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Quando vemos a
História e a cultura com clareza e compreensão aprendemos lições para o
nosso presente, para o aqui e agora. Para isso serve a História e suas
revisões, para que o ser humano possa se situar melhor no seu tempo presente
compreendendo e assimilando as "maravilhas e as mazelas" dessa existência e
da vida social e cultural, suas raízes, os processos humanos e culturais, o
que o forma e o que o deforma, o que o aproxima e o faz se separar de seus
congêneres. Para nos entender naquilo que somos às vezes precisamos entender
aquilo que teceu o tecido da sociedade e cultura em que vivemos. Podemos
viver muito tempo com idéias errôneas assentadas em preconceitos que se
cristalizam em nossas formas de viver.
Há um tempo atrás, em um dia à noite, eu e meu companheiro
convidamos á nossa casa um ex-colega de trabalho maranhense, antropólogo,
que estava passando temporada em Fortaleza. Depois de uma conversa e trocas
muito agradáveis, relembrando velhos tempos e vendo os atuais, ele teve que
se ir. E nesse momento percebemos o drama diário da vida de uma pessoa negra
em nossa sociedade. Ele uma pessoa com boa formação de nível superior, que
ocupou alguns cargos importantes e por nesse momento estar sem carro e já
ser um pouco depois da 10 horas p.m. ele pediu para que solicitássemos um
táxi. Nós comentamos: Você acha necessário? Há um ônibus muito bom que tem
um ponto aqui na praça em frente do prédio em que moramos. E ele respondeu:
Eu não posso fazer isso, porque eu sou negro e se a polícia passar nessa
hora pelo ponto de ônibus eu vou vivenciar o maior vexame. Eles vão me
revistar e podem me tratar muito mal por eu ser negro e estar em um ponto de
ônibus nessa hora. Eles pensam imediatamente que por eu ser negro eu sou
bandido.
Foi um comentário muito claro da situação dos negros em nossa
sociedade e que nos deixou imediatamente chocados. É uma realidade que só
sabe verdadeiramente quem a vive, assim como as mulheres, assim como os
indígenas ou povos de culturas diferentes que enfrentam um cotidiano em uma
cultura ainda, e apesar dos processos de miscigenação, hegemonicamente
branca, patriarcal, etnocêntrica e colonial.
E é por isso a necessidade de que a História tenha suas
várias vozes e várias percepções e que mostre as perspectivas diferentes e
as relações que são muito desiguais. Quando mobilizamos essas idéias através
da educação e cultura estamos construindo uma sociedade mais justa, mais
capaz de lidar com as diferenças e proporcionando a desconstrução de
preconceitos para relações mais apropriadas e mais próximas.
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