TRANSITANDO EM NOVOS PARADIGMAS

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Francisco Guerreiro : A Consciência Cósmica  -   CLIQUE PARA VER MAIS ARQUIVOS



 

Para todos que de alguma forma acompanham meus trabalhos nesta página Artesanias - de Veronica Miranda devem ter visto várias imagens de Francisco de Assis e devem ter pensado: "É católica". De fato, não sou praticante, mesmo tendo sido batizada em família católica e como muitos que não são e que de alguma forma têm Francisco em suas artes, em seus caminhos, mesmo às vezes pertencendo à outras religiões. Para mim sua imagem começou a aparecer com a arte. E foi como um símbolo que eu o considerei, ou uma luz que de forma simbólica sempre vem esclarecer algo que a própria consciência não alcança. Já me perguntaram: por que você faz santos? Isso é religião? De fato, não é. Alguns símbolos e a arte quando expressa arquétipos têm a possibilidade de nos religar ao todo e por isso pode ser considerada sagrada, em um conceito de sagrado diferente do considerado pelo cristianismo. Mas a imagem de Francisco que aparece em muitos lugares, com força, de forma arquetípica e até numinosa  simboliza aquilo que ele foi, uma consciência cósmica, que traz inspiração e é muito freqüente atualmente, tanto que o Papa atual o assumiu.  Arrisco-me a dizer que ele inspira porque estamos cada vez mais e de forma acelerada indo em direção a essa consciência. O movimento é este. Mas ao não ser reconhecido em suas mensagens e inspirações gera-se também o movimento contrário. Aquelas energias que chegam e não são acolhidas geram também destruição.

Quando o Papa Francisco assumiu fiquei apreensiva, porque o significado disso podia ser transformado em um "pastel", já que  o poder temporal da Igreja é muito forte. Francisco de Assis nunca quis ser santo, mas assim está na Igreja e sua iconografia, desde que foi assimilado  de outra forma e não com toda a mensagem que ele trazia. A primeira coisa não considerada foi a natureza, que era parte de sua espiritualidade cósmica. E logo, com a chegada de Papa Francisco, veio uma bula papal Laudato si que incorporava a natureza e a ecologia na Igreja, ainda difícil de ser integrada e assimilada em suas práticas. A religião católica tanto quanto outras cristãs e também algumas não cristãs padecem dessas contradições que levam e podem levar mais ainda a muitos problemas na Igreja e nos adeptos. A consciência cósmica exige a integração da natureza e da  liberdade.

E eis que o Papa Francisco anuncia com premência e grande novidade para outubro de 2019 e que já está gerando reclamações de todos os lados, o Sínodo da Amazônia, que mais que um encontro significa um novo posicionamento da Igreja em relação aos vários aspectos naturais e da natureza, que configuram essa região para os povos que a habitam e para o planeta. Essa questão que parece colocar a bula papal Laudato si em evidência e ação tem gerado questões contraditórias dentro da Igreja e também fora dela. O papel da Igreja assumindo a defesa de uma região e de povos que correm riscos iminentes de extinção deveria mobilizar a população para, inclusive, entender o que ocorre. (vide artigo sobre o sínodo: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/587943-o-que-e-o-sinodo-para-a-amazonia)

Os enunciados são a busca da "ecologia integral" e como afirma um membro da equipe itinerante do Sínodo o jesuíta Fernando López: "tempo para amazonizar o coração romano da Igreja", (...) acrescentando que é "tempo para a Igreja e para o mundo descobrir que a Amazônia é outra coisa", de aumentar a consciência, de mudar os paradigmas globais."

Esses enunciados têm gerado reações de católicos e do clero  dizendo que isso significa destruir a Igreja. De fato, a Igreja necessita muito da Amazônia no que significa a preservação da natureza e do planeta, mas também da harmonia, integração interior para estes tempos. Não há mais tempo. E os que têm medo da destruição da Igreja saibam que ela será destruída de qualquer forma, em todos os seus pontos endurecidos, rígidos, pouco integrados, que não fluem e que não suportarão as novas energias desse mundo cósmico e da bio-espiritualidade, que emana da própria terra, nossa mãe cósmica e arquetípica e do novo sol feminino.

Eles são maiores, portanto não têm que se adaptar a nada. São as religiões que têm que considerar todas as mudanças do planeta e a nova consciência que está chegando. Se as religiões não levam o ser humano a essa consciência o levarão à destruição. E nesse sentido é provável que contemos com a “misericórdia divina” e as pessoas possam optar por ir de qualquer forma nessa direção e as religiões se acabarão. Esse é o movimento.

A outra constatação da Igreja é que "provavelmente os povos amazônicos originários nunca foram tão ameaçados em seus territórios como são agora", mesmo considerando ao que parece o extermínio ocorrido nas colonizações. Eu diria que também as religiões estão ameaçadas. Quando os telhados dos templos começam a cair só restam os fundamentos. Todos têm que ir à eles e examinar as fissuras que foram causadas por uma consciência insuficiente e pouco integrada. A consciência cósmica varre como o vento.

Todos que fazem o caminho individual rumo a essa integração, à consciência cósmica, sabem que a inclusão de todos ou do coletivo nesse movimento é inexorável. E nesse sentido o apelo de amazonizar o mundo é absolutamente necessário. A busca da ecologia integral, nesse sentido,  é se ligar à terra e ao cosmos, ao corpo, à natureza, dos quais os cristãos foram separados na teologia cristã que foi disseminada de forma arquetípica e insuficiente,  com a divisão entre céu e terra, corpo e espírito, gerando uma quantidade de doenças, dissociações e conseqüências,  que  se vêem a olhos nus nos tempos atuais. A própria Igreja carrega no seu corpo o peso de suas atuações seculares e divididas, pelas práticas colonizadoras, por exemplo. Os fundamentos foram esquecidos. A tentativa radical de Francisco, de se harmonizar com a natureza e a vida, da compaixão com o ser humano e os seres vivos foi assimilada ao contrário, de acordo com interesses religiosos temporais que não servem mais.

A igreja tem o que aprender com a Amazônia, com a consciência cósmica, que é a mesma de Francisco de Assis, que padecia (porque era solitário em seu sentimento cósmico e no seu entendimento) de uma fraternidade radical com os seres humanos, com os seres vivos, com o sol e a lua, com a mãe terra e com o cosmos. Mas não deve perder a oportunidade de deixar a cultura amazônica preservada, sem conversões, porque harmonizar significa conviver com aquilo que é diferente, mas que faz parte de uma mesma consciência. Todos os elementos são necessários e a alteridade precisa ser respeitada. Assim iremos com mais respeito e fraternidade para um objetivo comum e ecológico profundo, que é de manter a casa comum, a saúde bio-espiritual e ir rumo à uma nova consciência. Francisco tem vindo como um símbolo e uma luz a muitos de nós por essa necessidade. Que saibamos encontrar o que as multidões de consciências anseiam por baixo de suas máscaras e de seus mundos ainda presos, clamando por amor e liberdade.

Que seja mais que tudo uma aprendizagem para a verdadeira alteridade e horizontalidade necessárias, respeito mútuo e fraternidade para objetivos comuns de manter a casa comum e acabar as fissuras que obstaculizam a nova consciência. A exemplo dos povos amazônicos será necessário um FRANCISCO GUERREIRO.

 

Veronica Maria Mapurunga de Miranda - 15.07.2019


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Francisco Guerreiro - Escultura  em epoxi sobre garrafa de Suco de uva reciclada por Verônica Maria Mapurunga de Miranda. Maio/ 2019

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Midi de fundo: O Último dos Moicanos


 

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