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   Sobre Mitos e Realidades

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 Tenho um amigo contador de histórias que diz que a realidade é o contrário do que os comuns dos mortais dizem. Não querendo encarcerar filósofos da moda em “os comuns dos mortais” penso, entretanto, que aos grandes pensadores ou aos que pensam, pelo menos, deve ser dada a chance da dúvida. Na verdade, as certezas absolutas não são mais da “sociedade líquida” sobre a qual alguns filósofos e Bauman (o criador do conceito) discorrem. E essa palavra “discorrem” parece água correndo.

Filósofos lêem Hamlet e têm interpretações e digo que Hamlet teve muitas interpretações e provavelmente vai continuar tendo muitas outras, porque é uma obra prismática. Acho sinceramente ruim que não conheçamos pelo menos umas dez interpretações diferentes dessa obra porque é uma riqueza no sentido do que acrescenta cada vez que alguém sobre ela se debruça com vontade de entendê-la. Dizem até que o suposto autor Shakespeare não deve ser o autor verdadeiro da obra, mas um alquimista nobre que queria deixá-la no mundo sem ter sua identidade conhecida. Bom, como diria um bom filósofo cartesiano é provável que seja lenda.

Mas o importante é que ela pode ser analisada de outros prismas e completamente diferentes, sem querer fugir de toda a “objetividade científica” que nos reclama porque sou também historiadora. Mas se virmos os mitos como mediadores arquetípicos e não como verdades absolutas e finais você  os encontrará em Hamlet, ainda mais se considerarmos que é uma obra de arte. Os mitos, contrariando alguns dizeres, podem ser encontrados em todas as realidades, até mesmo naquelas em que Shakespeare pode dizer que “há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe ..........(cada conhecimento vão).”

Eu, por exemplo, acredito em Papai Noel e em Coelhinho da Páscoa. Sabem por que? Porque a maioria dos terráqueos acreditam e mesmo não acreditando os usam permanentemente como símbolos para uma quantidade de coisas diferentes. O comércio os usa, as religiões os usam, as crianças de todo o planeta os adoram, estão em todas as casas no natal e na páscoa e os filósofos os usam,  para dizer que não acreditam neles. Então como vou dizer que eles não fazem parte da realidade? Consideremos, então, que  cada pessoa ainda pode colocar esses símbolos aonde quiser mostrando verdades diferentes, até que não cheguemos às últimas verdades.

Os mitos e ainda os Mythos servem para nos mostrar que temos um mundo interior que nos faz construir realidades de determinadas formas. As mercadorias segundo MARX no O Capital, um filósofo considerado materialista por muitos, são partes de um processo fetichista e imaginário e, no entanto,  são as células da realidade e sistema capitalista em que vivemos e que comercializam os “mitos”  e pessoas que são mitos, transformando-os em realidades vendáveis.

Bom, para não me alongar, os mitos existem, fazem parte da realidade, assim como a história e a filosofia. Resta saber como os colocamos em nossas vidas para não serem “conhecimentos vãos”,  como diria Shakespeare. Na sociedade líquida é bom que as certezas não sejam muito rígidas porque “água mole em pedra dura tanto bate até que fura".

    Verônica Maria Mapurunga de Miranda

  Dia 17

junho de 2016

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