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toFoto da Beira-Mar -Fortaleza -Ce,  por Verônica Maria Mapurunga de Miranda -Junho de 2007


 AS VELAS DO MUCURIPE

 

ARQUIVOS

 

Desde que moro em Fortaleza-Ce - e já se vão muitos anos - procuro os lugares que sirvam de ponto de referência  ou que se possa sentir um pouco do que seja a cidade. Uma dificuldade real para muitos habitantes que não nasceram aqui e até para os que nasceram, mas viram ir por terra muito de sua memória como cidade e aquilo que a identifica.

Ultimamente tive oportunidade de me situar melhor na Beira-mar, e pude perceber que apesar de todas as modificações na orla marítima, visando o turismo, essa área continua sendo um ponto de referência da cidade. Além de atrair pessoas de todos os bairros, sendo um ambiente ainda "democrático", há a comunidade de pescadores do Mucuripe. Bem perto dos muitos restaurantes e hotéis, dos prédios de apartamentos altos, que em grande parte só são habitados em alguns meses do ano, por estrangeiros que vêm curtir suas temporadas de férias.

A comunidade de pescadores, de pessoas com hábitos simples, contrasta com esse lado turístico da praia. Mas é o que ainda mantém essa força e essa raiz nessa parte da cidade, tão necessárias para se sentir o que foi e o que é Fortaleza. Não obstante, "a força da grana que ergue e destrói coisas belas", como canta Caetano, continua e tem se revelado nos esgotos para o mar aberto, que nos obriga a fechar o nariz em vários trechos da caminhada, por aquelas praias de recorte tão lindo e poético. Os fortalezenses e visitantes não merecem isso. Parte da grana que se gasta com toda a empresa do turismo deveria voltar-se para a recuperação dessas praias, e acabar com esses esgotos e poluição, pela saúde de todos e pela beleza dessas praias que são o cartão de visita de Fortaleza.

Dia 29 de junho resolvi ir pela manhã, com meu companheiro, ver a procissão dos Pescadores do Mucuripe, no dia do seu padroeiro-São Pedro, o pescador de peixes e de almas. Passando pela Praia do Náutico (Clube Náutico) vimos policiais militares em profusão. A informação é que estava sendo inaugurado o policiamento ostensivo dessa área que ocorre no período das férias, e estava sendo feito com bandas e fanfarras. Bem adiante, no calçadão e em frente à Igreja dos pescadores uma missa campal estava sendo realizada.

Acompanhavam a missa os pescadores, populares e pessoas vindas de outros bairros que costumavam acompanhar a festa do padroeiro. Ficamos à postos para ver a procissão que logo sairia em seguida para alto mar. Sinceramente achei a praia sem a animação que geralmente ocorre em festas de padroeiros no Ceará e no Brasil. Poucos barcos estavam se preparando para acompanhar a procissão e não estavam enfeitados.

 Uma senhora ao lado também esperava o início da procissão. Perguntei porque parecia tão desanimada a festa do padroeiro. Ela respondeu que há quatro anos atrás a Marinha havia proibido a saída dos barcos com as famílias dos pescadores, por questão de segurança. E somente uns poucos barcos, sem crianças e vários outros limites impostos poderiam ir para a procissão. A proibição se devia ao fato de que os barcos não tinham salva-vidas e eram pequenos.O outro motivo, segundo ela falou, é que disseram já não haver mais tantos pescadores porque a praia agora era dos ricos, dos pescadores industriais ou empresários que não tinham essas tradições.

Segundo a mesma senhora os pescadores ficaram desanimados porque essa era uma festa familiar, da comunidade dos pescadores. A família toda participava, enfeitando os barcos, fazendo comida para todos festejarem. Segundo ela a orla marítima ali no Mucuripe transformava-se em festa.Festa familiar da comunidade dos pescadores, e muitas pessoas de vários lugares da cidade vinham para esse congraçamento. Essas medidas proibitivas, de que as famílias não poderiam participar da procissão  desanimaram a comunidade.

Fiquei um pouco triste com aquilo, percebendo o porque da tristeza que pairava no ar durante a missa. Se as autoridades e poder público refletissem mais sobre a importância que tem para os pescadores, para o conjunto da população e para a cidade manter essas tradições da população e não desencorajá-las muita coisa seria diferente. Perguntei-me por que em vez do ato proibitivo, o poder público, das várias instâncias integradas -aqui consideradas a Marinha, Capitania dos Portos, Prefeitura, Governo do Estado- não providenciavam para tal evento os salva-vidas, barcos maiores que a população pudesse enfeitar e outros requisitos de segurança para continuar mantendo uma festa tradicional que é referência da cidade e da comunidade do Mucuripe.

Não se trata de dar à população pão e circo. Gastar rios de dinheiro com mega-shows espetaculares e deixar de lado as festas, comemorações e ritos populares engendrados em nossa cultura e parte de nossa formação cultural não é a solução. O primeiro diverte e anestesia, o segundo é mais profundo e resgata a alma coletiva da população que precisa mais do que nunca de raízes e referenciais.Ao poder público solicitamos: Não matem as tradições culturais do Mucuripe.Tomem as providências necessárias para deixar que os pescadores e a comunidade do Mucuripe continuem trazendo vida e alimentando as raízes e alma dessa cidade "desposada do sol."

Depois da missa os pescadores trouxeram o andor com o santo que acondicionaram em um barco simples. Os poucos barcos à vela permitidos, sem enfeites e sem famílias, saíram em direção ao mar. Adiante içaram suas velas para a procissão pela costa da cidade. Enquanto esperavam o retorno um grupo de capoeira se posicionou para a comemoração ao ritmo dos berimbaus.Logo depois a quadrilha Tradição Nordestina que há quatro anos abrilhanta  a festa dos pescadores iniciou sua apresentação. Uma jovem vendia as lembrancinhas da festa lembrando que ela continua. Esperemos que ela não caia no esquecimento e que o poder público atue para devolver a alegria aos pescadores e comunidade do Mucuripe.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

 

 
 

     

Clique e veja fotos da Festa do Padroeiro.

   

Veja também as fotomontagens "Velas do Mucuripe" em A Poesia e o Mar na seção Cultura.

     

   

     

A CAMINHO DA PRAIA UMA FLOR SERTANEJA NASCENDO DO CACTUS:

     

PARA A COMUNIDADE DE MUCURIPE!


     
Verônica Maria Mapurunga de Miranda  

Dia Comum (10) 

Julho de 2007

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