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Guia Viçosa  - História e Cultura

                                      Apontamentos e Reflexões

Quando iniciei este site -Viçosa do Ceará - Uma Página não Oficial - a seção Guia Viçosa era um lugar de fotografias de lugares interessantes, pitorescos, tradicionais para se visitar. Só havia, então, o meu site sobre Viçosa do Ceará. Hoje pululam na internet fotos lindas, lugares, publicidade, vídeos oficiais ou não sobre Viçosa do Ceará. De sorte que percebo que o mais importante nesse pequeno espaço é fazer alguns apontamentos que possam levar a uma mobilização de idéias e conhecimentos sobre a história e a cultura em Viçosa. Tenho escrito algumas crônicas no site Artesanias de Verônica Miranda, parte desse portal, que aos poucos também estarão linkados aqui, compondo esses "Apontamentos e Reflexões". Verônica Maria Mapurunga de Miranda - 19.06.2017

Que a história tenha alma enquanto resgatamos as partes e os elos da história fragmentada. Que se faça a "contemporaneidade do não coetâneo" transcendendo os tempos, para vivenciarmos a cultura de um presente mais pleno. E que possamos apontar as necessidades e construir desde o aqui e agora, os tempos vindouros. Verônica Maria Mapurunga de Miranda - 21.11.2017

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           Comentário do artigo: Brasil : O Encontro do Seu Mito com Sua História (Veja Arquivos)

 

BRASIL: O ENCONTRO DO SEU MITO COM SUA HISTÓRIA
                       http://www.veronicammiranda.com.br/fale13.htm

"Curiosamente, nós brasileiros por nossa formação cultural carregamos incrustados na alma e em nossa história o mito nas duas acepções. Quando aqui, no Brasil, chegaram os primeiros portugueses eles não somente encontraram um povo mítico, com cultura e religiões próprias - as muitas etnias e culturas indígenas donas dessa nossa terra. Mas também tiveram oportunidade de exercer a sua própria mitologia, suas religiões, suas fantasias e de projetarem isso em um povo que consideravam diferente, inferior, a partir de uma visão eurocentrista, e que o queriam submetido como parte da empresa colonial portuguesa. A análise, em uma abordagem histórico-antropológica e psicológica, de Roberto Gambini¹, em seu instigante e belo livro " Espelho Índio - A formação da Alma Brasileira", mostra uma perspectiva diferente, quando ele analisa em detalhes e através de gravuras, pinturas, relatos de viajantes e dos jesuítas, o nível de fantasia e projeções criadas pelos europeus sobre as culturas indígenas brasileiras. Em alguns quadros há extrapolações da fantasia, e junto com a realidade estão elementos míticos como dragões, como se fossem partes da realidade. Considerando o aspecto fantasioso dos europeus colonizadores e a análise que o autor faz sobre aspectos da própria religião cristã à época da colonização, aparece claro em sua abordagem, que tanto uma quanto outra cultura eram míticas e religiosas e o não reconhecimento da validez da cultura e religião indígena e a tentativa de impingir-lhes um Deus e rituais cristãos ocasionou a perda da alma indígena."

"Sem pretender reter aqui para essa questão todos os elementos e riqueza da análise do autor citado, é importante lembrarmos que em um nível do nosso inconsciente coletivo, e em uma abordagem junguiana, podemos nos considerar também ainda lacerados. A parte cultural e da alma indígena lacerada, em um nível profundo, ainda está em nós. Talvez não de forma tão aparente e que chegue à superfície, quanto culturas como a mexicana, que segundo análise de Octavio Paz, faz o mexicano uma pessoa dividida culturalmente - a alteridade cultural não está fora, mas está dentro de cada mexicano, na divisão existente neles mesmos, e isso é visível. Mas, no caso brasileiro isso ocorre em um nível mais profundo, e que apesar de ingenuamente chegarmos a pensar ter sido suprimido pela cultura colonial européia e pela história, em cada brasileiro habita um ser também mítico e não somente no sentido europeu, mas no sentido indígena e depois também no sentido africano. A alma brasileira é assim formada desses três elementos fundantes. E isso não seria um problema, mas somente uma riqueza, se essa alteridade cultural interior fosse reconhecida e aceita, para que se pudesse chegar a uma síntese ou a uma convivência pacífica desses aspectos." (Do artigo. Veja mais:
http://www.veronicammiranda.com.br/fale13.htm).

Escrevi esse artigo em dezembro de 2003, como parte da seção de meu site Artesanias de Veronica Miranda, na seção Fale com Eles (Um olhar sobre a cultura- http://www.veronicammiranda.com.br/cultura.htm e como publicação do site e revista eletrônica do Centro de Estudos e Pesquisas Agrárias do Ceará-Ce. http://www.cepac-ce.com.br/artigos.htm.

Era início do Governo Lula e, pelas características das eleições e de tudo o que ela trouxe como movimento naquele período, senti a emergência de algumas questões profundas culturais e que significavam fissuras que vinham desde o Brasil colônia, com todas as dívidas culturais que carregávamos.

Emergia assim a necessidade desse resgate que só poderia ser feito através do mito, do nosso mito que se encontrava nos becos da cultura com a história, que marchava e assinalava possibilidades de resolução, ou pelo menos do início de um processo cultural, que foi aos poucos se estabelecendo. A cultura em transformação.

Hoje, comemorando a Consciência Negra e sentindo ao mesmo tempo toda a questão racial ainda presente e necessitada de ser retomada como processo, não só no Brasil, mas na América Latina. Vemos agora no golpe político na Bolívia como toda a questão racial, identitária, ressurge e como aparece, irrompe, depois de um tempo em que essas questões pareciam caminhar para uma resolução, através das realizações de um governo plurinacional, com ações de valorização das culturas e identidades. Mais que nunca o mito, nosso mito, necessita ser vivenciado e buscado suas pontes com a história que marcha e que mais uma vez quer dividir, fissurar, fraturar as possibilidades de encontro e de paz entre as culturas e cosmovisões.

Esse artigo, sobre o encontro do Brasil, de seu mito com sua história, foi realizado em um momento inspirado, possível de captar essas necessidades da cultura, que é também a de cada indivíduo parte dela. A consciência fragmentada, fissurada, não pode avançar para uma cultura de paz, de fraternidade, em que a alteridade seja aceita. Esse artigo continua cada vez mais presente, em sua necessidade de realização. Que possamos resgatar o mito para nos irmanar em nossas diferenças. Quando a cobra grande aparece com seu veneno, irrompendo na luta pelos direitos, as partes que ficaram suprimidas e não aceitas terão que mais uma vez passar por uma revisão, debate e aceitação.


                                 Veronica Maria Mapurunga de Miranda. 20.11.2019.

EM ARTESANIAS - DE VERÔNICA MIRANDA-www.veronicammiranda.com.br

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