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(Um olhar sobre a cultura)

Artista...Profissão de risco ?

(Veja Arquivos)

Dias atrás, ouvi de um gerente de banco esta afirmação: artista... é uma profissão de risco. A frase dita em um dado contexto, o de que um artista provavelmente não asseguraria ao banco o lucro esperado em aplicações, e em conta gorda e permanente. Tirando do contexto do banco e da expectativa exagerada de lucro dos seus donos e gestores, essa frase fez-me pensar e perguntar-me, se o risco maior não seria para o artista. O risco de viver em uma sociedade tão defasada, ter que conviver entre outras coisas com bancos, cujos critérios para  estabelecer seus clientes estão pré-definidos de forma restritiva, sem considerar a grande quantidade de pessoas que, assim como os artistas, trabalham no setor considerado informal da economia.

        Falando de forma mais abrangente, uma sociedade ou uma cultura que não valoriza seus artistas, não valoriza também a criação e está fadada a fenecer. 

      Porta-vozes de todas as mudanças porque passam as sociedades  e culturas neste novo milênio e que analisam a crise porque passa nossa sociedade ocidental-cristã-científica experimental, apontam a arte como uma das grandes possibilitadoras, através da educação e da cultura,  da transformação e surgimento de um ser humano mais completo e mais criativo-exigência dessa nova sociedade que se avizinha. Essas evidências, entretanto, não norteiam as ações dos grandes conglomerados econômicos, de bancos, de governos, em nosso país, que acreditam, ao que parece, que a cultura e educação não são partes do desenvolvimento da sociedade como um todo, são artigos suntuários. Deixando de existir não fará falta.

      Aqui e ali um patrocínio, uma fundação cultural, trazem a ilusão de que a arte é valorizada. Como poderá ser se os artistas continuam discriminados, porque têm uma profissão de risco, porque não tem FGTS, carteira de trabalho assinada, com contra cheque, como se a maioria dos cidadãos brasileiros, vivendo hoje no setor informal da economia, os tivessem.

Viviane Forrester  em o Horror Econômico¹ mostra a grande farsa com que trabalham os que ditam e divulgam o significado da economia nas sociedades atuais. A farsa do emprego, como forma de sobrevivência, utilizada para mascarar o quadro de um tipo de sociedade, calcada em modelos de desenvolvimento econômico-social, que dá seus últimos estertores, e  que não dá conta das necessidades da maioria da população, de fato excluída, mas que a querem deixar submissa e sem voz diante dos problemas.

   Nunca é demais lembrar, que com todos os escândalos bancários, e quebras gerais de empresas e bancos, os seus usuários deveriam também perguntar-se sempre se os bancos não oferecem mais riscos do que serviços. E poderíamos concluir: vivemos na verdade em uma sociedade de riscos, onde quem mais os sofrem são os cidadãos, que têm seus direitos permanentemente negados em uma sociedade cada dia mais autoritária e desigual .

Nesse quadro, e à guisa de um  aprofundamento do problema,  poderíamos  perguntar:  ao querer negar ao artista seus direitos, ao querer negar-lhe espaços, onde possa exercitar sua arte e sua cidadania não estariam querendo negar a possibilidade de críticas radicais e transformações nessa ordem de coisas? Não estariam barrando o surgimento e a possibilidade de uma sociedade mais humana e mais criativa?

Artistas pronunciem-se! Vivemos em uma sociedade de riscos! E isto significa: Somos cada vez mais necessários!

Verônica Maria Mapurunga de Miranda-fevereiro/2000

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(1)Forrester, Viviane - O Horror Econômico-  tradução Álvaro Lorencini -São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1997

Artesanias-de Verônica Miranda -www.veronicammiranda.com.br

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