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***Cronicando***

 

Foto de um Diamante Negro

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Diamante Negro

          Em noite recente, fui visitar uma prima hospitalizada. Depois de certo tempo de visita, conversando com seu marido no saguão, percebia e observava as idas e vindas de visitantes e pacientes, rotina de um hospital. De repente, aproxima-se um rapaz. Estatura média, atarracado, com fones de ouvido, alheio ao mundo. Ouvia provavelmente sua FM. Senta-se ao nosso lado. Quem sabe esperava alguém?

          Conversa vai, conversa vem, eu e o marido de minha prima, começamos a observar as olhadelas do rapaz. Olhava, piscava, tinha um meio sorriso, como se soubesse de algo que não suspeitávamos. Pessoas passavam, aproximavam-se, conversavam, iam-se. E nós ali, eu e meu amigo conversando, "tirando o atrasado". O rapaz dos fones de ouvido, de vez em quando, dava um meio sorriso.

         Meu amigo é chamado ao apartamento da esposa. O  tal rapaz, novamente, dá um meio sorriso. Correspondo gentilmente seu gesto. Ele cria coragem e se aproxima. Diz: "Eu pensei que você estava hospitalizada aqui, quando vi seu marido passar sozinho". Ué, então era verdade que ele me conhecia. Fiz cara de quem não está entendendo. Ele perguntou: "Você não está me reconhecendo, não é?" Desculpando-me, pergunto-lhe de onde me conhece. Ele diz, com economia de palavras, fazendo um gesto com a mão, tentando forçar minha memória "...da Kibon...lembra?" Kibon... Kibon, minha memória passeia pelos postos de sorvete da cidade. Nada. Nenhuma lembrança. Ele resolve me ajudar e diz: "Da Kibon de Itapajé, da rodoviária." 

         Fiquei pasma, impressionada! Poucas vezes eu e meu marido passamos, e rapidamente, nos dois últimos anos, por Itapajé- cidade do norte do Ceará. Não entendia como nossa fisionomia ficara gravada em sua  memória, no entra e sai  permanente de rostos, na tal rodoviária. Logo chega sua esposa que estava visitando uma parenta doente, e ele muito alegremente nos apresenta, a mim e ao meu marido que se aproximava: "Uns fregueses meus que eu encontrei aqui".

        Continuava curiosa. Como ele tinha tão boa memória, para gravar nossos rostos que passaram tão poucas vezes no seu posto da Kibon? Queria saber se ele tinha visto algo especial em nós, quem sabe? Ele respondeu calma e simplesmente, como se fosse algo comum e corriqueiro ter tão boa memória: "Sabe por que eu me lembro de vocês? Porque vocês sempre pedem um Diamante Negro e uma água mineral." 


  Ofereço esta crônica ao rapaz da Kibon, de Itapajé, por me lembrar que na multidão, no entra e sai de rostos que povoam nossa rotina cotidiana, cada rosto é único... E cada Diamante Negro também.                                   

Verônica Maria Mapurunga de Miranda -Agosto/1999

Aqui você me encontrará sempre com o cotidiano, com o prosaico, com o divertidamente humano, com o essencial que está presente em nossos encontros e desencontros do dia-a-dia. Aqui você me encontrará cronicando.      

Verônica Maria Mapurunga de Miranda


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