TRANSITANDO EM NOVOS PARADIGMAS

O NOVO FEMININO

       E 

         FEMINISMOS

 

AQUI É UM ESPAÇO PARA REUNIR COMENTÁRIOS E REFLEXÕES QUE VENHO FAZENDO NO MUNDO VIRTUAL SOBRE ESSA QUESTÃO QUE SE INSCREVE NOS NOVOS PARADIGMAS E QUE DIZEM RESPEITO ÀS PRINCIPAIS MUDANÇAS DESTE SÉCULO QUE JÁ FORAM INICIADAS. O QUESTIONAMENTO DA SOCIEDADE E CULTURA PATRIARCAIS, COM O SURGIMENTO DO NOVO FEMININO E DOS FEMINISMOS ATUANTES. SÃO ARTIGOS DE OUTRAS SEÇÕES DO SITE, BEM COMO DE COMENTÁRIOS E REFLEXÕES AQUI DESENVOLVIDOS SOBRE O TEMA. - VERONICA MARIA MAPURUNGA DE MIRANDA -16.06.2019 -    


A COMPETIÇÃO E A SEPARATIVIDADE COLIDEM COM AS LEIS DO AMOR E CONEXÃO

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Este artigo surgiu de um comentário e reflexão sobre um post de uma amiga na internet relacionado a "ajudar a um colega de trabalho, diferentemente de concorrer". Todas essas questões colocadas abaixo no comentário, se resumem, de fato, em que vivemos em uma sociedade e culturas egóicas, em que desde cedo aprendemos a separatividade, a concorrência, a lei do mais forte, a especialização de tudo para sermos cada vez melhores e mais aptos e assim ganhar todas as corridas e competições: no emprego, no conhecimento, na posição social, na cultura e aparentemente na vida. São noções políticas e éticas que somente mais adiante e diante de nossas próprias insatisfações pessoais vamos saber que são insuficientes. Quando começamos a nos autoconhecer  começamos a entender que tudo isso é extremamente insuficiente e até equivocado.

Assim deveria ser, mas infelizmente todo nosso sistema econômico, político e conseqüentemente social está baseado na competição. Quando formamos o ego, desde criança, ele supõe a separatividade. E nós só vamos alcançar a consciência dessa relação de união, de conexão com os outros, à medida em que tomemos consciência do quanto somos condicionados a outra coisa: divisão, separação, competição. Devido a essa instância de poder egóica. É necessário, que as máscaras pessoais, sociais e culturais em nós comecem a cair, para podermos sentir a conexão com os outros e poder nos maravilhar com tudo o que os outros fazem de contribuição ao mundo e a nós. Todos podemos usufruir daquilo que os outros fazem, sem necessitar tomar para si, se apoderar do que é dos outros, e usar as pessoas para esses fins indevidos. Infelizmente em ambientes tomados por política em um velho sentido, por pessoas que até levantam cartazes da solidariedade, essas ações são até mal interpretadas. Em alguns ambientes as pessoas usam e abusam dos outros. É necessário ter consciência disso. Isso é o sistema terra que precisa mudar e está mudando.

