PEPE GRILLO (ou grilo falante?)*

Em Defesa da Vida

Entramos em uma nova fase planetária denominada por alguns pensadores de "espiral de guerras". A morte ronda populações, os acordos internacionais são anulados pelo poderio bélico e econômico do "império", a barbárie com  nova roupagem  e novas justificativas  arreganha os dentes. Ainda de nossas poltronas, assistindo o noticiário, sentimo-nos inseguros. Os próximos mísseis poderiam ser em nossas direções? Que tipo de mundo restará das cinzas da crueldade desse novo ciclo desigual de confrontos? Que tipo de valores nos norteiam agora e são apropriados para a realização desse duro presente e perspectivas cada vez mais insanas?

Somos chamados a nos decidir entre duas posições que se polarizam. Decidimo-nos pela vida, e teremos que defendê-la com unhas e dentes, ou nos entregamos à inércia "para ver como é que fica" e aí teremos a morte. Alguém falou que confia no equilíbrio cósmico, como se ele pudesse se fazer sozinho no planeta terra. E far-se-ia, provavelmente, se o ser humano não existisse, ou não estivesse fora desse eixo cósmico. Essa dura entrada, nosso passe para esse nível de existência, não se fará senão pela única chave de que dispomos :a consciência. A consciência em um nível mais profundo, mais largo, mais expansivo, e que pressuporá uma grande horizontalidade. Precisamos exercer a nossa humanidade, buscando um sentido ético.

No mundo pós-moderno, do reconhecimento das múltiplas diferenças e de suas convivências, tendemos a viver as ambigüidades. Ora isso, ora aquilo. Justapomos valores buscando o impossível equilíbrio de balança. Não existe equilíbrio entre vida e morte. Só podemos ter ou vida ou morte ou uma terceira coisa, um terceiro ponto de vista. O que fará a diferença entre um e outro é o permanente movimento de transformação. A morte não pode ser um fim, muito menos um meio, mas parte do movimento dinâmico da vida que nos cabe em nossa existência. As guerras que fabricam a morte em massa refletem, dessa forma, uma ética em prol da morte, e os valores que subjazem a isso trazem à tona a tal  frase "os fins justificam os meios", sejam eles quais forem. Neste caso os fins já são os meios. Morremos como humanidade mesmo sem estarmos em campo de batalha, ou falando de forma mais contemporânea, sem sermos a população alvo.

Cotidianamente, em nossa construção histórica, tecemos a teia desses valores, que em momentos claves são aproveitados para os fins mais hediondos. Damos vida com uma mão e tiramos com a outra. Quando fazemos distribuição de alimentos com uma mão e compactuamos com mecanismos e políticas econômicas excludentes e concentradoras com a outra, estamos alimentando o espectro da morte, que se esconde sob as vestes e disfarces atrativos da publicidade, e engana a construção da verdadeira ética, ou de uma ética pela vida.

Quando nos posicionamos contra a guerra, que aparece horrenda nos noticiários de tv a todos os olhos humanos, e deixamos que a natureza seja depredada e que a alimentação a ser comercializada contenha produtos perigosos e duvidosos ao desenvolvimento humano e à saúde, estamos trabalhando com as mãos em dois sentidos. Estamos vivendo a ambigüidade dos interesses, pulando de galho em galho, sem um sentido ético de defesa da vida e de respeito ao humano. Ora, uma coisa e outra são energias aproveitáveis, diria alguém, mas o que fará a diferença será a utilização delas e o sentido que será dado a elas. Com um dado quantum de energia, como diz um pensador, eu posso carregar malas ou matar alguém.

A vida não pode ser utilizada como moeda de troca econômica ou política. E se assim o fizermos é bom tomarmos consciência de que lado estamos. Na transição que vivemos como humanidade, cada vez mais seremos postos à prova e seremos cobrados nas ações e decisões que dizem respeito a defesa da vida. "És quente ou frio, se for morno eu te vomito."

 

Verônica Maria Mapurunga deMiranda

27/03/2003

* O pepegrillo ou grilo falante é a consciência do Pinóquio, aquele menino de madeira que foi se humanizando, tornando-se "consciente", alargando sua consciência, e aprendendo a AMAR. 


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