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13-O ARQUÉTIPO DA CRIANÇA COMO COMEÇO E FIM - (VEJA ARQUIVOS) |
Esses dois textos escritos por mim são partes de um mesmo tema abordado por Jung e que é importante considerá-lo em todo processo de individuação e de transformação. Quando se estabelece uma enantiodromia a pessoa é remetida ao seu calcanhar de aquiles (função inferior) e passa a percorrer um novelo de fio de toda a personalidade e que começa sempre na infância. Não é alguém que começa, mas o novelo da própria sombra e inconsciente começa a se desenrolar. É como uma revisão, que é também faxina e que ocorre em vários níveis, porque o conhecimento da sombra e inconsciente se aprofunda e se amplia, e à medida que o faz vai tornando-se coletivo. A criança ferida está lá e isso ocorre com todos, em maior ou menor grau. A separatividade que se estabelece com a formação do ego (eu consciente) causa desde esse fato uma ferida, que só poderá ser curada totalmente, com o resgate da criança eterna, que traz vitalidade, espontaneidade, alegria e criatividade e que significa, de alguma forma a entrada para o "arco de dentro"(vide Projeto Atman de Ken Wilber), ou para uma via espiritual. O nascimento da criança divina, que se anuncia várias vezes como arquétipo é nesse ponto axial que se faz em sua totalidade. E por isso Jung diz que a criança, seu arquétipo, estava no começo e no fim do processo de individuação ou da integração da personalidade. O arquétipo da criança em sua totalidade só pode ser resgatado com renascimentos e resgates da alma. Em nossa cultura unilateralizada o arquétipo da criança e a criança ferida que o porta como uma sombra é, em geral, reprimido em função de um desenvolvimento da personalidade que não necessariamente é crescimento, amadurecimento, mas significa tornar-se um adulto, adaptado às normas e regras sociais e culturais. Em determinadas culturas em que a alma é considerada, há muito cuidado com as crianças para que não haja perda da alma. A cultura em si cuida disso. E o desenvolvimento da personalidade passa por vários rituais de passagem. Na sociedade e cultura ocidental unilateralizada em que esse desenvolvimento é mal acompanhado pelas famílias e sociedade, a criança é submetida a uma educação rigorosa, no sentido de se encaixar às regras sociais e culturais, e desde cedo sofre um processo de condicionamento. Em nossas sociedades patriarcais as características de espontaneidade, vitalidade, sensibilidade e criatividade são embotadas por todas as regras sociais, culturais, impedindo a autoexpressão verdadeira e com isso ocorre, em geral, perdas da alma. A alma é confundida com a mente, quando são coisas diferentes. E todo esse desenvolvimento que pode ser mais ou menos deficitário e/ou deficiente, tem que ser revisto em um processo de individuação e/ou transformação. Nestes tempos a psicologia, sobretudo a psicologia transpessoal passou a dar importância ao arquétipo da criança. Cláudio Naranjo quando falava sobre a sociedade patriarcal dizia que nela além da perda do feminino, havia a perda da criança interior, que traz vitalidade, espontaneidade e alegria e isso fazia dano às pessoas e à cultura. Jung conhecido como um dos precursores nesses temas, que foram posteriormente mais desenvolvidos, dizia que a criança quando nascia não era uma tábula rasa, ou seja, não estava em branco. Hoje, já se fala mais abertamente em reencarnação, memórias akáshicas e memórias e traumas perinatais (do período da gestação da criança), que têm influência sobre o desenvolvimento da personalidade. Estão nascendo crianças, atualmente, que recordam vidas passadas. Jung durante seu processo de individuação, há relatos em seus livros, de que ele passava temporadas em sua casa fora da cidade em que havia um lago e ali fazia castelos na areia e se permitia brincar como uma criança. Uma das formas que encontrava para estar em contato com sua criança interior. Hoje já existem ferramentas e instrumentos criativos que possibilitam esse acesso.
Os dois textos abaixo, escrevi em minhas páginas do facebook. O primeiro trata da necessidade de cuidar da criança interior e de sua integração e o outro é um questionamento de uma análise feita por Marie Louise Von Franz sobre o Puer Aeternus (grosso modo o adulto que traz uma criança que não amadureceu) em um estudo do Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupéry. Uma das questões importantes é que ela tenta analisar uma obra de arte e simbólica, como algo somente subjetivo, ou simplesmente como uma expressão de um indivíduo, buscando às vezes coerência aonde não existe, porque uma obra de arte e simbólica está além da subjetividade. O livro Pequeno Príncipe é um fenômeno mundial, lido e consagrado em várias línguas, o que denota que não é algo simplesmente subjetivo. Além disso, ela usa a idéia de reprimir aquilo que considera regressivo, porque é sombra e isso está muito mais próximo de uma análise psicanalítica. No processo de individuação e ao trabalhar com símbolos, o processo baseia-se na "função transcendente", que significa que se procura não reprimir, mas alcançar um terceiro ponto de vista (entre consciente e inconsciente) sobre os aspectos sombrios. A função transcendente é fundamental em todo o processo e isso significa que não se deve reprimir sombra, porque ela volta com toda a carga. Além disso, como já dizia William James se exterminamos nossos demônios exterminamos também nossos anjos. E por isso o processo não é de realização, nem de eliminação da sombra, mas de transcendência da mesma. Veja o artigo.
