TRANSITANDO EM NOVOS PARADIGMAS

O NOVO FEMININO

       E 

         FEMINISMOS

 

AQUI É UM ESPAÇO PARA REUNIR COMENTÁRIOS E REFLEXÕES QUE VENHO FAZENDO NO MUNDO VIRTUAL SOBRE ESSA QUESTÃO QUE SE INSCREVE NOS NOVOS PARADIGMAS E QUE DIZEM RESPEITO ÀS PRINCIPAIS MUDANÇAS DESTE SÉCULO QUE JÁ FORAM INICIADAS. O QUESTIONAMENTO DA SOCIEDADE E CULTURA PATRIARCAIS, COM O SURGIMENTO DO NOVO FEMININO E DOS FEMINISMOS ATUANTES. SÃO ARTIGOS DE OUTRAS SEÇÕES DO SITE, BEM COMO DE COMENTÁRIOS E REFLEXÕES AQUI DESENVOLVIDOS SOBRE O TEMA. - VERONICA MARIA MAPURUNGA DE MIRANDA -16.06.2019 -    


Cronicando o Poder Feminino (À moda de Quentin Tarantino)

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Pensei que podia me livrar desse assunto, no mínimo polêmico. Mas, como vivemos no século dos sobressaltos e do “tudo é possível” ele começou a chegar à minha mente. De início pensei que era tagarelice dela que fica de “oiça” em tantas lives sobre o assunto. Mas aí foi que me dei conta de que o assunto está na moda. E não é um modismo fácil de destrinchar. Falar de poder, do arquétipo do poder, algo tão vivido, tão cotidiano, tão relacional. Um bispo conhecido e respeitável dizia em uma entrevista: Basta estarmos com uma pessoa a mais e já temos uma relação de poder. E hoje eu diria: Basta estar sozinho, com a mente e o ego querendo dirigir sua vida, como um rei ou uma rainha, e você já tem uma relação de poder. Pois é, ele é eminentemente egóico. Jung já dizia: Onde há poder, não há amor e vice-versa. Ele se referia basicamente ao poder egóico. E hoje com tantos estudos na área transpessoal, espiritual e quântica sabemos que  o amor é um poder, um poder invencível. Mas é necessário tê-lo, senti-lo com o coração e chacras abertos. Algo ainda difícil de ser experienciado em toda a sua pujança. E por isso eu não quis teorizar sobre o assunto. Mas como os pensamentos irrequietos começaram a trazer imagens eu pensei: Tenho que cronicar. E assim foram jorrando imagens, histórias antigas e novas e como sempre me surpreendendo. No fim eu sempre penso: Não esperava que saísse isso. Mas assim é. Vamos a ele: O poder feminino.

 Se é difícil falar de poder, quanto mais do poder feminino. A primeira coisa que temos que distinguir é feminino de mulher. Não, por favor, não pense que estou retirando a representação de gênero, até porque um dia me revoltei. Perguntaram a um guru o que ele pensava que era o feminino e ele respondeu: o feminino é a água, o feminino é  a natureza, o feminino é a lua...E eu esperando...E ele não continuou. Aí eu pensei: Acabaram com nós, mulheres! Meu povo... Será que não servimos mais nem para representar o feminino? Para o guru não representávamos mais.  Pois é, não é disso que estou falando. Refiro-me ao feminino como uma qualidade que têm mulheres, que têm homens como contraparte, além das imagens arquetípicas da natureza.

  Falo isso porque com o desenvolvimento do patriarcado como sistema, o feminino e sua representação diminuiu bastante, ao ponto da psicanálise de Freud e Lacan considerar que o masculino existe como qualidade e o feminino não. Este é constituído a partir das experiências que se tem na sociedade patriarcal, tal qual “Eva nascendo da costela do Adão”. Essa idéia um tanto excludente do feminino foi quebrada por Jung, que resgatou na psique o feminino e várias formas do feminino, bem como a contraparte feminina no homem. Apesar de haver críticas hoje sobre as observações que Jung fazia sobre as mulheres ( Há literatura que fala do machismo de Jung.), foi ele que resgatou esta qualidade para o ser humano e cultura ocidentais, como algo próprio (inclusive ele fala do sol feminino) com base nas filosofias e religiões orientais e estudos históricos  das sociedades pretéritas em que havia o Deus e a Deusa. O patriarcado, com as religiões ocidentais e o desenvolvimento do capitalismo deu conta do soterramento dessa qualidade feminina da cultura e até da vida diária, quando assumimos uma mentalidade patriarcal, que sem percebermos é parâmetro para os dois sexos.

  Além disso, é necessário considerar que como mulher, cada uma pode ser feminina o quanto quiser, ou não, contanto que o feminino seja uma qualidade do coletivo, da cultura, que restabeleça um parâmetro para todos, da mesma forma que o masculino. Dessa forma, a questão do poder feminino é recolocada, então, já que o poder é uma relação.

 Tudo isso colocado en passant, sem querer teorizar, mas somente para ter um marco em que se desenvolve toda essa história de poder. Hoje, então, depois de muitas sublevações dentro da cultura já há quem fale de “ocaso do patriarcado” e da importância do feminino, daí que todos buscam: Onde estaria realmente o poder feminino?  Dentro do próprio feminismo há divisões ou formas diferentes de pensá-lo.  Há culturas que acham que o poder feminino está no ventre, outras que está nos chacras e outras que acreditam que o cérebro da mulher é diferente do cérebro do homem, como se pensava há não sei quantos mil anos atrás. Só que diziam antes que a mulher não tinha inteligência porque tinha o cérebro menor e agora estão dizendo que é diferente e que constitui um poder diferente. Essa questão me cansa, sinceramente meu cérebro me cansa e estou contente pela ciência já ter descoberto que ele é apenas uma antena ou receptor e que dependemos muito pouco dele (que bom!)  e até podemos reconfigurar  nosso “software” e quem sabe até o “hardware” (por favor não me critiquem, esses termos não são meus é da física quântica).

 Enquanto divagava sobre esses dados que pululam na internet, bate-papos e muitas lives me veio de repente o pé. Por que ninguém nunca fala que o poder feminino está no pé? Se lembrarmos bem, nós mulheres sempre tivemos algum episódio de algum homem fixado nos nossos pés. Eu nunca entendi essas fixações e acho que nem o Dr. Freud, quanto mais o Dr.Jung. Acho que não tinham tempo de pensar sobre isso. Isso é coisa para cronista. Mas me veio outra imagem de Nossa Senhora das Graças pisando com os pés uma serpente. Todas as mulheres católicas e adoradoras de Nossa senhora admiravam a coragem dela de esmagar a serpente com os pés. E eu olhava a imagem e não via cobra esmagada, mas uma cobra vital, com a boca aberta e parecia feliz de estar sob os pés da santa. E eu ficava me perguntando: Por que dizem que a cobra estava esmagada? Com aquela vitalidade toda! Elas estavam trocando energias, isso sim. E hoje , vejo mais claro que são os pés que unem de verdade céu e terra e é um poder que podemos levar aonde vamos, nos sentindo verdadeiras transmissoras dessa energia feminina (celeste e terrestre). Depois lembrei que os homens apaixonados ajoelham-se aos pés de suas amadas para fazer declarações de amor e isso é um reconhecimento do poder dos pés. Veio também uma crônica que fiz para minha avó materna, que faleceu já centenária e que se chamava “Aos teus pés”.  Foi lida nos funerais e dizem (porque eu não estava lá) que assim todos se sentiram, aos seus pés, considerando toda a ancestralidade e um ciclo de existência que ela portava e que se ia com ela. E isso é também poder. Depois como do nada me apareceram pés alados, que está na mitologia. Deveremos estudá-la para entender esse poder feminino ainda inexplorado (rss...rss...).

 Precisei voltar à realidade palpável e então pensei que a mulher européia, por exemplo, sente o poder de forma diferente da mulher da América latina e do Brasil, porque gosta de se sentir “Lady ou Madame”. Eu digo, que pelo fato da família real ter sido expulsa do Brasil esses termos não funcionam muito bem por aqui. As mulheres não gostam de se ver como Lady. Colocam muito o nome Lady para cadelas e gatas. Aqui e ali dão nome a uma vaca com bezerro. E dizem: Oh! Como a Lady hoje está com os peitos cheios! E Lady Di teve muitos nomes registrados, mas como Daiane em sua maioria, e muito mais por ela ser uma plebéia que quebrou o protocolo real no Reino Unido, do que por ser uma Lady. Então, vamos considerar que há muitas diferenças culturais e continentais. E madame, por conta da invasão de prostitutas francesas em certa época no Brasil, fundando cabarés bem diferentes dos franceses, sempre capitaneado por uma delas que se chamava madame, ganhou uma fama ruim, principalmente nos meios populares, que representam a maioria da população.

 Dessa forma, acabamos caindo nas dificuldades e relações cotidianas patriarcais que não são mesmo fáceis. Eu diria até que são duras, para uma grande parte das mulheres. Mesmo assim, hoje já existe uma quantidade de novos estereótipos para as mulheres seguirem e serem poderosas: a mulher tem que ser criativa, tem que ser comunicativa, tem que ser amorosa, tem que ser carinhosa, tem que ser uma rocha que agüente todas as pancadas e aí vai uma quantidade de qualidades para ter poder, que cansa muito e às vezes pensamos em ser a super girl para poder dar conta de tantas qualidades necessárias. Mas mesmo que fôssemos super girl é de se pensar que há muitas minas de kriptonita na face da terra. Mais simples é ser o que cada uma é de verdade e apelar para velhos poderes já esquecidos e fáceis de utilizar.

 E...Foi daí que me veio, como insight, duas passagens, dois fatos que me levaram a uma completa reviravolta na questão, quase à moda de Quentin Tarantino.   Pois como poder é mesmo uma relação e existe muita relação ruim na sociedade patriarcal,  mesmo considerando todos os poderes dos chacras, as mulheres precisam mesmo se cuidar. Vamos lá.

A primeira passagem foi de um fato em uma pequena cidade, onde havia muitas terras devolutas e áreas não registradas. As pessoas chegavam e como as terras não tivessem documento faziam suas casas. E ali naquela pequena cidade havia também cabarés e eram conhecidos, capitaneados sempre por uma madame. Em um dia, não muito alvissareiro, um dos herdeiros das terras não registradas, vendo sua área ocupada por casas construídas sem autorização, resolveu colocar ordem na situação. E decidiu ir até as casas, para pedir que pagassem um aluguel ou taxa pelo uso de suas terras.

 Ele ainda recebeu um aviso: Cuidado! Tem uma senhora aí que é muito valente. É bom você a tratar com muito cuidado. Ele, um homem culto, doutor, sempre mirando a cultura européia resolveu ser o mais gentil possível. Chegando na casa da senhora dita valente, começou a contar gentilmente e calmamente que ela tinha construído sua casa em terras de herança e por isso ele queria que se pagasse uma taxa pelo uso das terras. Ela disse: E os documentos, onde estão? Ele ficou aperreado e tentou ser mais gentil ainda, à moda européia, e disse: Madame,  naquela época não havia documentos....Mal terminou a frase, cabisbaixo e encabulado,  foi levantando a cabeça e horrorizado viu que ela vinha com uma vassoura em sua direção e dizia: Seu desgraçado, você está pensando que eu sou prostituta, pra estar me chamando de madame. Saia daqui senão eu lhe mato com vassourada, sua peste...

 Ele se recompôs e começou a correr...E depois ficou com muitas dúvidas de voltar àquela casa novamente. Em seguida, me veio outra lembrança ou insight, um fato curioso que me mostrou que as mulheres têm mesmo um poder seguro. 

 Estava em uma reunião com várias agricultoras mulheres e representantes de entidades femininas e feministas debatendo a situação feminina no campo, para uma Marcha Nacional. Ali começamos a ouvir os depoimentos  de várias agricultoras sobre as dificuldades, o trabalho invisível das mulheres, as dificuldades de realizar sonhos, a carga de trabalho, o não poder participar das reuniões necessárias, porque sem divisão dos trabalhos domésticos não havia tempo para saídas e por aí vai. Um rosário de dificuldades naquela reunião, todas permeadas pelo poder patriarcal. Já estava me preparando para chegar a casa e fazer um ritual de desintoxicação de tanta informação desempoderada das mulheres . Quando de repente uma mulher que estava calada todo o tempo levantou a mão e pediu para falar. E disse: Vocês estão dizendo aí, esse tempo todo, que quem manda lá na casa de vocês são os homens? E as mulheres disseram : Sim. Ela disse: Pois lá em casa não tem disso não. Quem manda lá em casa são as mulheres. Homem não apita nada. E se apitar, leva vassourada. Todo mundo caiu na gargalhada e ela continuou fazendo gestos, como se estivesse com uma vassoura na mão.

 Senhoras e senhores, concluo pois, depois desses fatos que me vieram como insights, que à moda de Quentin Tarantino a vassoura continua sendo um bom instrumento de poder. Para a vida diária. Saí dali sem precisar de benzimento, renovada por idéias tão antigas que precisam ser atualizadas. Conclui que : Mulher de respeito usa a vassoura! Já comecei minha coleção. Aceito presentes. Além disso, cada mulher pode se tornar um sol radiante, fazendo brilhar aquilo que ela já é profundamente. Mulheres, às vassouras! Que ninguém “apite” perto de mim. 

 

Verônica Maria Mapurunga de Miranda.- 09.01.2021

Post script (Escrito depois) - Parece que estamos em épocas de post script, mas não é uma emenda e sim uma continuidade. Somente para mostrar como Lady pode existir na América Latina, mas de forma bem diferente da Européia. Contou-me há um bom tempo atrás, um amigo que morou em Venezuela desde criança e como a família fosse estrangeira observava bem os hábitos dos venezuelanos. E nessa observação ficou conhecendo uma verdadeira instituição que havia em Venezuela, que era a "Senhora". Bem poderia ser traduzida em inglês para Lady, mas com outro significado. A "Senhora" já era empoderada na sociedade. Qualquer menina já ficava sabendo desde cedo, que chegando à condição de senhora, poderia usar esse recurso, que era aceito por todos. Assim se uma "senhora" estava numa fila para ser atendida e havia demora, ela dizia: Vamos logo com isso, me atenda logo, que eu sou uma senhora! Se passava na rua e algum homem dizia alguma piada de mal gosto, ela dizia: Cale sua boca ordinário, eu sou uma senhora. ô policia, prenda esse homem, ele desacatou uma senhora. E...Se um policial ousasse pedir seus documentos na rua, ela dizia: Me respeite, não vê que eu sou uma senhora. Pá...Dava uma bolsada na cara do policial. E o policial não podia se sentir desacatado, pois isso não se podia fazer com uma senhora. Ora...Pedir documentos  a uma senhora na rua...Era falta de respeito. Dessa forma, na América as mulheres têm uma instituição de respeito que é a "senhora", mas muito mais à moda de Quentin Tarantino. Como vemos as diferenças entre Europa e América são grandes nesse quesito. Bom, não morei em Venezuela e nem sei se a instituição "senhora" ainda existe, mas essa história foi contada por pessoa séria, comprometida com a verdade.  Por favor, não diga que inventei essa história. Respeite, porque eu sou uma "senhora".

Verônica Maria Mapurunga de Miranda.- 10.01.2021

 


 

 

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