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FAMÍLIA, EDUCAÇÃO E CULTURA (Novas abordagens)
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AQUI É UM ESPAÇO PARA REUNIR COMENTÁRIOS E REFLEXÕES QUE VENHO FAZENDO NO MUNDO VIRTUAL SOBRE ESSA QUESTÃO QUE SE INSCREVE NOS NOVOS PARADIGMAS E QUE DIZEM RESPEITO ÀS PRINCIPAIS MUDANÇAS DESTE SÉCULO QUE JÁ FORAM INICIADAS. A FAMÍLIA, A EDUCAÇÃO E A CULTURA SÃO TRÊS SISTEMAS EM QUE O INDIVÍDUO PARTICIPA E QUE VÊM SOFRENDO MUDANÇAS RADICAIS PARADIGMÁTICAS OU NECESSITANDO DELAS. SÃO ARTIGOS DE OUTRAS SEÇÕES DO SITE, BEM COMO DE COMENTÁRIOS E REFLEXÕES AQUI DESENVOLVIDOS SOBRE O TEMA. VERONICA MARIA MAPURUNGA DE MIRANDA -27.10.2019 |
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DEMOCRACIA E MUDANÇA DE CIVILIZAÇÃO NA AMÉRICA LATINA | ||
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Em 27.06.2016 houve o Seminário Democracia na América Latina, que reuniu milhares de pessoas em Curitiba, segundo reportagem dos Jornalistas Livres. No seminário uma das grandes estrelas foi Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, que fez várias colocações que considero importantes para a época em que aconteceu o seminário, mas que continuam válidas para a atual conjuntura política da América Latina e também para que possamos enfrentar e refletir sobre as grandes mudanças que estão ocorrendo nos países vizinhos. Há coisas de manual de políticos e de muito estudo sociológico e de cientistas políticos que não se aplicam mais. De todos os governos da América Latina que não conseguiram ir a fundo na mudança da economia e da política, a exceção é Bolívia, que dentro de parcas condições vem fazendo uma “revolução” em todos os setores da sociedade, tomando como perspectiva toda uma mudança de civilização, que é trazer o verdadeiro povo, sua cultura, identidade, outra economia baseados no bem-viver, para o centro do poder. Sabemos que aí houve e há muitas dificuldades, mas questões centrais foram e estão sendo enfrentadas. Então Bolívia é uma exceção, mas também é um parâmetro, que guardadas as devidas diferenças culturais e políticas, podemos ter como base, para ter coragem de enfrentar as mudanças necessárias na América Latina. "Para o senador e ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, o atual contexto político do Brasil e da América Latina, com o avanço das forças de direita, não pode ser visto com desânimo. “Nós aprendemos muito mais com as derrotas do que com as vitórias. É preciso levantar e começar de novo”, declarou Mujica durante o Seminário Democracia na América Latina, que reuniu milhares de pessoas nesta quarta-feira (27) em Curitiba."(...) “O ex-presidente destacou que, antes de mais nada, é preciso mudar a cultura. “Sem mudar a cultura não muda nada”, sentenciou. Como cultura, entende-se, a mentalidade de vida. Deixar o consumismo de lado, promovendo principalmente a vida e a felicidade humana como centro da sociedade.” “Mujica opinou ainda que o crescimento econômico só se justifica se ocorrer para o desenvolvimento da felicidade humana. “Fomos transformados em uma máquina de consumismo. A acumulação capitalista necessita que compremos, compremos e gastemos e gastemos. Vendem mentiras até que te tiram o último dinheiro. Essa é a nossa cultura e a única saída é a contracultura”, afirmou.” ¹ Eu concordo com o Pepe Mujica que "na época das derrotas aprendemos mais", desde que sejamos capazes de colher essas aprendizagens com reflexões e ações à altura. A mudança real é de civilização, como ele mesmo diz em outra parte de sua fala, que inclui a mudança de cultura. E eu acrescento: e por ende do ser humano que forma essa cultura, de uma nova educação, de um sistema econômico diferente ou nova economia e de uma política que seja capaz de introduzir novas formas de poder, mais horizontais, baseadas nessa nova cultura. Como sonhar ainda é grátis poderíamos pensar que nas próximas reuniões políticas deveria ter um tempo de meditação (já existe meditação diferente para cada ocasião) seria ótimo para o pessoal muito inflamado e inflado. Uns mantras, umas seções de Ouricuri, uns ateliês de arteterapia, uma seção de plantio de árvores e/ ou trabalho na horta orgânica comunitária política. E os casos mais complicados vão para as terapias breves como Constelação familiar, coachs e por aí vai. Com certeza essa perspectiva "do mudar fazendo" vai mudar a dinâmica desses encontros, dessas reuniões políticas, atos e omissões e poderão ter outros resultados. Eu sei que alguém está dizendo assim: enlouqueceu!. Mas não existe forma de mudar a civilização e a democracia, para que seja real, para que tenha outra cultura, para que deixemos de consumir compulsivamente, que é a forma do sistema capitalista virtualizada, funcionando nas pessoas como um complexo, se