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Guia Viçosa  - História e Cultura

                                      Apontamentos e Reflexões

Quando iniciei este site -Viçosa do Ceará - Uma Página não Oficial - a seção Guia Viçosa era um lugar de fotografias de lugares interessantes, pitorescos, tradicionais para se visitar. Só havia, então, o meu site sobre Viçosa do Ceará. Hoje pululam na internet fotos lindas, lugares, publicidade, vídeos oficiais ou não sobre Viçosa do Ceará. De sorte que percebo que o mais importante nesse pequeno espaço é fazer alguns apontamentos que possam levar a uma mobilização de idéias e conhecimentos sobre a história e a cultura em Viçosa. Tenho escrito algumas crônicas no site Artesanias de Verônica Miranda, parte desse portal, que aos poucos também estarão linkados aqui, compondo esses "Apontamentos e Reflexões". Verônica Maria Mapurunga de Miranda - 19.06.2017

Que a história tenha alma enquanto resgatamos as partes e os elos da história fragmentada. Que se faça a "contemporaneidade do não coetâneo" transcendendo os tempos, para vivenciarmos a cultura de um presente mais pleno. E que possamos apontar as necessidades e construir desde o aqui e agora, os tempos vindouros. Verônica Maria Mapurunga de Miranda - 21.11.2017

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       Litígio de Terras entre Piauí e Ceará (Veja Arquivos)

Estou escrevendo este artigo sobre uma questão que considero absurda. Por meados de 2022, ou um pouco antes, li na internet que estava havendo uma votação na Assembléia Legislativa do Ceará sobre uma questão de limites de território entre Piauí e Ceará e que envolvia uma extensa área da Serra da Ibiapaba e seus municípios. Achei uma questão esdrúxula, porque entendo que há mais de um século foi se conformando uma região econômica na Serra da Ibiapaba, que depois adquiriu o status de microrregião e que comporta não somente a economia, mas muitas outras variáveis, dentre elas os fatores naturais, biomas (serra e sertão, na serra incluindo a área úmida e carrasco), a população com suas tradições e pertencimentos, um determinado tipo de produção agrícola que foi sendo modernizada. O turismo que foi sendo descoberto com uma vocação da região para alavancar sua economia. E, por isso achei que essa questão ia morrer e caducar, ou se resolver em outra instância com a mediação do próprio governo federal. Na verdade, estamos com muitos problemas de várias ordens no país para entrarmos em mais uma guerra nas estrelas da federação. Esse espírito belicoso colonial e imperial que ainda existe na população, além dos interesses particulares e pecuniários é o que infelizmente nos deixa fora do presente, não realizando de forma mais satisfatória suas demandas.

E por isso pensei que a questão caducaria. Mas, que nada! Parece que há interesses muito fortes no assunto e não é do Estado. Porque pergunto: O que é o Estado? Essa entidade aparentemente neutra e abstrata é formada de muitas pessoas, classes sociais e muitos interesses, apesar de parecer que é somente uma estrutura jurídico-administrativa. Quando vi um carro de som passar anunciando que ia ter uma audiência pública sobre o tal litígio e que a Defensoria Pública do Estado do Ceará também estava na questão, tornou-se amicus curiae no processo pensei: A questão é séria e absurda.

Disseram assim: Esse litígio é uma questão secular. Praticamente essa área nunca foi reclamada antes. A primeira pergunta que faço é por que em todos os anos deste século que passou, com muitas relações entre a Serra da Ibiapaba e as cidades do Piauí, em boa vizinhança, por que somente agora veio essa questão com tanta força? Poderíamos lembrar que essas áreas de terra, assim como muitas terras devolutas do Estado brasileiro, nunca foram reconhecidas, porque não tinham importância e logo que foram ao longo do tempo ocupadas com escolas e equipamentos de educação, estradas e outras infra-estruturas, postos de saúde, parque nacional conhecido internacionalmente e muito visitado, aeroporto, muita arrecadação de impostos, fazendo parte de uma economia orgânica em pleno desenvolvimento, com um clima ainda agradável cresceram os olhos de quem as reclamam atualmente.

Em números, segundo a revista Plenário (Órgão Oficial da Assembléia Legislativa do Ceará-fevereiro/Março/Abril de 2023) a área de litígio tem: 245 mil pessoas afetadas diretamente; 13 municípios;35 distritos; 733 km de estradas; 290 escolas; 172 unidades de saúde; 598 torres eólicas, 21 mil estabelecimentos agropecuários; 2 açudes (jaburu- que abastece de água toda a serra; e Lontras); 1 aeroporto(São Benedito); 1 Unidade de Conservação Federal (Parque nacional de Ubajara); 1 Unidade de Conservação Estadual (Bica do Ipu). Os municípios cearenses afetados no litígio são Granja, todos os da Ibiapaba (Viçosa do Ceará, Tianguá, Ubajara, Ibiapina, São Benedito, Carnaubal, Guaraciaba do Norte, Croatá), Ipu, Ipueiras, Poranga, Ipaporanga e Crateús.

Assim também ocorre com as áreas devolutas ocupadas por pequenos agricultores e pescadores, que quando começam a se valorizar vêm os capitalistas e empresas e se apropriam. O levantamento feito nessas áreas mostra uma quantidade grande de equipamentos do Estado do Ceará, feito com a população dessa área e mais, porque Parque Nacional de Ubajara, com bondinho, aeroporto são investimentos muito grandes. E diferentemente das terras devolutas ocupadas por empresas neste caso existe a mediação do Estado, são equipamentos do Estado. Mais do que uma questão jurídica, esta é também uma questão política. E não é somente uma questão cartográfica, porque afeta a população que aí se territorializou, com seus pertencimentos, tradições culturais, atividades econômicas e vidas. Que se querem cearenses. E eu pergunto mais uma vez, como dois governadores de um mesmo partido, que é o partido do Presidente da República estão em litígio em uma questão de Estado, que afeta a população? Isso já poderia ter sido resolvido com vontade política.

