorde inglês. Cada filme uma surpresa, que acabava virando realidade no país dos sonhos.

Quando sonhava com o Robert Redford acordava outra pessoa, a mutação acontecia e o feminino profundo a possuía. Como esquecer seus olhos azuis translúcidos, mesmo quando estavam enganando? E seu rosto viril com um sorriso sempre aberto e gentil? Comentou  seu segredo com as amigas. Pra que? Caíram de pau com moralismos baratos. Diziam: Na verdade você está é traindo seu marido com esses sonhos com o Robert Redford.

Traindo como, ora? Se o compromisso com o marido era terreno e o encontro com o Robert Redford acontecia no país dos sonhos, em outra dimensão? Lição aprendida: o que se ganha em uma dimensão não se leva pra outra. Com o marido estavam quites. Mas, ela mesma, por causa das más línguas não ia perder o Robert Redford, nem na tela nem no país dos sonhos. Afinal de contas, enquanto não perdia de vez a casca, o Robert Redford lhe garantia sua inserção no profundo mundo feminino.

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Moral da história: Para ingressar no feminino profundo vale qualquer sacrifício (ai...ai...rss...rss), até mesmo se encontrar com o Robert Redford no País do Sonhos. Ufa! Rss... (Em outras palavras, para quem não entendeu, isso  quer dizer  que não é nenhum sacrifício ingressar no feminino profundo, pois fazê-lo com Robert Redford já é o máximo.)

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A Nana Caymmi me deixou com vontade de cantar. Tentei, mas confesso que me senti incompetente para tanto. Ainda mais depois de ouvir repetidamente o canto de Nana Caymmi. Recomendo que escutem, com a Nana Caymmi, Dois Corações de Ronaldo Bastos e André sperling.  Lembrando que ouvi-la é completamente indispensável para se ser embalado pelo Tao feminino e entrar em sintonia com o que escrevi.

§O Resgate do Feminino ou Todo Dia é Dia -09.03.2008

§Aos Caminhantes -28.01.2008
§Árvore de Natal Encantada -30.12. 2007
§ A Parte de Cada Um -15.11.2007
§Flores chamadas Beijos - Para Mortos e  Vivos, em uma cosmovisão diferente -02.11.2007
§Letras Bailarinas-13.08.2007
§O que é bom está guardado ou o Segredo da Vida-06.08.2007
§Tudo o que vai, volta...Lei de Causa e Efeito, Bumerangue ou Deus é Grande! -23.06.2007
§Pra não dizer que não falei de flores no inverno -16.04.2007
.Os Diamantes são Eternos -18.03.2007
.Aprender -01.02.2007
.Guacamole de Ano Novo ...-15.01.2007
.Árvore de Natal II -29.11.2006
.Minha Árvore de Natal...- 17.11.2006
.Porque Cantar é preciso...-21.11.2006
.Mulher Quente?-21.10.2006
.O Amor Tudo Pode-20.10.2006
 
 

 
 

Verônica Maria Mapurunga de Miranda

 

 

Dia Comum (05) 

maio de 2008

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