As caravanas passam...Largada para as eleições Brasil 2002

Da militância...

Enquanto preparo-me para escrever sobre esse  tema proeminente nas eleições Brasil 2002, chegam-me imagens de não muito distantes dias das militâncias políticas na década de 70 do século passado, quando eu era estudante universitária.

Um líder estudantil, saudosa memória, militante de carteirinha dos movimentos de esquerda(na época só haviam dois partidos) fazia questão de cumprir rigorosamente seu papel heróico.Ia ao Curso Básico do Centro de Humanidades fazer contato com os iniciantes universitários para enveredá-los para as discussões políticas, problemas estudantis e político-nacionais.

 Ficava devendo disciplinas no básico e era reprovado, para cumprir sua tarefa dessa iniciação política necessária.  Uma de suas maiores realizações, em uma época que greve tinha proibição irrestrita, foi estar a frente de uma greve de estudantes, em apoio a uma greve dos motoristas de ônibus.

Nas palestras e debates sobre a situação política do país ele fazia seus apartes e começava dizendo: "Eu que já fui operário ...". Fazia isso com orgulho e ciente de que a classe trabalhadora seria a vanguarda das grandes mudanças e revolução neste país.

Ele já não está mais entre nós. E de lá pra cá muitas mudanças ocorreram neste nosso país. Ao ponto de acompanharmos depois, outras gerações que desencantadas com as pasteurizações e derrocadas das utopias de liberdade, democracia e de mudanças no Brasil e no mundo inteiro, cantaram bravamente com Cazuza:"ideologia eu quero uma pra viver".

Ainda que a militância política tenha continuado nos limites dos partidos, principalmente de esquerda, fundados com a chamada redemocratização do país, dos quais há que se destacar os oriundos de movimentos sociais genuínos, ela continuou basicamente nos limites partidários. E só foi ativada como um grande desejo de mudança, aqui e ali, nos grandes momentos de salvação das instituições brasileiras.Como exemplo temos o fenômeno dos "caras pintadas" em 1992, que levaram ao impeachment do presidente de então, quando a bandeira brasileira foi resgatada, expressando os desejos da população como um todo.

Há que se considerar a militância persistente nos partidos, principalmente os de esquerda,  que em sua trajetória desenharam uma nova composição no cenário político nacional. E esta trouxe novas alternativas para a compreensão do  fazer política, com  visões diferentes, amplas, e mais  abrangentes. Visões estas que estão sendo postas em prática pelo esforço continuado de pessoas que militaram e continuam militando em partidos e movimentos,  defendendo idéias sobre a democracia, malgrado as formas ainda vigentes de se fazer política através da compra velada do voto, do voto de favor, e da persuasão.

No entanto, há momentos, históricos e importantes, em que os desejos, os sonhos e as utopias de um povo passam em caravanas, se transformam em uma militância que superam os limites de partidos, e deságuam em uma única corrente para o nascedouro de uma nova sociedade. Algo novo que precisa ser gerado, que precisa ser enfrentado e buscado, assumindo-se as responsabilidades disso. Assim foi com "os caras- pintadas" e está sendo agora com as eleições Brasil 2002.

As caravanas do desejo se afunilam em uma direção e militam, sozinhas, acompanhadas, em partidos, fora deles, em ônibus, nos trabalhos, em casa, na feira, nas praças, nas ruas, com sinais e gestos, com sorrisos, com bandeiras, com bottons na lapela, com camisas e bonés.  Um movimento que parece desagregado mas que tem um mesmo ritmo, um mesmo tom, e um mesmo sentido, na busca da liderança e lideranças capazes de junto com a população darem os passos para mudanças necessárias e urgentes em nosso país. 

A militância por um projeto político nacional diferente, a militância em busca de novas lideranças que não sejam "salvadores da pátria", que digam eu "fiz" e "eu prometo que eu vou fazer", negando as aspirações  e realizações coletivas e de equipes. A militância está em busca de lideranças que tenham um projeto político sólido, plural, negociável, aberto e caminhe com a população na resolução dos seus anseios, desejos, e necessidades.

As caravanas dos desejos e sonhos passam e vão cantando sem pedir licença "Ô abre alas que eu quero passar...".

"Braasiillll! Mostra a tua cara... 

 

Verônica Maria Mapurunga de Miranda - 01/10/2002

 

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