A área em litígio atualmente é uma área bastante ocupada por pessoas que se consideram cearenses e é lógico que uma mudança de Estado nessas alturas significa um transtorno jurídico-administrativo na vida das pessoas e não pensem que o transtorno é somente das pessoas das áreas em litígio, porque os equipamentos, as cachoeiras, os parques, as atividades econômicas que fazem parte da microrregião da Ibiapaba têm uma organicidade e terá repercussões em todas as suas atividades.

Percebo que os procuradores do Estado do Piauí que reivindicam as áreas em litígio se reportam sempre a uma lei do final do século XIX, que segundo eles dava direito ao Piauí. Direito este não reclamado por mais de um século. De fato, Ibiapaba era uma área dos Povos Tabajaras e consta que D. Pedro I teria dito que essa área era deles na Capitania do Ceará. E neste caso foi uma lei bem mais antiga. Mas, os Tabajaras, assim como muitos dos seus descendentes foram engrupidos. E logo que os senhores de terra se apoderaram das cidades que antes eram as tabas ou aldeias dos tabajaras eles ficaram sem nada. Isso foi a colonização do capitalismo nos seus inícios. E agora parece que no seu fim representantes do capitalismo moribundo querem fazer uma nova colonização nas terras ancestrais. Voltamos à colônia? A História não se repete a não ser como máscara. E será importante que a desmascaremos mostrando que o presente pode ser diferente.

Por que em vez de tomar de assalto uma microrregião conformada em seus biomas, com sua atividades que estão se desenvolvendo, e sua população com seus pertencimentos, que pelas pesquisas e consultas realizadas se declara cearense, não se aproveita a boa vizinhança e se estabelece um plano turístico que envolva Piauí e Ceará e suas terras possam estar anexadas em um programa que traga vigor econômico para os dois Estados, respeitando os limites e aproveitando tudo de bom que os dois tem? O Piauí tem belas praias, o Museu do Homem Americano, as Sete Cidades e tantas outras atividades culturais maravilhosas que permitem um roteiro e uma cooperação entre os dois Estados, uma boa relação nessas atividades. O passado colonial e imperial não pode estar mais no presente, como desculpas para ações que farão danos a uma microrregião e à população que nela vive. Vivamos o presente reconhecendo os direitos conquistados por ocupação durante mais de um século, em que não foram contestados.

Assim como na Amazônia, essa é uma questão que pode ser resolvida através de programas e resoluções de nível federal e não por uma resolução judicial.O outro aspecto importante é que a população das áreas litigadas e suas microrregiões não estão informadas adequadamente do que ocorre e das conseqüências dessa ação judicial. Mesmo que uma perícia da área tenha sido solicitada pelo TSJ ao exército brasileiro, e que tenha sido realizado um estudo socioeconômico e consulta, com as populações afetadas pelo litígio, e antes que o martelo seja batido, seria importante uma consulta ampla das pessoas das regiões e microrregiões afetadas, com um plebiscito. Se é uma questão de Estado, todos temos direito a ser consultados, na Democracia.

Se queremos a paz para o mundo, por que permitir uma guerra nas estrelas federais?

Pela anulação da ação judicial de litígio e encaminhamento da questão no Poder Executivo Federal.

Verônica Maria Mapurunga de Miranda- 15.08.2023

Nos endereços abaixo, algumas informações sobre o litígio:


1-Relatório do litígio entre Piauí e Ceará será entregue e briga avança –reportagem de Francy Teixeira – 29.07.2023 –
https://www.meionorte.com/politica/relatorio-do-litigio-entre-piaui-e-ceara-sera-entregue-e-briga-avanca-478071.- Acesso em 15/08/2023

2- Ceará pode perder cachoeiras e aeroporto em litígio de terras com Piauí –Notícias –Jornal Omeionorte.com-• 12/06/2022- https://www.meionorte.com/noticias/ceara-pode-perder-cachoeiras-e-aeroporto-em-litigio-de-terras-com-piaui-447788. Acesso em 15/08/2023

3- Comitê de Estudos de Limites e Divisas Territoriais do Ceará- Celditec conclui estudo realizado em área de litígio entre o Ceará e Piauí- Por Júlio Sonsol
https://portaldoservidor.al.ce.gov.br/noticias/celditec-conclui-estudo-realizado-em-area-de-litigio-entre-o-ceara-e-piaui02/08/2023 –Acesso em 15.08.2023

4- MP do Ceará entra em briga no STF contra o Piauí em litígio territorial-• 11/08/2023- https://www.meionorte.com////////////colunas/francyteixeira/mp-do-ceara-entra-em-briga-no-stf-contra-o-piaui-em-litigio-territorial-364489/- Acesso em :15.08.2023

5-Vidas Divididas –Litígio Ceará e Piauí- in Revista Plenário (Órgão Oficial da Assembléia Legislativsa do Estado do Ceará- Ano XIV-fevereiro/março/abril de 2023.65ª edição.

6- Folder Litígio de Terras Entre o Ceará e o Piauí-Comitê de Estudos de Limites e Divisas Territoriais do Ceará –ALECE- IPECE- UVC-APRECE.

 

Este texto foi escrito por mim para de alguma forma (não presencial) participar na audiência pública convocada pela Defensoria Pública do Estado do Ceará dia 17.08.2023 sobre o Litigio de Terras entre Piauí e Ceará. E deve acompanhar como anexo, como todas as contribuições dos participantes da audiência.

EM ARTESANIAS - DE VERÔNICA MIRANDA-www.veronicammiranda.com.br

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