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O PATRONATO DE OUTROS TEMPOS |
Falemos de um Patronato de outros tempos, e não somente porque ele está prestes a fechar as portas, mas para resgatar sua importância para Viçosa do Ceará e entender quão absurdo é deixar que ele se acabe. Quando um grupo de viçosenses, liderados por Fco. Caldas da Silveira, passou a se interessar pela criação de um ginásio em Viçosa do Ceará, na década de 50, poder-se-ia dizer: é um grupo de aventureiros. Hoje poderíamos dizer: um grupo de sonhadores, de utópicos, que tiveram a coragem de ousar, e por isso mesmo foram os primeiros responsáveis pela educação básica de várias gerações de viçosenses. Até então a cidade de Viçosa contentava-se com a escola primária, e quem podia ia estudar em Sobral, Parnaíba ou Fortaleza para continuar os estudos. É bem verdade que saíam bem poucos. Mesmo contando com o apoio fundamental de Dr. Júlio Siqueira de Carvalho e do seu filho Dr. Maurício de Siqueira Carvalho, e com a doação do terreno, em grande parte a construção do Patronato foi realizada tendo por base campanhas, doações diversas, trabalho voluntário e pela coragem e pioneirismo das Irmãs de Caridade, que aceitaram o desafio de iniciar o ginásio em Viçosa. Instalando-se provisoriamente em uma antiga casa cedida para essa finalidade, as Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo, souberam bem aproveitar os recursos escassos e em pouco tempo transformaram o que era apenas uma semente em um verdadeiro colégio modelo. Extremamente preparadas, as Irmãs fundadoras do colégio, do qual Ir. Lins era a superiora, estabeleceram um vínculo fundamental com a comunidade. O Patronato passou a ser uma referência importante da cidade. Havia um calendário de atividades culturais, recreativas, que ao mesmo tempo angariavam recursos para a continuidade do Colégio. Este passou a ser um objetivo perseguido pela comunidade, com a liderança incansável de Francisco Caldas da Silveira que dedicou boa parte de sua vida a isso-à construção do Patronato e à manutenção dele. A planta do colégio, que é monumental, foi desenhada primeiramente por Ir. Lins, grande desenhista, pintora, jardineira e administradora. Os jardins do colégio eram fantásticos. Minha geração aprendeu logo no jardim da infância a respeitar a natureza, celebrando sua beleza e regando plantinhas no jardim do colégio. O grêmio cultural e esportivo do colégio responsável pelo aprendizado dos cantos orfeônicos, pelas famosas festas juninas e calendário cultural e esportivo da cidade. A biblioteca com um boa quantidade de livros para a época, responsável pelo desabrochar de talentos de muitos contemporâneos meus. Até a inauguração do colégio, mesmo na casa antiga, com todas as dificuldades das instalações provisórias, o novo colégio trazia para Viçosa algo diferente em educação. Uma educação que não significava só o ler e escrever, mas a educação fundamental em todos os sentidos, integradora em todos os aspectos. E isso ajudava a integrar também a comunidade que buscava objetivos comuns e que fazia a cultura do lugar florescer. A inauguração da sede nova do Patronato em 1968 foi bombástica. Uma reunião de toda a comunidade viçosense e apoiadores da construção do colégio que chegaram a viajar de outros Estados da Federação para não perderem o evento. Comemoração bem merecida para todos aqueles que participaram e lutaram para a concretização desse objetivo. Do novo colégio construído saíram as primeiras turmas concludentes do 1o. grau. Ali, dando continuidade às atividades já realizadas na antiga e provisória sede o colégio floresceu e pudemos vivenciar momentos muito importantes, dos quais as olimpíadas em toda a serra da Ibiapaba, onde os alunos do Patronato destacaram-se durante vários anos nos primeiros lugares. Os intercâmbios com a comunidade local e com grupos de outros municípios eram outras ações realizadas pelo Patronato, através de seus grupos de trabalho no Dispensário dos Pobres, onde as luizinhas, que apadrinhavam e davam assistência aos idosos, e tantos outros grupos de trabalho e ação que davam dinamismo e vida ao colégio e à comunidade. Dali saíram muitos alunos, que com a boa formação básica que tiveram, puderam continuar os estudos e se destacar em suas profissões e vocações, em muitos lugares deste nosso país e até fora dele. Nunca será demais lembrar das aulas e dos professores, dos momentos de festas e comemorações, dos passeios e pic-nics, da construção da quadra do colégio feita em regime de mutirão com os alunos, que fizeram também campanhas para angariar os recursos necessários. Tudo isso no tempo em que o Patronato era tão festivo e tão integrado com a comunidade que os alunos iam nos fins de semana para o colégio. Hoje os tempos são outros, a realidade sócio-econômica e política do município mudou. Diria também que a realidade cultural. As políticas de educação também mudaram, as verbas públicas e bolsas para colégios considerados particulares deixaram praticamente de existir. O tamanho monumental do prédio, criado para abrigar grandes objetivos, é de difícil manutenção. Poderíamos pensar que já não é necessária tanta luta para estudar, como foi a dessa geração pioneira para criar e manter o Patronato. Entretanto, apesar de hoje haver outros colégios, a educação continua sendo uma necessidade premente no município de Viçosa. E o Patronato Tenente Ângelo de Siqueira Passos continua sendo um símbolo disso e um desafio para quem está vivo até hoje, e pensa nas novas gerações como o fizeram esses pioneiros. Morrendo o Patronato Tenente Ângelo de Siqueira Passos morrerá um esforço de gerações que lutaram e dedicaram partes de suas vidas acreditando que a educação seria um dos maiores legados que poderiam deixar para os seus filhos e netos. Por isso, e me fazendo porta-voz de grande parte das pessoas da minha geração em Viçosa do Ceará, digo: S.O.S para o Patronato Tenente Ângelo de Siqueira Passos. Em memória de Francisco Caldas da Silveira, das Irmãs de Caridade fundadoras do colégio, e de todos os que em Viçosa lutaram um dia para construir um futuro melhor para as gerações vindouras. |
Verônica Maria Mapurunga de Miranda |
fevereiro/2000 |
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Este artigo foi publicado pela primeira vez no sítio S. O. S - Patronato Tenente Ângelo de Siqueira Passos - Em Fevereiro de 2000. Sitio criado por Verônica M. Mapurunga de Miranda, com textos seus e das Irmãs de Caridade do Patronato, com fotografias patrocinadas por Sérgio Roberto Mapurunga de Miranda e hospedagem gratuita pelo provedor MCANET, na época pertencente a Alfredo Carneiro Miranda Filho. Foi uma iniciativa particular, como ex-alunos, uma campanha na web realizada para angariar recursos para o PATRONATO que estava quase fechando as portas por falta de recursos. Campanha esta que se somou a outras iniciativas das associações de pais dos alunos e de vários ex-alunos. |
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Midi de fundo: Odeon -Ernesto Nazareth -1910 |
Plano de fundo: Patronato Tenente Ângelo de Siqueira Passos |
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