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O Escritor e o Poder (Fragmentos)

Octavio Paz

 

"A palavra do escritor tem força porque brota de uma situação de não-força. Não fala do Palácio Nacional, da tribuna popular ou dos escritórios do Comitê Central: fala do seu quarto. Não fala em nome da nação, da classe operária, da gleba, das minorias étnicas, dos partidos. Nem sequer fala em nome de si mesmo: a primeira coisa que um verdadeiro escritor faz é duvidar de sua própria existência. A literatura começa quando alguém se pergunta: quem fala em mim quando falo? O poeta e o romancista projetam essa dúvida sobre a linguagem e por isso a criação literária é simultaneamente crítica da linguagem e crítica da própria literatura. A poesia é revelação porque é crítica: abre, desvenda, põe à vista o escondido - as paixões ocultas, a vertente noturna das coisas, o reverso dos signos. O político representa uma classe, um partido ou uma nação; o escritor não representa ninguém."

"A voz do político surge de um acordo tácito ou explícito entre os seus representados; a voz do escritor nasce de um desacordo com o mundo ou consigo mesmo, é a expressão da vertigem ante a identidade que se desagrega. O escritor desenha com as suas palavras uma falha, uma fissura. E descobre no rosto do Presidente, do César, do Dirigente Amado e do Pai do Povo a mesma falha, a mesma fissura. A literatura desnuda os chefes do seu poder e, desse modo, os humaniza. Devolve-os à sua mortalidade, que é também a nossa."

 

Octavio Paz -O Escritor e o Poder em  O Ogro Filantrópico - Tradução de Sônia Régis -Ed. Guanabara - Rio de Janeiro, 1989 .págs. 352-353

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