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Ex-tinto ou Só para Loucos

Há muito tempo atrás Hobbes já dizia: O homem é o lobo do homem. Nessa época,  falar de homem já designava a raça humana. Hoje se admite, e é indispensável pensar, que existem também as lobas...ou as mulheres. Mas, de forma diferente de Hobbes, poderíamos dizer que essa frase tem também vice-versa, ou seja, o lobo é o homem do lobo. E isso, pensando no lado animal ou lobo que todos nós temos, inclusive as mulheres, lobas ou não.

 Pensando no nosso lado masculino que escapa à Deusa, e que está incrustado nessa cultura de masculino ainda não resolvido, poderíamos vez ou outra  perguntar a nós mesmas e a nossas colegas mulheres : Como está seu homem, muito machista e pouco resolvido? E quando vier a resposta, está até melhor, já participa mais dos trabalhos domésticos...  É hora de dizer: Não estou falando do seu companheiro, mas do seu lado masculino...E quiçá, do seu lobo.

 Pois é, parece que ninguém escapa do lobo e da dualidade e fragmentação da cultura em que vivemos, e que em uma hora nos faz ser instinto e em outra hora  homem, racional, cortando esse fluxo que deveria ser natural e natureza. Pensava absurdamente nisso, buscando no âmago de mim mesma essa realidade que às vezes pode nos parecer tão obscura, quando fui me encontrar com uma pessoa, que dependendo das circunstâncias posso chamar de amiga.

Conversando sobre o assunto e falando de instinto a pessoa me perguntou: eu ouvi você dizer extinto? Seria verdade? Extinto... ali, um tanto eufórica falando daquele assunto, percebi que ainda estava inebriada pelo vinho do almoço. León de Tarapacá, seco, cabernet sauvignon, um tom mais escuro que o escarlate, minha cor preferida do momento, aquele inebriante vinho, vinha à minha memória. As últimas gotas daquele tinto, que já era...O ex-tinto.

Os pensamentos vinham em turbilhão, o tinto, ou ex-tinto gota a gota ía-se ... O copo vazio em minha mente trouxe a música do Gilberto Gil: É sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio de ar / Que o ar no copo ocupa o lugar do vinho/ Que o vinho ocupa o lugar da dor / Que a dor ocupa a metade da verdade/ A verdadeira natureza interior/ Uma metade cheia/ Uma metade vazia/ Uma metade tristeza / Uma metade alegria / A magia da verdade inteira, todo poderoso amor...

Ex-tinto...   Tu te foste para sempre, mas outros virão. Com a cor escarlate, inebriando-me nas minhas buscas, gota a gota irei bebendo todos, pelo caminho onde se encontrarão finalmente o lobo e o homem. Ou seria o homem e o lobo?

Lembrei-me, de repente, de Nei Matogrosso, em plena performance   cantando Vira, e saí também cantando e rindo: Vira, vira, vira...vira homem...vira, vira... vira, vira lobisomem...!

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Para quem não entendeu muita coisa do que escrevi digo: Não se preocupe. É que eu acabei de reler o Lobo da Estepe de Hermann Hesse, e isto é Só para Loucos.

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Verônica Maria Mapurunga de Miranda - 09/janeiro/2000


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