PRINCIPAL

CRONICONTO

GALERIA

PEPEGRILLO

MOMENTOS

MURAL

CULTURA


Conceber...

 

Sonhei buscando a Virgem.

Última passagem dela cá por essas bandas.

Perdida em pendengas exteriores,

descobri que faltava a inocência,

a confiança, a virgindade.

 

Fiz esforço de silêncio, preparando o coração.

Um pouco de santidade não faz mal a ninguém.

Buscava e esperava...E o que chegou foi o correio.

Carta burocrática.

 

Nas linhas aviltantes um aviso.

Vencido o prazo de dez dias,

se não pagar a conta perde a “cidadania”.

Forma estranha de cobrar. Forma chata de constranger.

 

Ainda “cidadã ”, dentro do prazo, fui ao telefone.

Subi nos saltos, com o Código de Defesa do Consumidor,

enquanto pensava na Revolução Francesa.

Tanto sangue derramado para ter a “cidadania”ameaçada,

 por uma prestação de Banco.

 

Vi a indignação do burocrata que escreveu tal revertério.

 Monstro marinho a ranger os dentes.

Ele mesmo pouco cidadão, manietado, pisado cotidianamente,

 repassando sua frustração, sua raiva,

quase um lapso, disfarçada de regra e “sistemática”.

 

Vi-me aviltada no orgulho de cidadã, perto de me tornar pária.

Devedora, pecadora...Mundana.

Santidade escrachada.

Madalena arrependida de ter feito empréstimo.

 

De pouco servia a lei

No reparo da quebra de silêncio

Na lente de aumento que observava a pouca santidade do mundo...

Minha pouca santidade.

 

Nossa humanidade caminhante.

Lá o prazer frustrante do poder de burocrata.

Cá o meu orgulho de cidadã da lei ofendida.

Ave Maria!  Rogai por nós!

 

Retumbou o coração, retumbaram os sentimentos, retumbaram lágrimas.

Vaso derramado que molhou os pés.

Pés que me esperavam.

Soltei os cabelos para enxugá-los.

Tal qual Madalena, não sou Virgem, mas quero beber dessa água.

 

Verônica Maria  Mapurunga de Miranda - 31/07/2001 


Voltar p/ Poesias


Artesanias - de Verônica Miranda - www.veronicammiranda.com.br

A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE SITIO NÃO ESTÁ PERMITIDA

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS