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9- UNICIDADE (VEJA ARQUIVOS) |
Ia começar a escrever sobre o processo de integração na individuação, tal qual estudado por Jung e junguianos, dando continuidade aos artigos já escritos, mas me chegou este texto. Deixei que chegasse. De fato, todo movimento, processos de integração e individuação que vivemos parece ter uma finalidade neste século: A unicidade, a conexão, a consciência cósmica. Jung ensaiou esses movimentos e Eric Neumann recuperou essa idéia que atualmente já está em pauta. E se fosse verdade? Se você estivesse mesmo conectado a todos no mundo? Tudo atualmente está dizendo que é verdade: Estamos todos conectados, mesmo que fisicamente não estejamos próximos. Várias tradições espirituais no planeta já sabiam disso. A unicidade já era conhecida em tradições espirituais orientais e xamânicas e no novo mundo “americano”, além da Europa. Carl Gustav Jung e Mircea Eliade as estudaram e esses estudos serviram de base para a psicologia analítica, assim como para a psicologia transpessoal. O sentimento de união mística é já uma experiência de pessoas variadas. A física quântica trouxe essas experiências para as ciências, buscando entender como isso acontecia e procurando explicá-las a partir de leis físicas e universais. Mas explicar e buscar compreender não é o mesmo que juntar as partículas divinas de uma consciência. Essa experiência na humanidade é humana e da natureza e não é possível realizá-la em laboratório, de forma externa, como uma experiência objetal (em que o ser humano é somente objeto da experiência e não sujeito). A não ser que queiramos nos tornar humanos robôs e clones de um Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley. Somente com a integração e ampliação da consciência os seres humanos poderão ser capazes de VER e VIVER isso. A mudança de perspectiva ou visão, dessa forma, mesmo que alguém obtenha muitas perspectivas a partir de vivências em culturas diferentes e de formações diversas, ela só ocorre com a integração das várias direções da consciência, retirando-a da unilateralidade a que nós seres humanos modernos estamos condicionados. A experiência da consciência cósmica e do vazio criativo que ela encerra é, portanto, uma experiência precedida de uma ou mais mortes psicológicas. Não nos reintegramos, não juntamos novamente nossas partículas divinas em função de um todo se não morrermos para essas direções da consciência até então vigentes e muitas vezes não diferenciadas do coletivo. Nesse processo todos aqueles que o vivem têm que viver aquilo que é aparentemente menor em cada um, como diz Jung a pedra angular esquecida e que é importantíssima na construção. A função inferior que todos nós portamos, o calcanhar de Aquiles de toda a vida é esta pedra. E fica a pergunta: Quem quer ser menor? Como dizia Gibran Kalil Gibran: Quem aceitaria ser um caniço surdo-mudo quando tudo o mais canta em uníssono? E, no entanto, nós temos que viver aquilo que parece menor, aquilo que incomoda, aquilo que dói, porque temos que ser tudo. E do que dói é de onde jorra o manancial criativo que se abre com o coração e que vai mostrando a verdadeira essência ou aquilo que nos liga ao todo e a todos, cantando. A alma canta e jorra e se abre para o vazio que a princípio parece escuro, mas que é criativo. Dar passagem para tudo o que nós somos necessita coragem. Coragem de alma e em um dado nível coragem de espírito. O sentimento cósmico é a maior força que existe, maior do que qualquer dor, dizem os mestres que sussurram nos nossos ouvidos e que deixaram seus testemunhos através de várias pessoas Depois de ter enfrentado a forja na fornalha, aquilo que parecia tão importante na vida externa dos mortais perde toda a importância. A alegria do coração vem de um lugar não determinado, da mesma forma que vem para os passarinhos quando cantam. É necessário tornar-se simples como a natureza e às vezes parecer rude, porque sem máscaras. Pensando em Francisco de Assis e nos seus atos arrebatados, que ora chorava pelo amor, ora se despia na frente de todos e ora cantava louvores para toda a criação, apenas porque estava a serviço de algo maior, desse todo que se fazia como uma necessidade maior. Viver sem viver em mim, como diria a mística Tereza D'ávila. Esse assunto pendente e que começou a ser tratado como algo urgente, para alguns, algo da moda para outros, e que aparece muito belo porque a beleza pode ser imaginada e criada, é algo que não acontece em um parque de diversões. Mas algo que ocorre como decorrência de crises, às vezes grandes crises e de jogar por terra todas as paredes externas e vê-las transformar-se em pó, para se encontrar a pedra angular, aquela que foi esquecida e que estava na base de tudo e de onde tudo novamente poderia ser reconstruído, agora juntando as partículas divinas que estavam soltas e que precisavam unir-se para entrar em movimento de criação. Francisco de Assis retirou-se para cavernas e lá, isolado, viveu esses momentos. Enquanto eu escrevia pensava na arte, ao criar-se uma bela sinfonia em seu movimento fluido, ou de como ela em forma de um tufão ou ventania, aproveita a doença ocular de um artista plástico, a esquizofrenia de outro e cria belezas de um todo que serve ao todo. O subjetivo aí e até a doença, aquilo que parecia menor e indesejável, já estava a serviço, servo de uma ordem maior. Quantas vezes Francisco de Assis apareceu como um mendigo, que parecia dizer coisas insanas, quando trazia mensagens essenciais na missão em que estava imbuído. Era ele, mas não era ao mesmo tempo, porque vivia sem viver permanentemente nele mesmo.
Os que restarem das crises sucessivas que
passaremos neste século começarão a vivenciar essas realidades,
talvez em condições melhores das que viveu Francisco de Assis,
porque serão muitos. As paredes de um mundo externo e de máscaras
ruirão para que o movimento criativo, o conhecimento que jorra
através de várias fontes possa ocorrer. Aí, então, nós começaremos a
ter verdadeiramente essa conexão imaginada, fluindo e trazendo os
primeiros acordes da unicidade em um nível coletivo. Isso não
invalida, entretanto, que escutando os sussurros da natureza e dos
invisíveis que nos rodeiam possamos, em meio às crises que se
desenham, ir buscando os próprios caminhos de transformação. Ela não
cairá dos céus. Somos nós que temos de realizá-la. |
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Fotomontagem por Verônica Maria Mapurunga de Miranda |
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