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Viçosa -Trezentos Anos

Viçosa do Ceará está completando, em 15 de Agosto de 2000, trezentos anos da fundação oficial como Aldeia de Ibiapaba, futura cidade de Viçosa.

Ao completar idades, ao marcarmos no tempo a folhinha do tempo cronológico da cidade de Viçosa ( Viçosa trezentos anos de fundação como aldeia), buscamos o passado, procuramos pessoas que deixaram marcas através do tempo, apegamo-nos à história passada sentimentalmente ou buscamos o progresso que há de vir no futuro. Esquecemos, contudo, o presente.

Esta reflexão tenta recuperar uma abordagem de Walter Benjamin ao significado da história, fundada em um outro conceito de tempo, "o tempo de agora", que não  é um tempo cronológico e linear, mas um tempo no qual se identifica no passado "os germes de uma outra história, capaz de levar em consideração os sofrimentos acumulados e de dar uma nova face às esperanças frustradas..."

Uma história aberta é o que se busca, em que seja dado fala a todos os sujeitos dessa sociedade, a história subterrânea, em que as classes e os grupos hegemônicos não sejam os únicos a terem voz.

Deixemos de lado, então, os heróis, apontados através do tempo, e volvamos os olhos para todos os participantes, heróis cotidianos. Perguntemos: quem construiu as igrejas de Viçosa do Ceará?  Alguém poderá responder que foram fundadas pelos jesuítas e padres dessa paróquia, prefeitos ou governadores.

Mas lembremos que todas contaram com o concurso de campanhas para angariar recursos e com trabalhos voluntários de tantos cidadãos e cidadãs viçosenses, anônimos em sua contribuição. Com certeza não foram os jesuítas, somente com suas mãos, a erguerem a primeira igreja. Mas as mãos indígenas que a despeito da destruição de sua cultura levantaram as primeiras paredes da Igreja Matriz, símbolo da colonização, da conquista dos portugueses e que hoje está sendo comemorada.

Trezentos anos de Viçosa? Mas será que trezentos anos de povo viçosense? Não seremos também frutos patentes dessa cultura indígena sacrificada? Hoje não podemos negar: somos índios, portugueses, franceses e africanos. Necessitamos dar voz a todos.

Sob o signo da cultura católica que aí se estabeleceu e prosperou por séculos há o sacrifício de outra cultura, há o trabalho de milhares de pessoas que constituíram a sua economia, do café, da cana-de-açúcar, pimenta do reino, e hoje de suas hortaliças, frutas, e serviços. Atrás dos novos horizontes turísticos que despontam, temos as expressões culturais que necessitam ser valorizadas e que tem uma tessitura urdida na vivência, e no trabalho da população.

Um longo caminho foi percorrido, mas não um caminho vazio e nem homogêneo: ele está cheio de relações, de diferenças, de dominações e de insubordinações, de destruições, de rupturas, mas também de construções e reconstruções.

Poderíamos dizer que a cidade "progrediu", mas poderíamos dizer que também hoje há um cordão de pobreza crescente em torno dela. Ela se modernizou, tem mais colégios, tem mais carros, tem asfalto, mais meios de comunicação, mas há um aumento da violência, de doenças,  e  é necessário lutar pela preservação dos seus recursos naturais.

A sua população, e em especial essa população trabalhadora, que trabalha com cerâmica, essa população que canta serestas, essa população que toca pífano, sanfona, que constitui bandas, que tem uma culinária especial, essa população que tem um jeito próprio de ser e de viver viçosense são seus verdadeiros heróis. Os porta-vozes dessa cultura, e que carregam em si todos esses sujeitos, que são sua "síntese", deverão ser realmente celebrados nesse dia. E não só por eles, mas por todos.

Aproveitemos a "oportunidade histórica" para resgatarmos a possibilidade de começar a olhar essa realidade com outros olhos. Não os olhos do passado, não os olhos do futuro. Mas, os do presente, encarando os erros, os sofrimentos, os sacrifícios,  valorizando a participação e contribuição da população, reconhecendo e validando as expressões dessa cultura.

A César o que é de César, à população viçosense o que é um   direito dela - resgatar sua cultura, suas tradições e sua participação efetiva nos destinos de sua cidade.

Verônica Maria Mapurunga de Miranda

14/08/2000

 


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