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                                Ética de Coronel*

 

        Quando ele era criança por certo não ouviu direito a história dos seus pais. Todo “coronel” para compor sua ética cria mentiras ou cria uma visão distorcida da realidade para justificar a exploração, a subjugação, o modo de vida descompensado, para não sentir culpa enquanto desfia suas orações batendo no peito. Mas, como já dizia um grande pensador e psicólogo, aquilo que os chefes de família fazem e não falam de alguma forma é incorporado no inconsciente da própria prole. Jung chamava isso de “sussurro das paredes”.

       Quando sua tia morreu, seu marido e tio também tinham falecido deixando vários filhos órfãos. Diante da orfandade todos poderiam pensar que a família ajudaria. Eles, seu pai e tios se aproximaram sim e disseram que iam cuidar dos bens que os pais haviam deixado. Que não se preocupassem. No ato do inventário, o dono do cartório e outro cidadão da cidade descobriram que os tios estavam encaminhando os documentos para tirarem todos os bens dos órfãos e passarem para seus nomes. Ainda em tempo o dono do cartório e o amigo não permitiram que eles perpetrassem esse  mal, impedindo-os. E os bens ficaram com os verdadeiros herdeiros - os órfãos.

        Essa ética do seu pai foi repassada de alguma forma para os filhos quando um deles, a própria encarnação do coronel, disse que não dividiria nada com familiares em dificuldades, nem uma xícara de açúcar ou café, um pouquinho do muito que acumulou com o esforço de muitos, com aluguéis não pagos, bens não computados, comidas e bem estar nunca cobrados. Para ele um pouquinho de café, ou um pouquinho de sabão para lavar uma roupa era muito, porque os parentes em dificuldades eram "vagabundos" e os empregados da casa eram todos ladrões em potencial.

        Um "capataz", devidamente treinado, foi contratado para a casa, para que os empregados ladrões não roubassem o pó de café e o sabão, entre outras coisinhas, conseguidas por muitos e para que os “parentes vagabundos” não tivessem acesso àquilo que era comprado segundo ele com seu dinheiro. O objetivo inconsciente, dos murmúrios das paredes, talvez não fosse negar um pouco daquilo que não se nega a um mendigo por caridade, mas humilhar aqueles trabalhadores que ele considerava ladrões e os parentes que apesar de seu largo currículo de trabalho de uma vida toda eram considerados por ele vagabundos. A ética de coronel é horrível, porque nela só ele é gente e merecedor.

         Coronéis, vou dizer o que alguns de vocês gostam de citar batendo no peito: “Quem humilha será humilhado.”

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* Coronel não é um militar, nem mesmo um “coronel” das antigas. É aquela pessoa portadora de um tipo de vida que não existe mais, pois não tem mais poder político, mas carrega uma ética do tempo da servidão e/ou escravidão, em que os trabalhadores não eram considerados gente com dignidade ou eram considerados potenciais ladrões e vadios e eles se consideravam verdadeiros monarcas, merecedores de tudo. Felizmente são personagens obsoletas e cada vez mais identificadas como pessoas malignas e deploráveis para a vida e para uma verdadeira ética humana.

 

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       Verônica Maria Mapurunga de Miranda

 

 

 

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