-------------------- |
Homenagem às Curandeiras de Viçosa do Ceará, mulheres curadoras, parteiras, rezadeiras, portadoras de saberes da natureza, herdados de nossas culturas ancestrais, que cuidaram de muitas gerações, com seus chás, tisanas e energias poderosas e de cura e ajudaram a dar à luz a muitas crianças, por elas também tratadas. Seus cuidados, sua doação e entrega às pessoas, sua relação com a natureza, seus saberes e intuição fazem-nos recordar um poder e saber feminino e de raiz, que traz toda mulher na relação com a natureza e cada vez mais necessários ao mundo. |
|
A CURANDEIRA |
|
Para lembrarmos de nós mesmas e de uma capacidade de curar e de cuidado que todas portamos, lembramos as antigas curandeiras. Um valor de um feminino profundo que precisa vir à lume para todos, mulheres e homens, relembrando nossa relação com a natureza e nossa conexão com os seres e universo. A tivemos em muitos lugares e delas sempre tivemos boas recordações, antes que a medicina as substituíssem e em muitos lugares até a negassem. Quem da minha geração em Viçosa não recorda de Dª. Canã a quem chamávamos vovó quando criança e que era uma das parteiras mais prezadas. Trouxe muitas crianças ao mundo e desde que a mulher aproximava-se do trabalho de parto tornava-se autoridade na casa. Reorganizava a dinâmica do lar em função da parturiente e da criança que vinha à luz. Orientava as mulheres e tinha um cuidado especial com seu resguardo, a adaptação da mulher ao aleitamento, a comida especial, os cuidados com as energias do ambiente para receber os bebês. Usava alfazema para defumar o quarto e as roupas do bebê. Regrava os horários de visitas e descanso, fazia-lhes os chás de ervas necessários e dava tranqüilidade á mãe. Não se ouvia falar de depressão pós-parto. As parteiras eram iniciadoras das novas mães que se sentiam protegidas pelo conhecimento e cuidado da parteira. Quem da minha geração também não ouviu falar de Dª Madalena de João Caetano. Uma mulher alta, de semblante sério, voz forte e energia poderosa. Quando uma criança começava com sintomas de mau-olhado era comum chamá-la para a cura. Chegava com um grande terço de madeira, que fazia passar dentro a criança, com rezas que fazia em voz baixa e só ela sabia. Percebia-se o seu poder, por sua presença. E logo a criança estava brincando e se alimentando. O que ela fazia muitos xamãs fazem e que chamam de manejo de energias. E assim eram tantas outras, que curavam doenças, que curavam plantas e até animais. Capacidades e poderes que as mulheres foram perdendo à medida que a ciência, a medicina e a religião chamavam essas práticas de superstição. É importante assinalar que a medicina e as religiões cristãs como um reduto primeiramente masculino e patriarcal reclamavam o poder de curar, de salvar as almas e o saber feminino e curador foi deslocado, esquecido, assim como os saberes da natureza. Ainda tivemos na era das Farmácias, que no início eram Boticas, mulheres que faziam remédios e que cuidavam das pessoas, em uma época que médicos eram uma raridade no interior. Destacam-se Dª Hilda Pinho Pessoa, da memória de meu pai, que muito falava sobre seus remédios e que detinha um enorme conhecimento das plantas e ervas. Fazia remédios que curaram muitos. Dª Maricoca, da farmácia do Dedé, cumpria um papel interdisciplinar, desde o remédio de Botica, à conversa sobre os problemas do doente, fazendo vezes do que hoje se chama psicólogo. Ia às casas, fazia visitas, cuidava, receitava plantas e os remédios de farmácia, com um conhecimento prático das doenças, dos remédios e ervas, raízes, cascas de árvores e com uma intuição acurada. E assim essas mulheres tinham um papel relevante na comunidade e um saber que se foi perdendo porque não cultivado, não repassado e aos poucos ficaram nos subterrâneos da cultura. Essa relação com a natureza, com a terra, com as plantas, com a cura natural, com o poder curativo que a mulher possui vem nos provocar para buscar uma vida mais integral, um reconhecimento e resgate dos antigos saberes femininos, suas práticas curativas, o desenvolvimento da intuição e seus poderes naturais que as mulheres e a humanidade atual necessitam.
Verônica Maria Mapurunga de Miranda- 19/11/2017 |
Escultura do Plano de fundo: A CURANDEIRA - outubro/2017 |
por Verônica Maria Mapurunga de Miranda -Vide Galeria |
Midi de fundo: Lua Branca de Chiquinha Gonzaga - 1911 |
var
|
Viçosa do Ceará -Uma página não oficial |
EM ARTESANIAS - DE VERÔNICA MIRANDA-www.veronicammiranda.com.br |
A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTA PÁGINA NÃO ESTÁ PERMITIDA |
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS |