Impressões Digitais sobre A COPA

No ataque berinjelas...no gol feijão verde com jerimum caboclo.

Pois, depois do jogo do Brasil com a Inglaterra fiquei muito quieta, na expectativa. Desejava um encontro com o Senegal. Um encontro de troca de energias, com o Olodum brasileiro de um lado e os grupos rítmicos senegaleses de outro.Todos coloridos, vibrantes e cheios de garra. Seria, com certeza, um belo jogo que levaria o vencedor, mais forte e mais cheio de energias, para disputar com o império. Aquela história de novo mundo e velho mundo era um pressentimento:estava escriiiito (rss...rss) desde o jogo com a  Inglaterra, que lutaríamos com o Império. O império contra-ataca. Desta vez a peleja seria com o império turco-otomano.

Percebi que a batata tinha realmente nos entronizado no ciclo de jogos das "Sombras Tenebrosas". Ainda mais quando descobri que a culinária turca usava muito das plantas desta família "Sombras Tenebrosas", como o tomate, a berinjela e o pimentão. Os turcos têm umas 40 formas diferentes de fazer a berinjela. E eu que esperava fazer uma caponata, que tem como um dos ingredientes a berinjela, num desejado jogo com a Itália, acabei entrando de cara na comida turca, que tem com esse país o parentesco da culinária mediterrânea.

Diferentemente dos ingleses, os turcos otomanos foram enriquecendo sua culinária à medida que dominavam diferentes povos, durante seu longo império, além de levarem para todo o mundo seus famosos tapetes. E isso me lembrou a expressão "retirar o tapete". Muito preocupante.  Apesar de serem duros no "ataque"os turcos se abriram às diversas culturas e não impuseram sua religião muçulmana, da forma como fizeram os cristãos. Daí sua rica, variada e extensa culinária. É bem verdade que os tempos em que eles dominavam a maior parte do mundo já vão longe. Hoje restam "as sombras". Assim, entrei de cara nas "sombras"... com as berinjelas recheadas à turca.

Comecei a preparar de véspera  as berinjelas (todo cuidado era pouco), até porque a palavra "ataque" não saía de minha cabeça. Em todos os comentários da semana o calcanhar de aquiles do Brasil era o "ataque da Turquia". Comecei a perceber que isso não era só futebol, mas uma palavra-chave que ficou no ar através dos séculos, chegada até nós pelos nossos ancestrais colonizadores europeus, portanto, um medo ancestral do "ataque turco-otomano".

Tirei a prova dos noves sobre esta questão, ao mesmo tempo singular e universal, quando vi o Ronaldinho mostrar o seu novo corte de cabelo, dias antes do jogo. Ainda que os comentários maliciosos colocassem que ele queria imitar o Beckham da Inglaterra, que ele estava inventando moda, que ele estava com medo de "amarelar", fui mais uma vez às raízes. E vi um Ronaldinho tupi-guarani preparando-se ritualmente para a dança de guerra. Aquele era um guerreiro legitimamente brasileiro, escolhido pelos deuses, para fazer o gol de morte ao império turco-otomano. Acredite se quiser, mas é com essa força que chegaremos ao título...ou não(rss...rss).

Parti, então, para as berinjelas, decidida a enfrentar o medo coletivo e inconsciente. Enquanto as preparava, fritando-as lentamente no azeite, pensei:"Berinjelas...dessa fritura mil séculos vos contemplam". Não ousei falar, entretanto. Em situações assim não gostamos de ser comparados a nenhum Napoleão. E para uma prévia, um amigo, ou mais precisamente uma cobaia, veio com um delicioso vinho, provar da tal receita tenebrosa. Percebi pelo delicioso resultado o porquê dos turcos dominarem tanto tempo os povos. Acreditem, na culinária estão os maiores segredos de guerra. Enquanto degustava aquele prato e vinho deliciosos sentia, aos poucos, que as brumas de séculos se evaporavam.

Estava pronta para enfrentar os turcos, digo, para assistir ao enfrentamento, pois se as berinjelas estão no ataque, no gol está o feijão verde com jerimum caboclo. Preparei, então, uma sopa creme de jerimum caboclo ( cucurbitácea também chamada de abóbora fora do nordeste brasileiro), um iogurte brasileiro mesmo, e reservei o feijão verde do almoço. Pois ainda que eu aprecie o maravilhoso queijo de cabra e as azeitonas deliciosas mediterrâneas e turcas, as berinjelas seriam nordestinamente acompanhadas, nesse dia de provável vitória do Brasil. Já via o feijão verde colhido junto com o jerimum caboclo, depois das primeiras chuvas, muitas vezes acompanhados de um bom maxixe. Êta, Brasil!!!

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O jogo já terminou? Um a zero para o Brasil. Coração acalmado e sombras dissipadas. Agora, restava o prazer da vitória e do almoço saboroso que me esperava-berinjelas recheadas à turca, acompanhadas de feijão verde nordestino. Outras sombras ainda virão?

Pra frente Brasiiillll!

Abraços

Verônica Maria Mapurunga de Miranda - 26/06/2002

 

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