As caravanas passam...Largada para as eleições Brasil 2002

Das Lideranças...

Falar de lideranças no momento atual é de capital importância. Até porque são as lideranças, para uma grande empreitada em nosso país, que estarão sendo eleitas pela população no dia 06 de outubro de 2002.

Falar da eleição de lideranças ou políticos, como queiram, para governar e legislar em um país tão grande e diverso como o Brasil é falar de aventura. E contrariando um certo discurso falacioso de candidatos que dizem ser aventura votar nesse ou naquele candidato, eu digo - as eleições 2002 no Brasil são uma aventura com qualquer candidato. Principalmente, porque quando o eleitor vota está dando um cheque em branco, que significa uma entrega de poder e confiança a representantes que podem ou não lhe representar à altura de suas aspirações e necessidades.É um crédito de confiança a seres humanos falíveis.

Mas o diferencial nessa aventura está dado pelas possibilidades dos cidadãos votarem em candidatos que tenham como base e plataforma política a realização e reconhecimento de aspirações coletivas, de equipes e mecanismos que possibilitem a participação dos vários segmentos e expressões coletivas da sociedade.

As campanhas, dos candidatos que se consideram "competentes" em detrimento dos demais, veiculadas pelos meios de comunicação, são montadas sobre o culto da "egolatria", denotando  por um lado o autoritarismo, e por outro lado a velha e desgastada fórmula dos "salvadores da pátria".

É assim que eles colocam suas condecorações que tiveram durante administrações passadas, dizendo "eu fiz",  esquecendo o trabalho incansável de equipes e das aspirações coletivas, dos recursos públicos retirados e recolhidos, através de impostos, dos bolsos dos cidadãos que representavam.

O reforço que determinada propaganda política dá a esses vícios da "democracia" mostra, além do autoritarismo, o tom e a pouca preocupação que esses candidatos têm com a população e sua participação nos desígnios do país. Utilizar esses recursos por achar que condiz com a "psicologia" do eleitor é faltar com a verdade dos seus propósitos e subestimar as pessoas, suas capacidades e seus méritos.

Portanto, já há indício, de princípio, que entrar no barco desse tipo de candidato, para a aventura das eleições, é  entrar em um barco furado, que não vai muito longe, e será uma aventura  frustrada, como tantas outras que nós já conhecemos.

A questão da "competência", dessa forma, deve ser repensada sob o prisma do significado de uma verdadeira liderança, para não cairmos no conto do "saber competente", que responde em grande medida ao culto da egolatria e a interesses distorcidos da verdadeira realidade.

 Com um diploma universitário eu posso fazer cálculos de econometria e de projeção do PIB, por exemplo, que deveriam  contribuir para a adequada correção dos problemas econômicos e financeiros que trazem desequilíbrios na vida da população. Mas que podem servir simplesmente para enganar a população e servir a alguns poucos interesses em detrimento dos demais.

Dessa forma, um diploma universitário pode servir ou não a um líder ou político e à população que ele lidera.Os diplomas universitários e de doutores serão assim importantes em um governo e administrações à medida que eles façam parte de um compromisso do candidato e suas equipes com a população que representa.Porque assim não estarão a serviço de um culto à egolatria, de si mesmos, nem de interesses de poucos.

Da mesma forma, ter sido catador de papel, ou operário de construção e tantas outras profissões que nossa cultura insiste em desvalorizar, mesmo que  a sociedade necessite delas e sejam de capital importância para a vida de todos, e sofrer as agruras disso, não dá necessariamente as condições para se ser um líder. 

É necessário ser maior do que um diploma e títulos. É necessário ser maior do que uma vida galgada na dureza e dificuldades. Alguém que galgou uma vida de durezas, discriminações, preconceitos e foi capaz de superar os ressentimentos advindos disso, de se reconhecer valoroso, mesmo tendo sido sempre apontado como não "competente" por não ter tido alguns privilégios que a coletividade nos confere, e de reconhecer o outro como merecedor de sua atenção e de direitos, e se abrir ao diálogo e à pluralidade, é alguém que se alçou a uma condição de liderança.

Alguém que tem curso superior, mas reconhece ser um privilegiado em uma sociedade onde a maioria da população não tem educação básica,  e aceita se submeter aos anseios da população  e  estar à serviço da coletividade, não cultuando a egolatria do "eu sou competente",  e aceitando outras formas de saberes, reconhecendo os valores e a contribuição destas, é alguém que se alçou à condição de liderança. Pois um verdadeiro líder não precisa de escoras para ser reconhecido. Será reconhecido pelo seu rastro de exemplos e pela capacidade de lidar, respeitar e interagir com os seres humanos. Um líder é.

