PEPE GRILLO (ou grilo falante?)*

A Tsunami Fala

A Tsunami - grande onda - falou na Ásia no Oceano Índico. Poucos ouviram. Os animais entenderam seus sinais e se recolheram escapando da fúria das águas. Tribos indígenas, nativas e isoladas das praias turísticas escaparam e não foram tocadas pela Tsunami. Uma menina, decerto interessada na natureza, salvou grande quantidade de turistas em uma das praias atingidas, por conhecer todos os sinais da Tsunami aprendidos em uma aula duas semanas antes, e avisar a todos do perigo, ao começar o refluxo das águas para o oceano.

Mas muitos continuaram assistindo impávidos ao furor da água, da grande onda, sem entender o perigo que corriam. Ao não compreenderem seus sinais muitos morreram. Morte massiva, com muitos desdobramentos tristes e sofridos para as populações locais e para os milhares de turistas que estavam por toda a área atingida.Um dos motivos disso foi a pouca divulgação do que era a Tsunami e de que as Tsunamis poderiam ocorrer aí. Apesar de haverem pesquisas sobre o assunto, a divulgação foi desencorajada e um pesquisador do assunto chamado de louco. Motivo principal: a divulgação da possibilidade de Tsunamis nas áreas atingidas atrapalharia o turismo local e a economia dos Estados e grupos econômicos interessados.

O outro motivo de tamanho desastre é a não compreensão da fala e dos sinais da natureza. Saímos da dependência da natureza para a dominação da natureza através dos recursos tecnológicos e da negação dos instintos mais profundos do ser humano. Negamos que somos natureza em favor de uma ética que coloca o ser humano, como o ser que pensa, racional, capaz de ter consciência de si mesmo, centro de tudo, e que coloca o que existe de natureza em si como algo mau a ser reprimido e negado. Essa ruptura cultural em favor do desenvolvimento da razão, do desenvolvimento da consciência, e condicionada pelo desenvolvimento dos sistemas econômicos e políticos será cada vez mais colocada à prova, quando o salto de consciência que precisamos dar como humanidade agora é maior e mais profundo: ou nos reconciliamos com a natureza e aprendemos novamente sua fala, agora em novo patamar, ou seremos levados à nossa própria destruição.

A ecologia profunda nos adverte, somos parte de um sistema biológico, físico e espiritual onde estamos intimamente ligados ao planeta terra, com suas águas, seus minerais, suas plantas, seus animais e nossos congêneres seres humanos, como um elo na cadeia da vida. O fato de não conseguirmos nos comunicar, nem entender os sinais da natureza não significa que somos mais desenvolvidos que ela, ou que somos o centro. Significa que renegamos nossos instintos profundos e que temos que buscar resgatá-los de uma forma ampliada e não de reprimi-los. A ampliação de nossa consciência passa necessariamente por aí. Requisitos necessários para a nossa sobrevivência e do planeta terra em futuro não muito distante.

Então, a Tsunami -a grande onda - e seus desdobramentos não são certamente um castigo de Deus, como já estão propagando. Mas, são resultado da incompreensão humana das leis da natureza, e resultado também da ganância e desigualdade entre seres humanos e dos seus sistemas econômicos e políticos, que atuam em base ao lucro, ao dinheiro e ao individualismo, onde o ser humano e a natureza não são tão importantes.

O mar não é cruel, cumpre suas leis físicas e naturais, que os animais do parque ecológico entenderam ao se recolherem quando ouviram seus sinais e por isso não morreram. Cruéis são os estupradores, os seqüestradores de órfãos, que aproveitando-se  da fragilidade de seus congêneres humanos após a tragédia perpetraram todo tipo de maldades. Cruéis são os sistemas econômicos e políticos que apesar da tragédia continuam mais preocupados com as cifras econômicas, com as estatísticas e com as próximas eleições políticas, do que com o desígnio das populações abatidas pela catástrofe. O ser humano na sua ética racional não é melhor do que a natureza sob a justificativa de ter reprimido seus instintos. A sua sombra acumulada e seus instintos reprimidos e não reconhecidos são os verdadeiros causadores de catástrofes. E isso necessita ser cada vez mais considerado.

Do outro lado da tragédia humana, o abraço da humanidade, através de corações sobre ondas devastadoras,  que se exprime na compaixão, na ajuda aos atingidos pela catástrofe, no amor que existe e pode existir em cada ser humano. Torcemos assim para que a ética que perdure seja a do coração, que sente e pensa, que é justa, reconhece os erros, as fragilidades, os instintos profundos e a natureza de cada um, que é também uma natureza em comum na nossa aldeia global - Planeta Terra.

 

Verônica Maria Mapurunga de Miranda

09/01/2005

* O pepegrillo ou grilo falante é a consciência do Pinóquio, aquele menino de madeira que foi se humanizando, tornando-se "consciente", alargando sua consciência, e aprendendo a AMAR. 


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