Já não quero saber de reflexos, nem de espelhos. Ali onde tudo parece igual ou único busco mais a inspiração.


Porque jaguatirica é jaguatirica...Ou

pra não dizer que não falei de flores no dia internacional da mulher.

 

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Sem pretender fazer ciência em bloggs, mas sabendo que muitos científicos ou acadêmicos navegam por eles buscando inspiração para seus trabalhos, apesar de muitas vezes detratá-los como um trabalho menor e do cyberspace,  lembrei-me de que E. Morin em tantos dos seus escritos disse que viver exige de cada um a mobilização de  todas as aptidões humanas. Conforto-me em saber que tendo algum espaço para cumprir parte disso, estou fazendo parte de minha parte, lançando alguma semente para pessoas que en passant no cyberspace terão acesso a elas, porque não teriam possibilidades e nem acesso à leitura de textos mais complexos e rigorosamente científicos. Daí que  os meus textos são, também, permeados ou feitos do que chamam realidade diária e, às vezes, até estranha realidade.

 Pensando sobre esse assunto, lembrei-me de um ocorrido outro dia. Um dos tais científicos, em um bar, disse para uma mulher, de quem tinha uma inveja lancinante: essa jaguatirica!

"Ouvi aquela arrumação", como diria um cearense de tradição, e chegando em casa corri para ver o que era o tal insulto. Surpresa, verifiquei que não era nada mais e nada menos do que a conhecida "onça pintada".

Ora, por que um homem despeitado chamaria uma mulher de jaguatirica? Mais surpresa ainda fiquei quando vi que a jaguatirica que é um animal muito bonito e habitante de toda a América Latina, costuma andar em pares,  o que é raro entre os felinos,  e no Brasil seu habitat fica na mata atlântica, cerrado, amazônia e pantanal. Um animal bem latino-americano que tem um nome científico curioso e brasileiro: Leopardus Pardalis.

Com todos esses atributos interessantes pensei cá com meus botões que não me incomodaria de ser chamada de jaguatirica, e creio que a mulher insultada também não. Ela provavelmente se sentia como uma, ou tinha essa energia animal, tão em falta em homens covardes que insultam mulheres.

Toda essa digressão me remeteu ao arquétipo da mulher selvagem. Clarissa Pinkola Estés analista junguiana e contadora de estórias, inscrita em uma tradição, escreveu um livro sobre isso intitulado - Mulheres que correm com os lobos. Mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem. Mesmo sendo um trabalho sobre mitos e sabe-se que o mito foi  estudado e utilizado  por Jung em seus trabalhos, há nos meios "ditos" acadêmicos junguianos quem torça o nariz para a abordagem da autora, considerando-a pouco científica ou muito "contaminada" de realidade e senso comum.

 Apesar desses científicos "cristãmente"¹ (essa expressão é minha, hein! Neologismo) considerarem o livro pouco "puro" e rigoroso do ponto de vista científico, muitas mulheres do mundo inteiro e principalmente no Brasil e vários países da América o leram, e chegaram a constituir grupos de leituras para debatê-lo. Homens também o leram com interesses diversos. Alguns, certos de que tinham descoberto os segredos da mulher selvagem "ouviram o galo cantar mas não sabiam aonde". Outros continuaram tentando... Acredito que poucos entenderam.

Eu o li, pela primeira vez, no final da década de 90 do século passado e já estava na 11ª edição. Sinceramente, o recomendo despretensiosamente, para todas as mulheres e homens que acreditam que mitos e histórias e suas análises e interpretações possam ajudar a entender a nossa natureza arquetípica e a nos ligar ou religar com esses elementos importantes que "fazem alma" - os arquétipos.

 Para ler esse livro e entendê-lo é necessário, entretanto, fazer uso da sensibilidade,  e ter pelo menos a intuição de que ser mulher é ser diferente de homem e isso não comporta nenhum tratamento desigual ou injusto, somente diferente. Em uma síntese adequada todos são pessoas, mesmo sendo diferentes. Essa diferença não faz mal e pelo contrário faz até bem.

Voltando ao arquétipo da mulher selvagem do livro em que a autora se inspira no estudo da  biologia de animais selvagens, em especial os lobos, pensei na jaguatirica como essa inspiração latino-americana para tal arquétipo. E por que não? Se em algum lugar existe a mulher-lobo por que não a mulher-jaguatirica? Rá, rá, rá. Podem rir, mas também é sério. Digo-lhes, portanto, que às vezes até um insulto pode transformar-se em uma boa inspiração. Essa força animal da jaguatirica é uma força que as mulheres que se reconhecem mulheres podem trazer nessa fase de reavaliação latino-americana. E assim, mais uma flor pode desabrochar no dia internacional da mulher.

Porque jaguatirica é jaguatirica...

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¹cristâmente significa o modo de considerar determinadas idéias impuras ou anti-científicas. Corresponde de certa forma às estruturas psicológicas rígidas e profundas, forjadas e modeladas no "purismo" do cristianismo, que não aceitava outra forma de pensar, outras religiões, outras idéias e outras práticas de vida. Apesar do cristianismo, como qualquer religião, não ser aceito nas academias ou universidades, muitos dos seus "pensadores" não escapam das estruturas profundas, arcaicas, religiosas, arquetípicas e preconceituosas que permeiam a cultura e instituições da sociedade. Em outras palavras ninguém precisa pertencer, de fato, a nenhuma religião cristã para pensar cristâmente, basta pensar nessa forma que se considera "pura" ou que não é "contaminada" pela realidade ou senso comum.

§Porque homem é homem, mulher é mulher,  criança é criança, macaco é macaco,  e jaguatirica é jaguatirica...-19.02.2009

§ O Resgate do  Feminino IV ou  O Sol Níger, o Fogo Criativo - 9.8.2008
§ O Resgate do Feminino III ou  Deixar Ir -12.07.2008
§ O Resgate do Feminino II ou No País dos Sonhos -05.05.2008
§ O Resgate do Feminino ou Todo Dia é Dia -09.03.2008
§Aos Caminhantes -28.01.2008
§Árvore de Natal Encantada -30.12. 2007
§ A Parte de Cada Um -15.11.2007
§ Flores chamadas Beijos - Para Mortos e  Vivos, em uma cosmovisão diferente -02.11.2007
§Letras Bailarinas-13.08.2007
§O que é bom está guardado ou o Segredo da Vida-06.08.2007
§Tudo o que vai, volta...Lei de Causa e Efeito, Bumerangue ou Deus é Grande! -23.06.2007
§Pra não dizer que não falei de flores no inverno -16.04.2007
.Os Diamantes são Eternos -18.03.2007
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.Guacamole de Ano Novo ...-15.01.2007
.Árvore de Natal II -29.11.2006
.Minha Árvore de Natal...- 17.11.2006
.Porque Cantar é preciso...-21.11.2006
.Mulher Quente?-21.10.2006
.O Amor Tudo Pode-20.10.2006
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

 
Verônica Maria Mapurunga de Miranda

Dia Comum (8) 

março de 2009

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