CUIDAR DA CRIANÇA INTERIOR É CUIDAR DA VIDA E DE NOSSA INTEGRAÇÃO.
UM NOVO PARADIGMA. Fiz o comentário abaixo em uma frase que circula na internet: "Todo adulto difícil tem uma criança ferida." "É por isso que cada adulto deve sempre estar cuidando de suas sombras. Muitas pessoas vão aos templos e pensam que não têm sombras, mas elas são partes dos seres humanos, até mesmo dos santos, enquanto estiverem no planeta. E se levarmos em conta que quando comparamos um adulto difícil com um que pensamos que não é, e o mesmo que achamos que é difícil já percebe outras coisas daqueles que compararam, vemos que comparações não servem. O melhor é cada um cuidar de sua sombra para não ficar projetando-as nos outros. Algumas pessoas porque não cuidam de suas sombras fazem muito dano aos outros. Mas, o importante de tudo isso é que aquilo que vai retorna para onde saiu. Uma vez vi uma mãe falar de uma filha dizendo que ela era um adulto difícil e dava para se perceber que a filha era apenas uma pessoa que tinha vontade própria e a mãe que era manipuladora e dominadora não conseguia que ela fizesse tudo o que ela queria. E então dizia que ela era uma adulta difícil. Do seu ponto de vista a filha poderia dizer a mesma coisa da mãe: Que ela era uma mãe difícil e talvez mais infantil e zangada do que a própria filha. Então isso é relativo. Várias correntes espirituais dizem que não há adulto que não tenha uma criança ferida, porque além dos processos e trajetórias individuais de cada um, todos sofrem o processo de condicionamento e separatividade quando estão formando o ego. E isso faz uma ferida. O mais importante, talvez, seja a transparência de assumir as dores e as feridas e a capacidade de acolher essa criança interior. Felizes daqueles que despertam e percebem logo que tem que cuidar de sua criança, porque uma criança interior que tem possibilidade de se manifestar e recuperar sua vitalidade deixará os adultos mais felizes e vivos, não deixando que a amargura, a inveja e o preconceito tomem conta da pessoa. Dela depende a nossa espontaneidade, transparência e vitalidade. Viva a criança interior! Veronica Maria Mapurunga de Miranda - 02.10. 2019 - Este texto tinha sido colocado em minha página pessoal do Facebook (Veronica Mapurunga Miranda) e em minha página do Facebook (Transitando em Novos Paradigmas-).
O TEMA DA CRIANÇA COMO ARQUÉTIPO E COMO SOMBRA Com todo o respeito pelo trabalho de Marie Louise von Franz uso essa citação abaixo1, de seu livro sobre o Puer Aeternus para pontuar algumas questões sobre o tema da criança. Hoje temos uma quantidade de estudos sobre esse tema e ele é bem evidenciado por Jung que vivenciou bastante o arquétipo da criança. Mas por outro lado, o arquétipo não está dissociado de nenhum aspecto sombrio que qualquer indivíduo possa ter em relação ao próprio desenvolvimento psicológico. O arquétipo, o resgate de sua totalidade, e o símbolo são importantes por isso, porque podem transcender exatamente aquilo que é sombrio e está dissociado. Quando alguém lida com arte, a vivencia e a entende, assim como o simbólico, é capaz de entender isso. Jung não psicologizou a arte, pelo contrário, usou a possibilidade nela contida de ir além da própria psicologia e fazer transcender. Então, uma obra de arte não pode ser reduzida ao seu autor(a) porque ela não é algo simplesmente subjetivo, assim como o arquétipo que é do inconsciente coletivo. Além disso algumas obras, como o pequeno príncipe de Saint Exupéry, independente de que alguém goste ou não da obra, está muito mais inscrita na metafísica, do que na psicologia. Ou em um contexto (se é que se pode falar assim) espiritual e não psicológico. Quando Marie Louise Von Franz diz que não consegue ver se o pequeno príncipe representa o lado sombrio da criança ou a criança divina essa é uma dificuldade dela. Porque de outra forma, o livro passou mensagens para pessoas do mundo inteiro, que o reconheceram como uma forma de sabedoria. E isso é do terreno da metafísica, ou espiritualidade e não da psicologia, principalmente da psicologia que trata de patologias. Quando nesse primeiro parágrafo ela se refere à sombra infantil que deve ser suprimida e reprimida, não utiliza parâmetros de análise junguiana. Segundo Jung não se deve reprimir e nem suprimir a sombra, porque ela volta muito pior ou causa dissociações. Eu acho essa questão importante de ser discutida porque ela foi tratada do ponto de vista da psicologização da arte, que acaba retirando da arte sua possibilidade simbólica. Quando a criança aparece como um tema é porque foi constelado também o arquétipo e essa é a possibilidade de trabalhar e transcender aquilo que é sombrio. E isso