Não sei,
não sabe ninguém,
porque canto o fado,
neste tom magoado,
de dor e de pranto.
E neste tormento,
todo o sofrimento,
eu sinto que a alma,
cá dentro se acalma,
nos versos que canto.
Foi Deus,
que deu voz ao vento,
luz ao firmamento,
e pôs o azul, nas ondas do mar.
Foi Deus,
que me pôs no peito,
um rosário de penas,
que vou desfiando,
e choro a cantar.
Fez poeta o rouxinol,
pôs no campo o alecrim,
deu flores à primavera,
ai, deu-me, esta voz, a mim !
Se canto,
não sei o que canto,
um misto de ventura,
saudade, ternura,
e talvez o amor.
Mas sei que cantando,
sinto o mesmo quando,
se tenho um desgosto,
e o pranto no rosto,
me deixa melhor.
Foi Deus,
que deu luz aos olhos,
perfumou as rosas,
deu ouro ao sol,
e prata ao luar.
Foi Deus,
que me pôs no peito,
um rosário de penas,
que vou desfiando,
e choro a cantar.
Fez poeta o rouxinol,
pôs no campo o alecrim,
deu flores à primavera,
ai, deu-me, esta voz, a mim !
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