TRANSITANDO EM NOVOS PARADIGMAS

O NOVO FEMININO

       E 

         FEMINISMOS

 

AQUI É UM ESPAÇO PARA REUNIR COMENTÁRIOS E REFLEXÕES QUE VENHO FAZENDO NO MUNDO VIRTUAL SOBRE ESSA QUESTÃO QUE SE INSCREVE NOS NOVOS PARADIGMAS E QUE DIZEM RESPEITO ÀS PRINCIPAIS MUDANÇAS DESTE SÉCULO QUE JÁ FORAM INICIADAS. O QUESTIONAMENTO DA SOCIEDADE E CULTURA PATRIARCAIS, COM O SURGIMENTO DO NOVO FEMININO E DOS FEMINISMOS ATUANTES. SÃO ARTIGOS DE OUTRAS SEÇÕES DO SITE, BEM COMO DE COMENTÁRIOS E REFLEXÕES AQUI DESENVOLVIDOS SOBRE O TEMA. - VERONICA MARIA MAPURUNGA DE MIRANDA -16.06.2019 -    


Espiritualidade Feminina
 

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Comecei a fazer essas reflexões assistindo a uma conversa sobre espiritualidade feminina com Ivone Gebara, filósofa e teóloga feminista e Carmiña Navia*. Na conversa perpassa toda a dificuldade que significa ir além da religião e além dos próprios condicionamentos e parâmetros do patriarcado. Porque são milhares de anos que as mulheres ocidentais e orientais mesmo participando ativamente da história estiveram alheias como sujeitos de suas próprias necessidades e histórias.

 E por isso é verdadeiro que precisamos resgatar as várias histórias femininas, em sua pluralidade, para começar a resgatar tudo o que se refere ao feminino que é necessário às nossas culturas e ao planeta, considerando, entretanto, que boa parte dessa narrativa é condicionada, ou seja, contada em um contexto patriarcal, em que o patriarcado não permitiu que as mulheres pudessem ser sujeitos reais de suas histórias, assim como não permitiu o surgimento de outras masculinidades capazes de conviver melhor com o feminino. Dessa forma, temos que conviver com a idéia de que é necessário autoconhecimento, bom aproveitamento das crises que estão ocorrendo e realizar  a diferenciação da cultura que é patriarcal, para termos algo que seja uma espiritualidade que retome um antigo sentido de “religare” e um novo sentido de consciência, que vai além das meras representações culturais e “egóicas”.

 Infelizmente ou não, pertencer a uma religião ou seita já não é suficiente para as necessidades espirituais. A época que estamos vivendo pede mais do que as religiões cristãs são capazes de dar à uma espiritualidade feminina e a espiritualidade em geral, que apontaria para uma consciência cósmica, mais ao estilo de Francisco de Assis. Dentro da Igreja a insatisfação já existe, se considerarmos  os problemas que a igreja tem na relação com o corpo e a natureza, e os recorrentes abusos de poder e violência contra a mulher perpetrados nesse âmbito. São séculos de condicionamento. Mas considero um tanto preconceituoso dizer que falar de espiritualidade é algo de uma elite.

Muitas vezes essa percepção de que somente uma elite de mulheres estão despertas para a problemática feminina, parte da dificuldade de comunicação e de relações suficientes entre os vários coletivos de mulheres e das experiências que ainda são isoladas, de muitas mulheres. Há um grupo ou grupos de mulheres que têm mais voz, que suas colocações são mais audíveis para um dado mundo seja intelectual, seja das comunicações, seja da cultura hegemônica, mas isso não significa mais conhecimento do assunto. Esse conhecimento ainda é limitado em todas as áreas e urge que as próprias mulheres possam trocar e aprender umas com as outras estabelecendo a horizontalidade necessária e reclamada. As mulheres ocidentais intelectuais portam os mesmos vícios desse âmbito, infelizmente, que usa a verticalidade do sistema e de conhecimentos aprendidos para repassar para outras mulheres, quando na verdade a escuta de outras experiências, outros conhecimentos e outras cosmovisões são necessárias para todas. Há um espaço que é o espaço da aprendizagem, onde todas temos o que aprender, para se ampliar em consciência. O novo feminino que está chegando não existe e em parte virá das emanações da própria terra e das possibilidades inconscientes e ocultas que todas portamos. E em outra parte virá da construção e várias perspectivas das mulheres envolvidas com esse novo conhecimento. Existe sempre a tentação de dizer quais são os valores que temos que seguir ou o que as mulheres devem ser. E isso é muito patriarcal e vertical e é a velha cultura patriarcal sempre querendo definir qual é o lugar das mulheres e onde elas devem se encaixar.  E nesse sentido talvez seja necessário criar o "espaço da ignorância", que é aquele em que percebemos que o que sempre soubemos e aprendemos(ou pelo menos grande parte disso) em uma dada cultura e sociedade já não serve.**