não mudarmos radicalmente a forma de atuar. Quando a situação chegou a esse ponto são necessárias mudanças radicais, a partir do estilo de vida, do fazer política, do educar, das relações sociais, do comunitarismo, de uma economia em que todos possam participar e ser felizes e não compulsivos. E se for para fazer tudo da mesma forma não adianta nada. Não é mudar de direita para esquerda somente, que resolve. Passamos as campanhas, os planejamentos políticos maquinando mil coisas que não vão se realizar nunca, porque quando a esquerda assume o poder continua comungando com todas as aberrações do sistema e dessa civilização cada vez mais adoecida. E vão ocorrer movimentos como aconteceu em 2013, das pessoas nas ruas e em todo o país, porque a esquerda estava fazendo o programa da direita, fazendo mil remendos dentro do sistema, porque não queria perder o poder e não queria se arriscar. Porque mexer na casa de marimbondo saem vespas e não existe outra forma. Então, para não perder o poder acaba-se não mudando nada. A política tem que deixar de ser retórica. Pelo menos poder-se-ia tentar. E isso tem que começar de uma nova forma de fazer esses movimentos. Porque dentro dessa perspectiva de uma economia para consumo, que se tornou a solução do Brasil, em uma política de compensação, não foi feito mais nada que fosse programa da esquerda. A Reforma Agrária que era central durante todas as campanhas realizadas foi um programa deixado completamente de lado, e realizado como compra e venda de terras deixando os pequenos produtores endividados e sem as questões centrais de uma Reforma agrária, que são as desapropriações e as políticas complementares, só para falar de um aspecto que era muito importante na soberania alimentar do país e que vai fazer muita falta. Vai morrer muita gente de fome e temos que lembrar isso depois para não cometer o mesmo erro: isso era para ter sido resolvido, se a economia fosse outra, se a democracia fosse outra e a civilização que sustentasse toda essa programação fosse outra. E tudo isso porque as mudanças necessárias não foram enfrentadas. Então, chega uma época em que as mudanças feitas são insuficientes, a população vai reclamar e o poder político vai para a direita que acabará com os programas, porque de fato o sistema continua se aprofundando em suas redefinições e mazelas. Do ponto de vista político vemos como os movimentos sociais que começaram em movimentos de oposição e de base e que tinham, mesmo de forma incipiente, uma idéia básica de comunitarismo foram pescados para um estilo de política que eu considero desvirtuado. Em vez dos movimentos de base alimentarem um novo tipo de poder, mais horizontal passaram a utilizar um tipo de poder e fazer um tipo de política não muito diferente de um estilo de fazer política em partidos. Com grupos de poder, de donos de espaços, territórios, ligados a partidos e governos, donos de recursos, ainda mais mesclados com as questões de terceiro setor. Essa é uma diferença básica com o comunitarismo da Bolívia, que tem uma base, um esteio em uma cultura e civilização diferentes, da qual emanam os princípios que norteiam o que chamo de “revolução boliviana”, que é o bem-viver e o comunitarismo indígena. Ninguém precisa me dizer que isso é resultado de diferenças culturais e eu diria também que é o fato dessa cultura não estar tão involucrada em um sistema capitalista como o Brasil, que tem um desenvolvimento industrial, financeiro e estatisticamente e em números os povos indígenas são poucos em relação à população não indígena. E por isso também estão correndo riscos de extermínio. Mas também é sabido na história boliviana que sempre houve levantes políticos e derrubadas de presidentes. A população não é passiva e se não derrubaram ainda Evo Morales é porque ele faz uma política para os povos. Mas, se nós formos seguir todas as análises sobre o capital, sobre a economia internacional e suas relações, sobre o fato de que nós estamos dentro de um sistema que tem sua racionalidade, que estamos na periferia do sistema e não podemos fazer nada para mudar essa situação, é melhor cada um comprar uma corda e se enforcar, porque pelo andar da carruagem a situação econômica, de renda, de perspectiva de vida, de doenças, vai ficar cada dia pior. O sistema capitalista seguindo a recuperação de sua crise está em uma fase de eliminação. Vai enxugar tudo o que puder nos setores de trabalho, educação, saúde, moradia e tudo aquilo que chamaríamos antigamente bem estar social e concentrar de forma absurda o capital, o dinheiro, os recursos. É um sistema louco. E vários Estados latino-americanos estão se subjugando às suas regras. E as reações da população que contraditoriamente já estão ocorrendo em vários países latino-americanos sob a égide do neo-liberalismo é somente