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Contando um Conto

 

E.T. ou Eu Te...Conheço

... E nossa amizade, ela resistiria a um encontro olho no olho, ao confronto das energias? Essa frase que me chegara por e-mail, zoava em meus ouvidos, enquanto pensava que esse poderia ser um encontro cabal. Ou fatal? As energias confrontadas, o olho no olho. O que poderia ser mais virtual? Iria ao encontro ou escaparia sorrateira para a realidade dos fatos? Seria aquele um chamado, ou a derrocada final: uma guerra nas estrelas ou um retorno de Jedi? Alguém poderia dizer: que nada, um simples encontro! Mas uma frase passava flutuando diante dos meus olhos : Conhece-te a ti mesma! Os pensamentos começaram a rodar em um turbilhão, uma vertigem, uma viagem no tempo indeterminado, no pretérito do futuro.

Um E.T. me examinava, na sala fria. Um foco de luz espargindo de seus gestos. Era o momento do confronto de energias. Um aparelho checava a freqüência e o E.T. acusava: pega alguns canais de TV, algumas rádios FM de maior potência; não sintoniza com a Rádio FM Universitária; potência baixa; será necessária uma troca de energia. Começara o processo de agonia, o grande terror. Um fundo musical, de ritmo cadenciado e firme como as batidas do coração, chegava aos meus ouvidos. Era a trilha sonora do filme All That Jazz. Com ela a dança. Seria a dança da morte?

O E.T. continuava. Agora examinava o sangue. O novo exame de colesterol aprovado pelo FDA, para o mundo todo. O cartãozinho na pele acusava: acima da média. Um olhar luminoso de censura foi a mim lançado pelo E.T. Pensei revoltada: meu creme de leite ele não cassa! Exclamou atônito, faiscando: sangue índio... que gostoso! Gemi quase desfalecendo: ele é um E.T. vampiro.

O ritmo cadenciado do jazz aumentara em meus ouvidos, acompanhando o batuque cada vez mais acelerado do meu coração. A imagem da linda dama de negro do filme All That Jazz aparecia chamando-me. Perguntei-me : por que a morte tem que ser sempre uma linda mulher e não um cavalheiro sedutor, pelo qual eu poderia de tanto encantamento requiescat in pace em seus braços?

Chegou o momento do encontro olho no olho. Não houve tempo para recusas. Estava rodeada por uma sala circular branca, que girava em torno de mim com milhares de olhos. Um fundo musical mais provocante me fazia sair do torpor aterrorizante em que me encontrava. Ouvia a voz do Fagner cantando: Quantos olhos você tem, pra me olhar...

Percebi, de repente, que sempre estivera sendo observada, à espreita, por esses olhos interrogadores, inquisidores, perscrutadores, ávidos... Nesse momento Fagner cantava: Claros pelos evidentes... nascerão em cada mão... Um clarão passou sobre minha cabeça. Teria havido alguma troca de energia? Não sei. Mas matei a charada: E.T. é igual a Eu Te... conheço.

Verônica Maria Mapurunga de Miranda - 07/Setembro/1999


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