 Uma vez aconteceu comigo, que eu era coordenadora de uma equipe de trabalho, precisaram de mim e de outro coordenador para contratar pessoas em outra linha de trabalho, mas relacionado ao nosso. Vimos as indicações da direção e selecionamos duas pessoas com muito acolhimento, ajudando-as além de nossas atribuições, em tudo o que era possível. Os salários eram fixados pela diretoria e não era da nossa alçada. Não passou muito tempo, o coordenador que era uma pessoa honesta e via o trabalho importante que nossa equipe fazia chegou e me disse que uma das moças que tinham sido selecionadas por nós, tinha ido até a coordenação reclamar aumento de salário, comparando o salário dela com o meu. Agora pasme sobre o argumento: porque era mulher como eu, já que a maioria das pessoas eram homens. Ele ficou indignado porque os salários tinham a ver com cargos, funções, capacidade de execução, currículo e resultado. E o trabalho dela em relação ao meu era incomparável, porque outro tipo de trabalho, com outra carga horária e outras responsabilidades, além de outros conhecimentos. Além disso, segundo ele eu ganhava menos do que merecia. Isso serviu para eu aprender que não necessariamente aquilo que você faz aos outros tem o mesmo retorno, porque cada um dá o que tem e nem todos estão necessariamente prontos para esse tipo de relação. Depois disso, eu também pude observar esse tipo de relação em outros ambientes, até mesmo naqueles que dizem ser comunitários e solidários. Lição a ser levada consigo sempre, essa relação só é possível ser construída a partir de dentro. A solidariedade, a correspondência, a reciprocidade não surgem de fora para dentro, muitas vezes é apenas uma capa, ou um discurso. Só as temos com autoconhecimento, com ética conquistada e permanentemente refletida. Mas também com o cultivo do coração em um amplo sentido. O movimento atual vai em direção da conexão e do amor e tudo o que fizermos em outro sentido gerará conflitos. Alguns conflitos, entretanto, servirão para colocar à mostra a iniqüidade do velho sistema, que está em todos através dos condicionamentos.

As mulheres em crescimento e reposicionamento enquanto coletivo na sociedade e cultura têm que entender que se situar como "pessoa" em qualquer situação é extremamente importante. Ninguém que é pessoa aceita ser menos que isso, aceita ter um rótulo seja de mulher, seja de uma classificação dada somente para parte daquilo que é. A competição e a separatividade é também parte de um sistema patriarcal. As mulheres como quaisquer outras pessoas estão submetidas aos mesmos condicionamentos e padrões de uma sociedade e cultura machista, coronelista, capitalista, competitiva, separatista. E refletir e buscar esses condicionamentos em si é muito importante, inclusive para o próprio movimento feminista. Ninguém que é pessoa aceita ser comparada. Daí que as próprias mulheres têm que conquistar esse status, de ser pessoas e não ser somente mulheres, e de ser mulheres e femininas, também, além de ser pessoas. Mas de buscar um novo feminino a partir de outras memórias e outros desdobramentos. Estou falando disso em um dado nível, porque o que redimiria a todos seria "SER". Mas essa é uma trajetória que pode ir sendo construída, à medida em que formos todos buscando soluções a "partir de dentro". 

Voltando à esfera coletiva, nos encontramos permanentemente com essas ações e reações, porque precisamos refletir sobre elas  e também buscá-las em nós mesmos. Sabendo que há um processo de busca e crescimento das pessoas nesse sentido, vemos também as derrocadas e colapsos dos sistemas econômicos e políticos que estimulam essa mentalidade, esses valores e formas de vida. Lamentavelmente não somente os agentes do sistema carregam essas premissas de vida e sociabilidade, mas aqueles e aquelas que se sentem oprimidos no sistema. A inconsciência das próprias ações, das emoções, dos recalques, do opressor interno interferem nas ações e movimentos, que muitas vezes pretendem ser uma alternativa ao sistema. Se ele não mudar por dentro, não muda por fora. Bauman morreu dizendo isto e muitos outros que já se foram do sistema terra e/ou que estão ainda por aqui. Mais do que nunca, o sistema em que vivemos está virtualizado e temos que nos haver com as forças internas. Viver na superfície parece ser mais fácil, mas é também o lugar mais fácil de entrar em colapso, sem sustentação. Nunca como agora as relações de interdependência foram tão importantes à humanidade (a todos nós), daí a necessidade de refletir sobre essas relações verticais, de poder egóico, de separatividade, de competição, de saber que tudo aquilo que afeta um afeta aos outros e ao sistema como um todo. Somos todos responsáveis.

 

Veronica Maria Mapurunga Miranda. 05.12.2019

 

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