 Nas classes populares há, de fato, naquelas religiões ligadas à natureza uma outra noção de espiritualidade e de imago dei. As mulheres originárias também têm uma percepção bem diferente  das cristãs, assim como as religiões orientais e estão mais de acordo com as mudanças que estão ocorrendo no planeta. Existem cosmovisões diferentes e nunca vistas ou não aceitas que são capazes de impulsionar outras descobertas e realidades para as mulheres. Apesar de cada pessoa poder se manifestar sobre a sua espiritualidade, ela também tem a ver com o espírito da época e atualmente com as necessidades do planeta. Junto com a crise global que começa a destruir velhos parâmetros e paradigmas estão emergindo, seja de uma memória ancestral, seja de um leito profundo de rio de águas primordiais, novas formas, novas expressões, novas intuições que buscam atingir uma transcendência e um novo patamar para esses tempos de mudanças aceleradas. O feminino faz falta em todos os âmbitos e principalmente nas religiões cristãs. O patriarcado junto com o capitalismo está fazendo água.  Daí eu entender a dificuldade das reflexões no que se refere a essas mudanças necessárias, porque a religião católica está muito distante da experiência real da espiritualidade, com as exceções devidas.

 Não esqueçamos que Tereza Dávila tinha êxtase e dizia que toda a experiência espiritual trazia um retorno importante para o corpo. As mulheres precisam tomar posse de seus masculinos de uma forma toda nova, com coragem, criatividade, intuição e instinto reflexivo para poderem refletir e repensar novos parâmetros do feminino para a sociedade e cultura. A dimensão da natureza nos faz ser tudo o que existe na terra, seja animal, vegetal ou mineral, além de ser humano. E nisso se inclui uma nova forma de espiritualidade ligada à natureza, à intuição, ao corpo naquilo que providencia uma melhor conexão com a terra e entre os seres humanos. A espiritualidade, querendo ou não tornou-se algo natural, que precisa ser buscada e experienciada nessa verdade e como uma ampliação de consciência. Quem não conseguir atravessar os portais da consciência não passará no planeta e as mulheres têm a missão de serem o carro chefe dessas mudanças. Para isso as mulheres têm que se reencontrar em um esforço que vá antes e além do patriarcado, resgatando suas qualidades femininas alienadas no sistema patriarcal e capitalista e redefinindo-as em outro patamar para as mudanças necessárias a si e ao planeta. E isso não é teoria, mas será realizado na experiência conjunta e plural das mulheres. As mulheres precisam se render às suas próprias necessidades, para além do sistema patriarcal.

 Resgatando um parágrafo que escrevi no mural desta página Artesanias de Verônica Miranda: COM TODO RESPEITO PELA LUA, MAS OS TEMPOS SÃO DE SOL FEMININO. É VERDADE, A LUA JÁ ESTAVA EM NÓS ANTES MESMO DO HOMEM PISAR EM SEU SOLO. MAS AGORA NOSSA  LUA SERÁ ILUMINADA  POR NOSSO PRÓPRIO SOL. A MULHER VAI INAUGURAR UM NOVO TIPO DE CONJUNÇÃO PARA PODER DESFRUTAR DO SEU MASCULINO INTERIOR DE FORMA TODA NOVA, PARA TODAS E TODOS. NADA IMPEDE QUE SEJA A "ENTREGA DOCE E SUAVE INSPIRAÇÃO", MAS A MULHER TEM QUE SER SELVAGEM, DE ACORDO COM O TEMPO DA NATUREZA. SEM ISSO NÃO OCORRERÃO AS TRANSFORMAÇÕES NECESSÁRIAS. A MULHER NECESSITA TER LUZ PRÓPRIA NA SOCIEDADE, NA CULTURA E NA ESPIRITUALIDADE. E TODAS QUE ESTIVEREM AQUI NESTA ÉPOCA DE MUDANÇAS ESTARÃO CUMPRINDO AS TRANSFORMAÇÕES QUE O MUNDO NECESSITA. AQUELES E AQUELAS QUE AINDA NÃO ACEITAM ISSO TERÃO QUE OUVIR DO PRÓPRIO FEMININO QUE EMERGE: DECIFRA-ME OU TE DEVORO. MUITA ELETRICIDADE E GARRA! Veronica Maria Mapurunga de Miranda - 16.05.2021

 

Verônica Maria Mapurunga de Miranda – 20.07.2022

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*https://www.youtube.com/watch?v=hhxgMko2r4g

**  Coloquei este parágrafo dois dias depois de escrever o artigo, porque senti necessidade de esclarecer o que entendia por elite nesse caso. Ia fazer como nota, mas ficou muito estendida.

 
 
 

Artesanias - de Verônica Miranda www.veronicammiranda.com.br

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