Assim, em grande parte das vezes temos políticos, em um sentido já obsoleto da palavra, mas na verdade precisamos de líderes para que essa nação possa resolver suas questões essenciais.

As caravanas dos desejos, dos sonhos e das utopias soltas querem se expressar, e encontrar ressonância em projetos e em líderes para o grande momento de definições e reestruturações neste país.

Elas querem:

-Líderes que se reconheçam seres humanos. Pois assim saberão que são falíveis, e se cercarão de pessoas, e outras lideranças com capacidade e compromisso para ajudar a desenvolver um projeto que é da coletividade. Pois assim, não esperarão ações e reações sempre perfeitas e meritórias em um difícil processo de reestruturação nacional.

 Pois assim,  reconhecem os seus valores e por isso são capazes de reconhecer que as demais pessoas também são valorosas e têm contribuições importantes a oferecer no processo.  

-Que sejam capazes de negociar. O que significa receptividade das manifestações e expressões dos vários setores da sociedade, trânsito pelas várias áreas de interesses, sendo um mediador dos interesses conflitantes da sociedade.

-Que sejam justos. E ser justo significa estar sempre em busca da verdade, que se esconde nas camadas de mil interesses, inclusive dos próprios. E isso requer ser humilde e estar aberto para aprender com sua experiência e com os outros. Pois a última verdade esconde sempre outra verdade que está por vir, e assim ela nunca é completa. Mas é necessário ser firme para não cair no jogo de pressões e interesses que prejudicam os seres humanos e desrespeita a vida em suas multiplicidades. Mas é necessário ser firme no reconhecimento de que a pluralidade traz diferenças, desigualdades e correlações de forças e de poderes diferentes. E que isso precisa ser cuidado com equilíbrio e respeito humano.

-Que sejam éticos. E ser ético não é somente cuidar dos cofres públicos e de seus cargos e ofícios com responsabilidades, é sobretudo se esforçar por respeitar o ser humano e amá-lo. E como isso é uma tarefa abrangente e que precisará estar sempre em construção caberão todos os outros tópicos, inclusive o de trabalhar pela coletividade que representa, e não em causa própria. Mas isso pode ser feito até sem burocracia e leis, em atitudes simples, em pequenas coisas, como em receber bem, ouvir e respeitar alguém, pelo simples fato de ser um ser humano e merecer isso. 

-Que sejam corajosos. Para não deixarem o barco com os sobreviventes se afogando e tomarem um bote particular às escondidas. E isso significa assumir, para qualquer efeito, essa causa que é coletiva também como sua, diante dos compromissos firmados. Para aceitarem que cometeram equívocos e não levarem os erros até o ponto que não tem conserto. Para serem humildes e recomeçarem quando necessário.

-Que sejam capazes de conviver com o novo.Pois a vida e as possibilidades de crescer e se desenvolver trazem em seu bojo a criação e recriação permanente. E assim, é necessária a aceitação daquilo que nem sempre está pré- estabelecido e as expressões e soluções  criativas da sociedade e da cultura.

-Que se preocupem com a paz, o amor e a fraternidade.Porque na guerra nós já vivemos. Temos a guerra de cada dia.E sem querer entrar nas guerras individuais que cada um carrega, a maioria da população tem que guerrear todos os dias por emprego, por alimentação, por educação, por saúde, por direito à dignidade, e por ter participação efetiva nos destinos da nação. Há guerras de desespero, guerras de segurança, seqüestros, guerras no trânsito. Precisamos de soluções e fraternidade.

-Que falem à população não somente com decretos, leis, projetos, mas também com o coração. E a linguagem do coração não é algo que se possa fazer sem desejos, sonhos e utopias.A linguagem do coração se transmite de coração para coração, transpira, flui, entra em ressonância. Não é algo que algum marketeiro possa inventar.Essa só poderá existir dentro de uma trajetória, de lutas, sonhos, esperança, confiança e amor.Alguém para quem os corações digam "queremos lá".

As caravanas dos desejos, sonhos e utopias procuram verdadeiras lideranças... 

Verônica Maria Mapurunga de Miranda - 02/10/2002

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