|
||||||
|
Conceber... |
Sonhei buscando a Virgem. Última passagem dela cá por essas
bandas. Perdida em pendengas exteriores, descobri que faltava a inocência, a confiança, a virgindade. Fiz esforço de silêncio, preparando o
coração. Um pouco de santidade não faz mal a
ninguém. Buscava e esperava...E o que chegou foi o
correio. Carta burocrática. Nas linhas aviltantes um aviso. Vencido o prazo de dez dias, se não pagar a conta perde a
“cidadania”. Forma estranha de cobrar. Forma chata de
constranger. Ainda “cidadã ”, dentro do prazo, fui
ao telefone. Subi nos saltos, com o Código de Defesa do Consumidor, enquanto pensava na Revolução Francesa. Tanto sangue derramado para ter a
“cidadania”ameaçada, por uma prestação de Banco. Vi a indignação do burocrata que
escreveu tal revertério. Monstro marinho a ranger os dentes. Ele mesmo pouco cidadão, manietado,
pisado cotidianamente, repassando sua frustração, sua raiva, quase um lapso, disfarçada de regra e
“sistemática”. Vi-me aviltada no orgulho de cidadã,
perto de me tornar pária. Devedora, pecadora...Mundana. Santidade escrachada. Madalena arrependida de ter feito empréstimo. De pouco servia a lei No reparo da quebra de silêncio Na lente de aumento que observava a pouca
santidade do mundo... Minha pouca santidade. Nossa humanidade caminhante. Lá o prazer frustrante do poder de
burocrata. Cá o meu orgulho de cidadã da lei
ofendida. Ave Maria!
Rogai por nós! Retumbou o coração, retumbaram os
sentimentos, retumbaram lágrimas. Vaso derramado que molhou os pés. Pés que me esperavam. Soltei os cabelos para enxugá-los. Tal qual Madalena, não sou Virgem, mas
quero beber dessa água. Verônica Maria Mapurunga de Miranda - 31/07/2001 |
|
|
Artesanias - de Verônica Miranda - www.veronicammiranda.com.br |
A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE SITIO NÃO ESTÁ PERMITIDA |
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS |
|