se faz através de uma forma simbólica. O pequeno príncipe tem as duas coisas, assim como muitos filmes de arte, como os do Ingmar Bergman, por exemplo, que são densos, abordam aspectos da sombra, mas são muito simbólicos e libertadores. Quem os assistiu sabe. São filmes e livros para vivenciar. Então, analisar o pequeno príncipe simplesmente do ponto de vista psicológico é reduzi-lo e não poder aproveitá-lo, de fato, naquilo que ele tem de melhor. Acho que Marie Louise von Franz em várias situações tem dificuldade de lidar com as obras de arte e por isso acaba as reduzindo. James Hillman discute essa questão mostrando que a arte tem seu próprio status, não pode ser reduzida ou psicologizada. É uma atitude bem diferente da Nise da Silveira, que não patologiza a arte, pelo contrário, a considera redentora, através das possibilidades simbólicas. 16.11. 2019. Veronica Maria Mapurunga de Miranda (Este texto foi escrito em minha página do facebook- Diálogos com Jung) ---------------------------------------------------------------------- 1."Quando o tema da criança aparece, ele representa um pouco de espontaneidade, e o grande problema — em cada caso um problema ético —individual — é decidir se se trata de uma sombra infantil que deve ser suprimida e reprimida, ou de algo criativo que caminha em direção a uma possibilidade de vida futura." "A criança está sempre à frente e por trás de nós. Atrás de nós, é a sombra infantil que deixamos para trás e a infantilidade que deve ser sacrificada — aquilo que sempre puxa para trás levando à imaturidade, dependência, preguiça, falta de seriedade, fuga da responsabilidade e da vida. Por outro lado, se a criança que vem em nossa frente significa renovação, a possibilidade da juventude eterna da espontaneidade e de novas possibilidades — então a vida corre em direção do futuro criativo." "O grande problema sempre é conseguir distinguir em cada situação se existe naquele caso um impulso infantil que nos faz regredir ou um impulso que parece infantil para a própria consciência da pessoa, mas que realmente deve ser aceito e vivido porque leva ao crescimento." "Às vezes, a resposta para esse dilema é bastante óbvia, pois o contexto dos sonhos pode mostrar muito claramente o que significa. Vamos dizer que o tipo puer aeternus de homem sonha com um menino pequeno; então ele pode deduzir pela história do sonho se a aparição da criança tem efeito fatal, e nesse caso podemos tratar como se a sombra infantil estivesse ainda puxando para trás. Se a mesma figura aparece de modo positivo, contudo, aí você pode dizer que o que parece às vezes muito tolo e infantil deve ser aceito por encerrar em si uma possibilidade de vida." "Se fosse sempre assim, então a análise desse tipo de problema seria muito simples. Infelizmente, como todos os produtos do inconsciente, o lado destrutivo e o construtivo, a regressão e o avanço estão intimamente interligados e completamente emaranhados. É por isso que quando tais figuras aparecem é muito difícil decidir entre elas e, às vezes, é praticamente impossível. Isso parece-me ser uma parte da situação fatal com a qual nos confrontamos nesse livro e no problema de Saint Exupéry. Não se consegue (pelo menos eu não consigo), decidir se tratamos a figura do pequeno príncipe como sombra infantil destrutiva, cuja aparição é fatal e anuncia a morte de Saint Exupéry, ou se a tratamos como uma chama divina de seu gênio criativo." texto de "Puer AETERNUS", de Marie Louise Von Franz. -------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Bibliografia sobre individuação: 1- Jung Carl Gustav - O homem e Seus Símbolos - Rio de Janeiro : Ed. Nova Fronteira. Edição Especial Brasileira . 2- Jung Carl Gustav - Aion - Estudos sobre o simbolismo do si-mesmo. Petrópolis, RJ: Vozes, 5ª edição, 1998. 3 - Jung Carl Gustav -Tipos Psicológicos- OBRAS COMPLETAS DE C.G. JUNG VOLUME VI - Petrópolis. RJ: Vozes, 1991 4- Jung Carl Gustav - O Eu e o inconsciente- Petrópolis, RJ: Vozes, 1987 5- Jung , Carl Gustav - Psicologia e Alquimia- Petrópolis, RJ: Vozes, 1990. 6- Jung , Carl Gustav - Psicologia do Inconsciente - Petrópolis, Vozes, 1980 7- Jung, Carl Gustav - Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo - Petrópolis, RJ:Vozes, 2000. 8- Jung, Carl Gustav - Estudos Alquímicos - Petrópolis, RJ:Vozes, 2003 9- Marie Louise Von Franz - Psicoterapia - São Paulo, Paulus, Coleção Amor e Psique,3ª edição, 2011 10 - Maroni, Amnéris - Figuras da Imaginação - Buscando compreender a psique. São Paulo: Summus, 2001
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Fotomontagem por Verônica Maria Mapurunga de Miranda |
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