Impressões Digitais sobre A COPA

Yes, nós temos bananas...ou Brasil mostra tua cara.

Os últimos resultados das oitavas de final da copa obrigaram-me a mudar meus planos culinários para essa Copa do Futebol 2002. Surpreendida  com a saída da Itália deixei aquele prato siciliano da Máfia - Ovelha Cozida com Caponata e Minestra, um dos pratos da final, para outra oportunidade. E comecei a repensar os significados das últimas vitórias e derrotas. Parece-me que essa Copa de Futebol é a copa dos novos, ou do mundo novo. Parece que é tempo de rever os nossos conceitos.

Um viva para o estreante Senegal que mostrou um estilo alegre, aguerrido e próprio, de fazer o futebol. Chegaram inteiros como Senegaleses e é assim que estão chegando às finais. A Coréia do Sul, outra revelação. A Turquia, outra surpresa. E o Brasil, como se coloca nessa relação velho-novo? Espero que ele fique como novo mundo.

De qualquer forma, esse jogo Brasil-Inglaterra fez-me viajar à nossa "matrix", no século XIX e à nossa relação, quase antiga, com esse país. Digo matrix porque aí se gerou a espinha dorsal do que hoje temos como estado nacional. Aí foram traçadas e redirecionadas as linhas mestras, sobre as quais nos debatemos hoje quando procuramos nossa identidade cultural e nacional. E quem está lá perpassando tudo,  condicionando e impondo um dado desenvolvimento econômico, e as origens desse "modelo monstro capitalista" que hoje determina em grande medida a vida da população brasileira? A Inglaterra. 

Pois é, nosso encontro é velho. Desde o tempo em que as imposições da Inglaterra à economia brasileira, em busca de um mercado livre, acabou enfraquecendo a nossa monarquia e levando-nos à República, enquanto eles continuaram a dizer até hoje "Deus salve a Rainha".  Seu império, não somente sobre o Brasil, e seus ditames conservadores sobre as políticas econômicas do planeta são dignos de nota e de contestação. Mas por outro lado, precisamos reconhecer que esses encontros forçados, quando nós brasileiros tínhamos que negociar com Liverpool, a quem se dirigiam nossos produtos de exportação, usar casimira inglesa e os produtos de uma indústria que se impunha ao mundo, e forjar leis para responder às suas políticas econômicas, trouxe outras mudanças e repercussões.

Assim, reconheçamos que o fim da escravidão no Brasil, em muito estimulada pela Inglaterra, foi um ganho para nós brasileiros. Perder a monarquia no Brasil não se pode chamar de grande perda política. E ainda, o nome do nosso forró, dança, música e ritmos próprios nordestinos e brasileiros e cada vez mais proeminente em nossa cultura, se deve a esse encontro. Enquanto os ingleses construíam "os caminhos de ferro", as Railways, por esse nordeste afora, o povo precisava se divertir. Os trabalhadores das estradas de ferro não participavam de suas festas particulares, mas haviam as festas "for all", que quer dizer para todos, onde estavam presentes nossas danças e ritmos, como o baião, o xote e muito mais, que da mistura se  transformaram no nosso "forró" atual.

É bem verdade que a culinária inglesa nunca fez muito sucesso por aqui, mas não faz também no resto do mundo(rss...rss). E é mais permeável às culturas que curtem um chá das cinco "the five o'clock tea". Aí aparecem seus cakes, cookies, pies, muffins e geléias variadas e de qualidade. Não podemos negar-lhes a autoria do rosbeef , seus pratos de cordeiro e assados de caças, e seus famosos molhos de yorkshire, de onde saiu o popular  molho inglês. Mas do seu popular e típico fish & chips (peixe fresco frito com batatas fritas) é bom reconhecer que não tem nada de muito típico. E batata inglesa, nós já sabemos, é de origem controvertida.

Portanto, mais uma vez, vamos às nossas origens. Ainda acho que a ginga brasileira no futebol se deve em grande parte à banana. Yes, nós temos banana...e isso no mundo de hoje não significa mais ser de República das Bananas. A banana com grande emprego em nossa culinária, é uma das frutas mais completas e necessárias a uma alimentação sadia.E nós brasileiros a consumimos desde que éramos somente indígenas e vivíamos na Pindorama, como era chamada  essa nossa terra. Hoje a banana já conquistou o mundo e todos a querem. Como banana verde, faz parte de uma variedade grande de pratos salgados, cozidos e fritos, além dos doces, tortas, vitaminas, das comidas para bebês, dieta de enfermos e apreciada ao natural em suas variedades. 

Poetas pasmem. A banana é uma planta da família das Musas, com 35 variedades. A nossa banana prata chama-se Musa sapientium, e as bananas são espécies híbridas, portanto, de acordo com as necessidades dos novos tempos(rss...rss). Já decidi, vou tomar chá inglês com torta de banana  para assistir o jogo Brasil x Inglaterra, e no almoço um bom peixe cearense com banana, "peixe à delicia", com sucos tropicais. 

No final, queremos continuar no novo mundo, com direito ao Penta e, espero ouvir mais uma vez a frase que ouvi um dia, no jornal do cinema, num documentário sobre a exportação da técnica de implosão de edifícios, do Brasil para a Inglaterra: "Mais uma vez a Inglaterra se curva ao Brasil".

Yes, nós temos bananas...Brasiiil mostra a tua cara!

Abraços

Verônica Maria Mapurunga de Miranda - 19/06/2002

Artesanias - de Verônica Miranda www.veronicammiranda.com.br 

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