Já não quero saber de reflexos, nem de espelhos. Ali onde tudo parece igual ou único busco mais a inspiração.

 

   

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI

   

ARQUIVOS

 

 DE FLORES NO INVERNO

 

 

Abril, chuvas mil! É assim que se fala sobre este mês, cá no Ceará. Enquanto as chuvas encerram o verão no Sul do país, por aqui elas continuam a chegar mais fortes adentrando a "quadra invernosa" como se denominam os meses de chuva ou inverno nessa nossa região nordestina. Hoje, antes que a chuva chegasse colhi fotos de uma bela flor: de uma árvore da família das malváceas - Algodão da Praia. A bela flor, que pode ser vista abaixo, evocou em mim histórias antigas que valem uma pequena croniblogg, por que não? Aí vai ela :

Flores para os Vivos e Mortos

Era verdade que ela gostava muito de flores. Desde criança visitava todos os jardins, e conhecia-as todas pelos nomes  e perfumes: desde a rosa la france, altiva e delicada às dálias brancas e coloridas, às hortências, aos lírios, às perpétuas, às margaridas alegrando os canteiros, às violetas escondidas sob a folhagem e com um perfume delicioso.Aqui e ali algumas delas tão delicadas tinham nomes estranhos que solicitavam cuidados, como a flor Não me deixes.

No mundo das flores tinha de tudo, cores, perfumes, beleza, histórias, fábulas e poesias. Chegou a representá-las, em festinhas no colégio, com suas cores no vestido e usando a essência de seu perfume, para ser mais real. Gostava tanto de flores que sonhou em ser botânica, só para poder observá-las, estudá-las e estar perto delas. Mas a realidade do mundo e da vida foi mostrando que havia outras coisas interessantes além das flores, e mesmo no reino das flores havia aquelas que estragavam o gênero: algumas tinham perfumes repelentes, com o objetivo de se defenderem - flores que não se cheiram - viu na literatura que havia flores carnívoras, capazes até de comer gente. Como em todos os gêneros e espécies havia as traiçoeiras e até flores invejosas, que estragavam o gênero. Mas, nem tudo é perfeito...E assim, partiu também para outros interesses.

Mas nunca deixou de acompanhá-las. Quando sentia falta corria e lia Dona Rosita  a solteira ou a linguagem das flores. De alguma forma sabia que as acácias estavam florindo nos meses quentes acompanhadas pelos flamboyants. Os ipês no sertão eram um descanso e alegria para os olhos. Mesmo no meio do carrasco e secura a flor do mofumbo saía cacheada e vistosa e a flor do mandacaru fazia com que esquecesse os espinhos...da planta  e da vida. Os jasmins dos jardins antigos lhe saudavam quando passava em alguma calçada. Seu perfume ela sentia de longe. Da mesma forma que o perfume do Bugari lhe transportava a outras épocas que nem tinha vivido, mas que era capaz de compreendê-las e senti-las. Nas estradas ou em algum quintal sabia quando as laranjeiras estavam florando. Seu perfume era inconfundível.

Foi caminhando, caminhando, e até se encontrou com a essência espiritual das flores. Foi apresentada aos Florais de Bach e nunca mais os deixou. Ficou com eles em uma conversação harmônica de convivência e crescimento para sempre.

Mas, um único detalhe nessa história não se encaixava completamente nessa trajetória com as flores. Seu amor e amado não lhe dava flores com freqüência. Com freqüência não, o certo seria falar em quase nunca. Sentia falta de tão importante mimo, e algumas vezes falou pra ele. Não sendo ouvida chegou mesmo a cobrar: por que não recebia flores? A resposta aos seus reclamos: Sabia que os homens que dão flores são sedutores e aventureiros? Por isso eu não dou flores. Não faço o tipo. Eles dão flores, mas depois podem lhe jogar também o vaso. O que você prefere? Bom, alguns vasos são leves, já outros são bem pesados.

Falou também do preço terrível que cobravam as floriculturas. Melhor comprar um livro, um cd, até uma roupa. As flores murchavam logo e se estragavam. Ela ainda tentou mostrar pra ele e lhe falar do prazer romântico de roubar uma flor do jardim alheio para dá-la à amada. Tolice! Isso dava era mordida de cachorro pit bull. Estava pensando que os jardins de agora eram os do século XIX? A época do romantismo já havia passado.Resolveu: melhor deixar pra lá. Algumas vezes ela mesmo comprava flores e lhe dava, em uma tentativa de reverter os papéis, uma atitude mais moderna. Por que não? Mulher também pode dar flor, ora! De fato... Paliativos.

Mas foi levando, levando...Um dia, sem ser aniversário, natal, nem dia de condecoração, acordou e teve uma surpresa. Na mesa do café da manhã flores roxas, um vaso delas fresquinhas e belas, lhe esperando. Quase gritou, sem saber se era de contentamento, ou surpresa por algo tão insólito. Será que finalmente ele se tornara o homem romântico, que dá flor à sua amada pelo simples prazer de dar uma flor para outra? Quis saber o que o motivou.

Ele disse: Nada demais. Fui comprar pão no supermercado e lá chegando estava chegando também uma quantidade enorme de vasos de flores, flores em profusão. Não sei porque tantas flores, mas eram tantas que me lembraram que você as adora, e por isso junto com o pão resolvi lhe trazer flores no café da manhã.

Ela franziu o cenho, coçou a cabeça ainda despertando na manhã, e disse: Você sabe que dia é hoje? E ele respondeu: Não. Um dia como outro qualquer. Ela retrucou: Não, hoje não é um dia qualquer. Hoje é o dia de finados.

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De fato, as flores roxas lhe mostraram que para muitas coisas ela já estava morta. Finada. Como diz Cecília Meireles em seus cânticos: 

Não vês que acabas todo dia
Que morres no amor
Na tristeza
Na dúvida
No desejo
Que te renovas todo dia
No amor
Na tristeza
Na dúvida
No desejo
Que és sempre outro
Que és sempre o mesmo
Que morrerás por idades imensas
Até não teres medo de morrer
E então serás eterno

(Fragmentos de Cantico IV - Cecília Meireles)

 

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Verônica Maria  Mapurunga de Miranda  

   

A flor do Algodão da Praia

 

 

A flor aberta como um presente, uma dádiva.

 

O Algodão da Praia

 

pendendo em flor

 

A árvore imponente resistindo ao barulho, ao dióxido de carbono e ao trânsito.

 

FOTOGRAFIAS DO ALGODÃO DA PRAIA POR VERÔNICA M. MAPURUNGA DE MIRANDA -abril/2007  
   

Dia Comum (16)

 Abril de 2007        

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