As caravanas passam...Largada para as eleições Brasil 2002

Reta final...O testemunho

Enquanto escrevo, sentada em uma pedra, os últimos escritos dessa largada para as eleições 2002, um barco novo e reluzente se aproxima do ancoradouro. É o barco da transição para os novos tempos no Brasil. Serei um dos tantos tripulantes desse barco, mas antes quero deixar meu testemunho.

Estes escritos, como tantos outros, logo, logo, se tornarão  pergaminhos de uma era, e caberão em uma garrafa que boiará pelas águas mar adentro. Talvez cheguem em alguma praia, talvez não. O importante é saber que serão lançados em alto mar, realizando o fechamento de um ciclo.

O velho barco, de onde todos migram, acabou. Ele requer alternância de novas e redefinidas lideranças, ele requer participação do povo brasileiro. De lá sairemos todos, deixando os escombros, que não servem. E que serão incinerados em nossas memórias, transformando-se em arquivo morto. Não olharemos para trás, para não virarmos estátuas de sal.

Traremos sim, para o novo barco, nossas experiências acumuladas, nossos erros e acertos, nossas maravilhas e nossas mazelas, nossas diferenças. Mas tudo isso terá um novo significado, será visto de outros ângulos, sob uma nova luz, um "novum lumen", de uma estrela que já começou a brilhar. E isso significa, em português mais terreno, que há novas proposições políticas, uma nova ética que está sendo abraçada pelos brasileiros, e um novo ser humano brasileiro a caminho.

E é por isso que eu insistirei, que o veículo para esse caminho deve ser o barco e não um avião Boeing último modelo, como propôs um candidato a presidente em recente debate na tv. Um barco novo, porque trará com ele as forças regenerativas dessa nação, que está saindo de um barco velho, com estruturas que não mais comportam as ações, sonhos e desejos dos brasileiros. 

Um barco novo, em que a tripulação pode ajudar o capitão e o capitão pode ajudar a tripulação. Haverá reciprocidade. E que diferentemente do avião, como falou tal candidato, que tem uma cabine do piloto pequena e só cabe ele, há mais espaço no barco, para os entendimentos e a participação nos destinos de quem está embarcando na viagem. 

No barco novo, navegando sobre o caudal da cultura, dos sonhos, desejos e experiências acumulados, existe a possibilidade dos brasileiros entrarem inteiros, com a cabeça e o coração, e com a pluralidade, o leque das diferenças que compõem a nação. Essa dicotomia que sempre levou os brasileiros,  a usarem a cabeça para fazer política, e o coração para irem ao futebol ou ao carnaval, precisa ser reparada. 

 Nós brasileiros somos um povo criativo, com capacidades imensas de resolução dos problemas que nos afligem, desde que eles passem também pelo coração, desde que eles sejam reconhecidos como desejos legítimos e sonhos pertinentes, desde que o leque das experiências e expressões coletivas seja reconhecido, e desde que eles possam participar com essa inteireza.

O momento de transição propicia isso. É o momento de "unir as pontas de um mesmo laço". E por isso é que a viagem tem que ser em um barco. Avião também lembra guerra. E este é um momento de paz e amor. Precisamos unir as forças e energias para desafios maiores que estão por vir. Selar os compromissos e os entendimentos, e fazer convergir interesses que vistos somente à luz da razão parecem convergências difíceis. É necessário que essas diferenças e interesses divergentes sejam vistos sob a ótica também do coração, das utopias, de novas proposições, de uma nova ética, de um novo sentido, que só poderão vir com esse barco novo.

O barco novo que englobe não somente os interesses divergentes, mas também os desejos, os sonhos e as expressões coletivas da população. Eles serão o cimento dessa nova era política e brasileira, com as repercussões devidas em um nível global.

Não devemos ter medo do novo, da renovação e das possibilidades. Devemos ter medo sim, de permanecer em estruturas ruídas a ponto de nos levar a um desastre fatal. Mudar de barco é, no momento, uma condição de sobrevivência dos brasileiros.

E para aqueles que querem logo tudo resolvido e tudo perfeito diremos: Calma, estamos apenas dando os primeiros passos desse "Brasil criança na alegria de se abraçar".Tem algum deus nessa embarcação? Decerto que não. Somos todos humanos, desejando sim, beber da taça dos deuses, e querendo nos tornar seres humanos cada vez melhores e capazes.

Relembro agora, um clássico filme do cinema americano - A Estranha Passageira - com Bette Davis, que por coincidência ou não, trata-se da transformação de uma pessoa, iniciada em uma viagem de navio. E tendo se transformado em uma pessoa mais livre foi capaz de continuar amando, sem ter ao seu lado a pessoa que amava. A frase final do filme é clássica,  e profunda para nosso atual momento, mesmo que para alguns seja até açucarada: "Para que  o céu se nós já temos as estrelas?"

Não nos contentando com tão pouco (risos), ainda podemos ter certeza de que este é apenas o primeiro passo. Os seguintes, com certeza, dependerão novamente de todos nós. Estamos no mesmo barco.

O barco novo e reluzente do ancoradouro apita. As caravanas dos desejos, sonhos e utopias passam, e vão formando as fileiras para entrarem no veículo, do amanhã que já começou.

São homens, mulheres e crianças, brasileiros de toda raça, de todo credo, de toda renda e de toda vida, cheios de esperança, de garra e de fé na renovação.

Eu já estou indo, e lhe espero do outro lado.

Chegamos ao fim da corrida. C'est fini.  

Saudações.

Verônica Maria Mapurunga de Miranda - 16/10/2002

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