Impressões Digitais sobre A COPA

Brasil x Bélgica..."Ao vencedor as batatas".

Depois do jogo Brasil x Costa Rica a banana não me saiu da cabeça. Descobri porque. Com aquela qualidade de jogo, elogiado pelos melhores especialistas no assunto, tinha que ter uma razão. Uma marchinha de carnaval passou pela cabeça:"Banana, menina, tem vitamina. Banana engorda e faz crescer". (Não suportarei interpretações malévolas...rss...rss). Pois é...Só pode ser por causa da banana, produto tão típico dos dois países, aquele ponto em comum que as duas seleções tinham: o gol. Digo ponto em comum porque a seleção brasileira é fixada em gol, e justiça se faça em bonitos gols. E a seleção costarriquenha pelo visto detesta gols, pois desprezou todas as oportunidades, para fazer verdadeiros shows de dribles com a bola. De qualquer forma o gol é, pelo menos, o ponto central da discórdia, e a banana  alimenta bem, ao que parece, essa ginga dos jogadores costarriquenhos e brasileiros,  que deve ter feito recordar aos mais velhos (eu, hein?) o jogo de Garrincha.

Mas, a banana cedeu lugar para a batata diante das preocupações universais e decisórias do jogo Brasil x Bélgica. Ainda mais quando eu soube que a batata, hoje um produto da culinária  do mundo inteiro, originou-se da nossa América, mas quem são mesmos os autores da batata frita desde o século XVIII são os belgas. Que aliás disputam essa primazia com a França, que se antecipou para o mundo inteiro divulgando que eram eles os autores. Hoje aquelas batatas chips, que muita gente está comendo com cerveja nos jogos da copa, não é nem mesmo batata pura, mas essa é outra estória.

Os torcedores alcoólicos nada anônimos pasmem. A Bélgica tem uns 600 tipos de cervejas diferentes reconhecidamente das melhores do mundo. Uns 200 tipos de queijos e os melhores chocolates, aromatizados e recheados com frutas (hummm...do jeito que eu gosto), mesmo sem serem os exportadores e produtores de cacau, como o Brasil que até gerou literatura, novelas e filmes sobre o assunto. Falam 3 línguas oficiais e extra-oficialmente giram em torno de duas culturas que os constituem:a dos flamengos e dos valões. Comecei a ficar desconfiada dessas estórias e pensar que não adianta apelar para "os maiores do mundo" supondo que a Bélgica é tão pequena que até a chamam de "tesouro escondido da Europa". Parece que aqui quem não é o maior acaba sendo o melhor. Muito perigooooso! 

Daí que resolvi me concentrar na batata e recuperar meu equilíbrio. Planejei continuar com minha sopa creme de espinafre com cenoura e...batatas. Batatas ao forno com creme (baked potato...imagine só) e pra não deixar a banana de lado achei melhor incluí-la, por enquanto, em uma refrescante, saborosa e salutar salada de frutas, além do café com meu pão integral. Assim, não adianta negar a batata. Se nós não a pegamos, ela nos pega.

Mas a batata me deixou pensativa, pelo caráter polêmico e dividido como foi tomando conta da alimentação dos terráqueos. Desde a sua origem existem controvérsias. Uns dizem que os espanhóis a levaram dos Andes, outros que Francis Drake a pirateou(rss..rss) da Ilha de Chiloé no Chile. De qualquer forma, sua origem é daí, onde segundo pesquisas históricas já era chamada "Pan del Indio" e aparece na arte milenar  Mochica. Mas até ser aceita na Europa foi outro tanto de confusão, pois o clero escocês proibiu o seu cultivo em 1560 porque a Bíblia não mencionava esse alimento e também era um tubérculo, que nascia embaixo da terra, lugar do inferno e demônios para aquele povo. 

Contraditoriamente foi considerada alimento básico em determinadas épocas na Europa, quando foram lançados decretos em que a população era obrigada a comer batatas ou então seria castigada com cortes das orelhas e narizes. E teve até a famosa "Guerra das Batatas"no início do século XVIII, a guerra de sucessão Bavária onde os exércitos rivais abandonaram o campo de batalha ao se esgotarem as provisões de batatas que possuíam. E hoje representa o 4º alimento mais consumido do mundo juntamente com arroz, milho e trigo. 

A batata é uma planta que pertence à família  das chamadas "Sombras Tenebrosas" juntamente com a berinjela, tomate, algumas plantas narcóticas e alucinógenas como a Beladona, Mandrágora e o Tabaco, entre outras. E por isso entre as qualidades medicinais que lhe foram outorgadas, em 1622 um herborista inglês chegou à conclusão de que era afrodisíaca, e continuou  sendo até o século XIX. Nisso se basearam os ingleses para acusarem os  irlandeses das numerosas proles. Diziam de dedo em riste que eles comiam muita batata e por isso tinham tantos filhos. Mas não acredite que aquelas batatas chips que você comprou servem pra isso. Talvez não sirvam nem como alimento e ...Cuidado para não perder o equilíbrio na hora dos jogos. Precisamos de raízes.

Voltei à filosofia das batatas. Pois no mundo há filosofia para tudo, mesmo que seja considerada sandice. E aqui e ali, um filósofo como Quincas Borba do livro de Machado de Assis nos faz ver a mais crua realidade da paz e do conflito, que já encerra a batata em sua trajetória e acaba servindo para a copa.

"- Humanitas é o princípio. Há nas coisas todas certa substância recôndita e idêntica, um princípio único, universal, eterno, comum, indivisível e indestrutível, - ou, para usar a linguagem do grande Camões:

Uma verdade que nas coisas anda, 

Que mora no visíbil e invisíbil.

Pois essa substância ou verdade, esse princípio indestrutível é que é Humanitas. Assim lhe chamo, porque resume o universo, e o universo é o homem. Vais entendendo?

- Pouco; mas, ainda assim, como é que a morte de sua avó...

- Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é a condição da sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.

- Mas a opinião do exterminado?

- Não há exterminado. Desaparece o fenômeno; a substância é a mesma."(1)

Sem outras alternativas para a situação em "jogo" digo contrita: que assim seja! Ao vencedor as batatas.

Abraços

Verônica Maria Mapurunga de Miranda - 16/06/2002


(1) - Machado de Assis- Quincas Borba -Várias edições

Artesanias - de Verônica Miranda www.veronicammiranda.com.br 

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