o começo. Então urge ficarmos loucos, de uma loucura sadia, para não ficarmos insanos, doentes e à beira da morte em um sistema que não tem solução para a vida das pessoas. E parte dessa loucura é deixar os livros de economia, uma quantidade de soluções tecnológicas que aparecem como salvação e que não são e se forem serão para poucos, e seguir na direção contrária. É necessário quebrar os parâmetros e isso só é possível com criatividade, com centramento, reconhecimento de nós e de nossas capacidades, a partir de dentro como dizia Bauman. Nos associando em vez de nos separar, mas buscando uma nova forma de poder, nos curando do individualismo, do egoísmo, reconhecendo a nossa interdependência e nos trabalhando internamente, senão a sobrevivência vai ficar muito difícil. E eu digo isso porque pelo sistema político e a cultura política que nós temos que é clientelista, paternalista, individualista e patrimonialista não temos saída. Tudo isso acaba, da forma como é feito, se refletindo em um movimento que é a reprodução do que ocorre nos gabinetes de políticos, das visões burocráticas do Estado, cheias de vícios. Quando se começou a pensar na “economia solidária” no governo Lula, lembro das primeiras entrevistas com o Paul Singer que era o responsável por iniciar esse programa no governo Lula. E havia, da parte dele, uma certa perplexidade na realização de seu trabalho, exatamente porque não havia uma filosofia de vida como o bem-viver da Bolívia, que culturalmente dava uma sustentação a esse tipo de trabalho. Ele chegou a pesquisar as ecovilas, que têm uma economia baseada nesses princípios, mas têm uma filosofia de vida diferente que inclui autoconhecimento, comunitarismo e relações com a natureza. Trabalhando com assentamentos rurais, com projetos, diagnósticos, capacitação, pesquisas, pude acompanhar esses espaços de produção e sociabilidade, com características mistas, de produção e de espaços individuais e comunitários, portanto lócus de muita complexidade. Nas relações, sobretudo, vi o quanto a cultura individualista que nós temos e os condicionamentos econômicos, culturais dificultam atividades comunitárias, coletivas e/ou solidárias. Essas atividades são sempre sofridas, e sabemos disso quando nos tornamos íntimos e ao par dos problemas internos, porque exigem um salto de consciência, mesmo nos casos em que existissem atividades comunitárias anteriores, considerando que essas atividades entram em novos contextos econômicos, políticos e relações que redefinem o modus vivendi ou as formas de vida e sociabilidade das famílias. E aí é que percebemos que não existe essa base solidária, porque todo o sistema nos leva a ser individualistas, assim como a nossa formação familiar, criação, educação. Quando vejo os sistemas de vida, produção, moradia, relação com a natureza dos povos da Amazônia fico pensando que estão destruindo talvez as poucas formas de comunitarismo ancestral que temos e que é de certa forma esse rizoma, baseado em uma filosofia de vida não completamente contaminada pelo individualismo, neuroses e normoses de nosso sistema e civilização fragmentada. Não se trata de negar tudo o que foi realizado nesse sentido, nos governos do PT, por exemplo, porque com erros e acertos hoje é possível se fazer uma avaliação e ver como muitas atividades nesse setor frutificaram. Mas pela incipiência e por estar em um sistema em que o dominante são outras relações de produção, políticas e uma cultura muito colonial no mau sentido, com estruturas de pensamento muito verticalizadas, rígidas e apesar da diversidade cultural intolerantes, acabaram vigorando mais outras dinâmicas e relações já comentadas. Durante os governos do PT houve um florescimento cultural no sentido de se buscar as raízes e dialogar sobre essa "cultura colonial", movimento que deveria ter continuidade e que pudesse se expressar em novas formas de ser e viver, porque se não há uma cultura originária aceita, que sirva de esteio para as mudanças, estas vão ser feitas a solavancos. Não podemos ter mudança de civilização sem mexer nos rizomas e sem trazê-los à superfície, para concretizar a cultura e sociedade em novas formas. Princípios solidários, rizomas, novas relações sociais, novas formas de poder, criatividade, natureza e comunitarismo são palavras que nos remetem a revoluções internas. Nós não conseguiremos fazer mudanças nessa direção sem a verdadeira disposição de começar a mudar individualmente. E por isso vem a idéia de começarmos com atividades de “mudar fazendo”, em uma proposta que vem de dentro, com atividades que mude o circuito das energias e proposições, que sempre foram de fora para dentro, para se poder criar as novas realidades.
Verônica Maria Mapurunga de Miranda -
27.10.2019
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