Impressões Digitais sobre A COPA

De Baião de Dois ou Gallo Pinto...Nossa América, futebol, delírios e outras magias

Os sucos vegetais clorofilados que me esperem, pois a alfafa está muito cara e terá que ser importada. Pois é, da mesma forma que o nosso gado vacum e cavalar nós humanos cearenses também não teremos direito aos sucos vegetais clorofilados da moda, à base de folha de trigo ou alfafa, que já estão sendo vendidos em bandejinhas com preços exorbitantes. Sempre pensei que um dia no processo evolucionário, homens e animais ditos irracionais teriam um ponto de encontro. E agora antecipando-se à evolução natural, no Brasil resolveram esse encontro com uma alimentação similar para os dois gêneros. Porém, trabalhando em planejamento agropecuário há tempos atrás soube que esse encontro não é para cearenses, nem animais e nem humanos. Pelo simples motivo de que trigo e alfafa não se dão bem com o clima e solo cearenses. A alimentação do gado sempre foi e será ainda por muito tempo o nó górdio da nossa agropecuária, onde perdemos muito tempo e tutano buscando alternativas de alimentação para o gado. Ainda bem que os humanos têm outras alternativas, como os sucos naturais de frutas tropicais.

O encontro de brasileiros com os "Ticos",como são carinhosamente chamados os costarriquenhos, nesse jogo de amanhã, levou-me à essas reflexões, já que eles, como nós brasileiros têm uma rica e típica culinária baseada em produtos tropicais. Além da banana e sucos de frutas diversas, têm o milho, uma planta já considerada sagrada por nossos ancestrais indígenas, básica na alimentação da população americana. A definição do milho no Aurélio é bonita: "Erva alta, da família das gramíneas (Zea mays), originária da América do Sul, cultivada por causa dos seus grãos nutritivos, que se dispõem em grossas espigas, e cuja planta apresenta flores de sexos separados, porém sobre o mesmo indivíduo, o que a caracteriza como monóica, tendo as espigas femininas estigmas tão longos que lembram fios de cabelo."

Especulando, diria que no milho está a "união dos contrários" e que ele carrega os cabelos lisos de uma Deusa, que acompanha nosso povo americano desde seus primórdios, sustentando, sendo responsável pelo povoamento deste nosso continente, alimentando nossos mitos, nossos delírios e nossas magias. Nossa América Latina... ainda tão nova em história escrita, mas já tão espoliada, sacrificada, e ainda dependente. Nossa América que luta para que seus filhos possam ter um lugar condigno no futuro próximo do planeta Terra e que possam continuar se alimentando dos frutos que ela sempre os presenteou. 

Esse encontro com os "Ticos" me jogou direto nas raízes, nossas e deles, principalmente porque o técnico deles é alagoano e assim como os brasileiros eles têm um orgulho. São "o centro do centro", ou seja, ficam no centro do istmo, da América Central, que liga as Américas. Nada demais já que o Brasil é "gigante pela própria natureza"(rss..rss). Têm uma alimentação típica muito parecida com a nossa cearense, como o Gallo Pinto (arroz com feijão misturados) que é nada mais e nada menos que o nosso Baião de Dois cearense com algumas variações. Eles usam "frijol negro"(feijão preto). Além disso, muito milho, frutas e ainda lendas e uma cultura indígena rica e interessante.

Voltando ao milho, assunto comum, e muito presente durante este mês, pelas festas juninas e nossas comidas típicas, posso dizer: "confesso que vivi". Sou privilegiada... por ter comido canjica de milho (curau) olhando para o milharal de onde as espigas foram quebradas. Sou privilegiada... por ter comido cuzcuz de milho novinho, tirado do pé e ralado no mesmo dia com uma nata fresca e saborosa daquela vaca que eu ouvia o mugido no curral. Sou privilegiada... porque quando criança entrei milharal adentro para procurar uma boneca de milho (espiga tenra, com muito cabelo e quase nenhum grão) de cabelos longos como uma deusa, para brincar.

 Hoje a maioria das pessoas que nascem e vivem nos aglomerados urbanos nunca viram um pé de milho ao vivo, e a massa de milho que mais consomem corre o risco de ser de um milho criado em laboratório (milho transgênico), que já está sendo denunciado em nosso país pelo Greenpeace, e que poderá causar efeitos e doenças inimagináveis na população. O milho que ajudou a nos criar e sustentar pode ajudar a nos exterminar. Sinal dos tempos ou sinal de que temos que mudar, de voltar à mãe natureza?

Por isso não vou comer cuzcuz neste jogo Brasil-Costa Rica. A massa é suspeita. Resolvi investir na sopa de vegetais, já que alfafa nem pensar. Acompanhada de tomates ao basílico, e torradas com manteiga de ervas, porque pela continuidade ou saída, a Itália, que joga logo depois, sugere alguma comida italiana. Ainda não decidi entre café ou chá preto. Acho que já estou de olho nos japoneses.

Pra ser sincera e torcendo para a seleção brasileira se dar bem, torço pelos dois-Brasil e Costa Rica. Que os dois possam entrar para as finais! E ofereceremos essa entrada de dois latino-americanos, para essa fase, à Argentina, que bem merecia disputar o título.

Mas tudo o que vier desse jogo já pode ser perdoado, pois os próprios europeus, há mais de 500 anos atrás, diante da situação diferente que encontraram no novo mundo, descobriram, não a América (rss...rss), mas justificativas diante do novo, com a velha e conhecida frase: "Não existe pecado do lado debaixo do Equador".

No almoço de amanhã, com certeza, vai ter baião de dois...ou gallo pinto.

Abraços

Verônica Maria Mapurunga de Miranda - 12/06/2002

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