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Contando um Conto

 

O Essencial é Invisível aos Olhos (...Ou Pequena Fábula Diurna )

Quando ele nasceu não foi visitado pelo anjo torto do Carlos Drummond de Andrade, mas pela raposa do Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupery. Ela o olhou e disse : Ele é muito bonito, parece um pequeno príncipe. Mas o essencial é invisível aos olhos. A partir daí poderíamos pensar que seu destino estava traçado.

Mas, ainda pequeno, deixaram que assistisse tv e a todos os concursos de Miss Universo. E lá, também, todas as misses já tinham lido o Pequeno Príncipe e repetiam : O essencial é invisível aos olhos. Ele ouvia aquela frase e olhava as medidas das misses que saíam dos maiôs Catalina. O que elas diziam e o que ele via estava muito certo. Muito pequeno e precoce já entendia dessas filosofias de vida. A raposa e sua mensagem já era comunicação para lactentes, perdida na névoa do inconsciente.

Começou a crescer assim, e já tinha passado a era da incomunicação. O cinema, a literatura já apontavam para outras realidades. Entretanto, os oráculos, astrólogos, numerólogos não se conformavam. Algo saíra errado na comunicação. Estava escrito que ele seria um predestinado, mas junto com a frase o essencial é invisível aos olhos sempre vinha a necessidade do contato físico,  ele sempre queria algo mais do que o simples mundo virtual. Isso deixou de tal forma os meios esotéricos e espiritualistas do fin du siécle baratinados, que até as profecias de Nostradamus não foram cumpridas. Mas tudo, e apesar de estar fora de época, apontava para uma só causa : problema de incomunicação, ou seja, ruídos na mensagem.

Não deixava de ser admirador de um Nazareno que viveu há 2000 anos atrás, grande revolucionário, a ponto de imaginarmos que sua própria mãe possa ter dito um dia, como na música José, de Moustaki (interpretada por Nara Leão) : Por que será meu bom José que esse teu pobre filho um dia, andou com estranhas idéias que fizeram chorar Maria? Entretanto, do que nos deixou o grande Nazareno, a frase que ele mais gosta é, sem dúvida : Deixai vir a mim as criancinhas! Hoje, ouvindo essa frase dita pelo Nazareno e repetida por ele, os promotores da mídia e de propaganda de refrigerantes poderiam chamá-lo de pedófilo. Mas nós sabemos que isso é um problema de mídia, porque não há nada mais puro do que a criança eterna que carregamos dentro de nós.

 Ele hoje, definitivamente, embarcou com Calderón de La Barca no sonho de sua vida. Só relembrando e citando Calderón de La Barca : ...que toda a vida é sonho / e os sonhos, sonhos são. Ele até pode não ser um predestinado, mas sonhos são invisíveis aos olhos. Dizendo de outra forma, a mensagem da raposa pode ter sido entendida.

Verônica Maria Mapurunga de Miranda - 08/ Setembro/1999

Ofereço este pequeno conto a um amigo virtual, um predestinado.


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